Ressurge a Herege

Ressurge a Herege

      O Duque ainda atordoado não podia crer que seu pior pesadelo estava bem na sua frente, desafiando-o com desdém, fazendo-o lembrar de um passado que por mais que tentasse não conseguia esquecer.

      — Você é patético Albert.... Um tolo romântico.... Onde está nosso filho? — Indagou com ironia.

      — Meu filho! Você não vai vê-lo.... Ele não é uma peça no tabuleiro desse seu jogo torpe.

      Como conseguiu voltar maldita?  Achei que como vendeu sua alma... arderia nas labaredas infernais pela eternidade.

      — Não que eu te deva satisfação.... Mas meu retorno aqui para lhe proporcionar momentos de tormento sem fim, me custou caro...

      — Nossa, que desinteressante...

      — Sempre tem algo relevante a dizer... não é Albert?  Guarde suas gracinhas para quem tem tempo para ouvi-las!   Como eu dizia... me tornei amante do Demônio Hazahell para quem vendi minha alma... e muito em breve ele me tornará sua Succubos.

      — Perdão... mas dei a entender que me importo?

      — Cale-se e escute!  Quando permitiu que essa tola se alimentasse de sangue humano você a profanou... e essa não foi a primeira vez, você também a maculou quando a reivindicou antes do casamento... foi impraticável para o luxurioso Sr. Drummond manter seu membro dentro das calças... isso criou um portal que tornou possível que eu voltasse, ocupando o corpo dela como instrumento... um jarro de alma.

      Eu prometi ao meu amante, que se ele permitisse minha visita, eu seria mensageira de muito sofrimento, e conseguiria mais almas para oferecer a ele, como tributo.

      Vê esse vestido que Wynnie está usando Albert... era o mesmo que eu usava quando arranquei o coração dela em sua existência anterior...

      — Me desfiz de todos vestidos que usou bruxa!  Toda a prostituta com quem já me deitei tem pelo menos um vestido seu!

      — Menos esse Sr. Drummond... uma fiel serva da noite precisa ser prevenida... ter mais de um truque escondido na manga... não é mesmo?   Esse vestido amaldiçoado estava aqui... escondido no castelo de Richard, em um baú, esquecido propositalmente em um dos muitos quartos, induzi sua querida Duquesa a achá-lo e vesti-lo, também a induzi a te pedir sangue.  Eu sabia que você daria um jeito atendê-la, de dar sangue a ela, de servi-la como um leal escravo e cá estou nobre Senhor...

      Você é extremamente previsível Albert... sempre tentando me provocar e me humilhar relatando suas aventuras luxuriosas com prostitutas... não perca o seu tempo.

      — Qualquer meretriz de rua, merece mais o meu respeito do que você herege imunda.

      — Maldito... amargará suas palavras...

      Não sei como essa tonta conseguiu te libertar da minha maldição... infelizmente minha magia não está totalmente a minha disposição e não tenho como te amaldiçoar novamente nesse momento, mas tem algo que posso fazer...

      Tessa estralou os dedos e os caninos de Albert despontaram.

      — O que pretende com isso vadia perversa?

      — Se não conseguir manter sua forma humana... não poderá resistir, irá mordê-la e sugar até a última gota de seu sangue. Você matará sua amada... bem como seus filhos mestiços em seu ventre.   Todo o sofrimento que Wynnie amargará, será sua culpa!

      — Você está louca se pensa que farei isso!

      — Deve estar se perguntando.... Por que eu mesma não faço isso?  Porque será muito mais divertido te forçar a isso meu bem....  Duque Albert Drummond... você fará o que eu quiser... quando eu quiser! — Respondeu a maléfica bruxa gargalhando diabolicamente.

      — Bruxa desalmada...

      — Onde está minha lira vampiro patético? Adoraria tocar um Réquiem em sua homenagem...

      — Eu a destruí... odiosa serva do demônio!  Você não pode mais me controlar!

      — Como ousa?  Eu ainda não quitei a dívida que contrai para obter esse objeto negro com meu Senhor Hazahell e você o destruiu? — Questionou incrédula.

      — Isso não é problema meu... vulgívaga infernal.

      — Talvez seja... se souberes o que prometi como pagamento!

      — E o que prometeu verme rastejante?

      — Hum.... Nada que me custe muito nobre Senhor....  Mas certamente custará a você...

      — Pare com seus jogos e me diga de uma vez o que negociou

em troca dessa maldita lira, meretriz imunda!

      — Eu vendi sua preciosa criança... Eduard!  Quando ele era menor, corria por todo o castelo brincando, me importunando, lembrando-me a todos os instantes sua rejeição Albert... meu único desejo era me livrar dele...  Mas como eu poderia fazer isso? Eduard sempre foi uma criança indesejada... tão inútil quanto você!  Então, ofertei sua alma a Hazahell, em troca da minha bela e preciosa lira... quando ele morrer, meu Senhor virá buscá-lo...

      — Sua voz me dá náuseas! Eu não acredito em você... de sua boca só saem mentiras!  Acha que sou idiota?  A alma de Eduard não lhe pertence, você não pode negociá-la!

      — Posso usar a voz da sua frágil mulherzinha... e quanto a verdades ou mentiras... se não acredita no que digo, porque não paga para ver?  Engravidei através da magia, então posso dispor da alma medíocre desse garoto da maneira que eu quiser!

      “Não... por favor... afaste-se de mim... meu Senhor... não me machuque... ” — Disse Tessa de forma sarcástica ironizando a rival apoderando-se de sua voz.

      — Meretriz maldita... — Esbravejou furioso.

      — Não me faça rir doce Wynnie, estou dentro de você, não pode esconder nada de mim, sei que desejou se entregar a Albert desde o primeiro instante que seus olhares se cruzaram, naquela taberna imunda onde trabalhava, todas as lembranças de suas vidas anteriores gritaram quando vocês se reencontraram...

      — Eu proíbo você de zombar dela!

      — Você não está em posição de proibir nada....  O quadro que você mandou pintar para homenageá-la devia se chamar “Vadia de Sangue”.  O meu quadro está abandonado em um porão sujo... e o da tonta, está sobre a lareira com honras!

      — Quem é você para chamar minha esposa de vadia?  Bruxa herege, amante e escrava de um demônio!

      Albert dominado pela ira, quebra uma garrafa de vinho vazia que estava sobre a cômoda e aponta a garrafa para Tessália de forma ameaçadora.

      — Eu devia atravessar o seu peito com essa garrafa. — Disse Albert com sangue nos olhos.

      Em resposta Tessa ri debochadamente.

      — Já estou morta Albert... se fizer isso não é a mim que irá ferir... é a sua amada Wynnie.

      — Maldita! — Gritou Albert enquanto jogava a garrafa quebrada contra a parede, sem esperanças ele cai de joelhos sobre o tapete.

      — O que afinal você quer de mim, víbora peçonhenta?  Quer

me enlouquecer? — Continuou a esbravejar Albert.

      Tessa que estava deitada, levanta e caminha em direção ao Duque olhando-o com desprezo.   Ela o toca no queixo erguendo-o até a altura de seus olhos teatralmente.

      — Eu poderia fazer isso... mas não vou! — E a herege finalmente o solta fazendo com que novamente ele caia de joelhos como se fosse sua marionete.

      O nobre vampiro estava perdido e não tinha a menor ideia do que poderia fazer para salvar sua família.

      — Que belo marido estou me saindo... não sou capaz de proteger minha mulher... se algo acontecer a ela ou a meus filhos... não me perdoarei jamais... — Pensou Albert começando a chorar beirando o desespero.

      Tessa percebe seu evidente descontrole, não perdendo a oportunidade para tripudiar com desdém.

      — Que tocante Sr. Drummond... está chorando?  Alguma vez chorou por mim?

      — Certamente Senhorita Badream... chorei de alegria quando você morreu!   Comemorei sua partida com muita satisfação durante três dias gloriosos em um prostíbulo, desfrutando de bebidas baratas, jogos de cartas e mulheres vulgares... foram dias memoráveis...

      — Vai pagar caro por sua ironia...

      — O que não me falta é dinheiro... e eu pagaria qualquer quantia para me ver livre de você... messalina demoníaca!

      — Desapareça Albert, suas lamurias me importunam!  Descansarei um pouco, enquanto imagino novas maneiras de te torturar!

      Albert sai de seus aposentos e vai verificar se a jovem Melody já acordou, já era tarde e não era seguro permanecer ali.  Em meio a tantos problemas, quase havia se esquecido dela.

      O Duque destranca e entra no quarto onde acomodou a enfermeira, cobrindo a boca com a gola de sua capa, escondendo os caninos protuberantes.

      — Senhorita Melody... já está acordada?  Está bem?

      — Sim... — Respondeu ela bocejando.

      — Ótimo!  Agora você deve ir... já anoiteceu.   Lhe avisarei assim que minha esposa estiver prestes a dar à luz.  Muito obrigado por aceitar o trabalho. — Disse Albert entregando um generoso adiantamento a Melody dentro de um envelope.

      — Que homem sedutor... — Pensava a jovem suspirando enquanto retornava ao vilarejo.

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