Os nomes que Dormem

Capítulo 3 – Os Nomes que Dormem

"Toda alma carrega um nome que ainda não aprendeu a dizer."

O fogo crepitava baixo, lançando sombras dançantes pelas paredes de madeira antiga. O cheiro de ervas queimadas misturava-se ao da noite úmida, como se a floresta inteira respirasse através da cabana.

Morguyanna mantinha as mãos firmes sobre o peito de Vycktor, sentindo seu pulso se estabilizar. Cada palavra do encantamento a drenava um pouco mais, mas ela não podia parar. A essência do veneno era antiga — feita para matar seres como ele. E quem a conhecia bem o suficiente para usar... certamente também a conhecia.

— Isso não é uma poção comum. — murmurou ela, mais para si mesma.

Viscenya sentou-se perto, mexendo em um grimório antigo que havia resgatado da estante sem pedir permissão.

— Ei, tem um símbolo aqui... igual ao do frasco que você tirou da bolsa. — ela apontou.

Morguyanna se virou lentamente. Aproximou-se. Seus olhos brilharam em amarelo por um instante ao ver o desenho: um lobo cercado por espinhos, com uma gota negra no centro.

— Esse símbolo não é só uma marca de veneno. — ela sussurrou. — É um aviso.

— Do quê? — perguntou Vis, franzindo o cenho.

— De que há algo em Vycktor que ninguém deveria despertar.

Ele abriu os olhos nesse instante, como se tivesse escutado. Estavam pesados, mas atentos.

— Despertar o quê?

Morguyanna hesitou.

Vis olhava para os dois como quem assiste a uma peça cujos atores ainda não sabem que estão no palco.

— Tem a ver com a profecia? — arriscou ela. — Aquela que você sussurrava quando delirava?

Vycktor ficou em silêncio. Seu olhar se voltou para a lareira, onde uma chama azul dançava solitária.

— Ela me atormenta desde que sou criança. — ele começou. — Sempre sonhei com uma voz dizendo que minha alma estava acorrentada a outra. Que eu deveria encontrá-la antes que o tempo terminasse. E, toda vez que chego perto... algo me puxa de volta.

— E por que acha que é ela? — perguntou Vis, apontando para Morguyanna.

Ele sorriu, fraco.

— Porque desde que a vi, meu lobo parou de uivar. Ele... escuta. Ele respeita o silêncio dela. Isso nunca aconteceu antes.

Morguyanna afastou-se um pouco, inquieta.

— Não pode ser eu.

— Por quê? — ele indagou, erguendo o corpo com esforço.

— Porque eu também escuto algo. Algo que não vem de você... mas que reage à sua presença. Como se... outra parte de mim acordasse.

Viscenya, sentada entre os dois, pigarreou.

— Olha, eu sei que sou a figurante nessa história mística de vocês, mas posso dar um palpite?

— Diga. — Morguyanna murmurou, ainda olhando para o fogo.

— E se vocês dois forem parte de um mesmo enigma... mas as respostas estiverem em outra pessoa?

Morguyanna e Vycktor se entreolharam. Era uma hipótese assustadora. Mas fazia sentido.

— Tipo... um elo entre vocês — continuou Vis. — Mas que não se completa se não encontrarem a peça central. Talvez a origem da maldição... ou da profecia. Talvez alguém que saiba os dois nomes que vocês ainda não disseram.

— Dois nomes? — questionou Morguyanna.

— O nome do seu lobo, Vycktor. E o nome da sombra dentro de você, Morg. Aquela que você tenta calar.

Silêncio.

A floresta pareceu prender a respiração.

Vycktor desviou o olhar, os dedos se fechando sobre o tecido da manta que o cobria. Ele sabia. No fundo, sempre soube. Mas nunca teve coragem de pronunciar aquele nome.

— Aelor. — sussurrou. — Esse é o nome que ecoa quando a fúria me toma. Quando não sou só eu.

Morguyanna sentiu um arrepio subir pela espinha. O nome dela... também estava ali. Na ponta da língua. Sempre esteve. Mas havia medo. E amor. E culpa.

— Nyxara. — ela disse, quase sem voz.

As chamas da lareira estalaram alto, como se confirmassem. O gato, Caos, arqueou o dorso e miou, irritado. A floresta sussurrou algo em uma língua antiga.

Viscenya caiu para trás, como se tivesse levado um choque.

— Vocês acabaram de acordar algo. Algo velho. Muito velho. — ela disse, com a voz trêmula. — Eu... vi coisas. Só por ouvir os nomes. Isso não é normal.

— Porque esses nomes são mais do que identidades. — respondeu Morguyanna. — São chaves.

— Chaves do quê? — insistiu Vis.

— Do fim... ou do começo.

A floresta voltou a se mover.

Uma coruja pousou na janela. Seus olhos brilharam em âmbar. Trazia um pedaço de pergaminho amarrado à pata.

Viscenya correu até ela, tirou o bilhete, e o abriu com dedos trêmulos. As palavras estavam escritas com sangue.

"Encontrem o Espelho Lunar. Antes que a Lua Mãe se curve ao Inverno."

O silêncio caiu pesado.

— E agora? — sussurrou Vis.

Morguyanna se ergueu, olhos incandescentes, a voz firme como aço antigo.

— Agora... a verdadeira história começa.

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Nyxara Lunna

Nyxara Lunna

amores comentem a opiniao de vcs

2025-04-09

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