...Lyan...
Às vezes, o acaso nos oferece momentos inusitados, aqueles que você não planeja, mas que acabam ficando na sua mente.
Naquela manhã de domingo, eu só queria relaxar um pouco na sacada e aproveitar o dia. Havia algo de reconfortante em acender um cigarro e deixar a brisa da manhã me acordar aos poucos. Os últimos dias tinham sido intensos, e com Renald organizando os detalhes dos contratos e eventos futuros, eu precisava de um momento para espairecer e reorganizar as ideias.
Fui para a sacada, sem camisa, apreciando a sensação do sol aquecendo minha pele. Fumar é um dos poucos vícios que mantenho, um tipo de ritual que me ajuda a relaxar antes de encarar o dia. Enquanto soltava a fumaça, deixei meus olhos vagarem pela vista do lugar e, instintivamente, olhei para o prédio B em frente. Foi então que a vi.
Ela tinha cabelo castanho e um olhar que transparecia surpresa e vergonha. Pela maneira como ficou imóvel ao me notar, percebi que não esperava ser vista. Havia algo curioso nela, algo que despertava minha atenção. Parecia como alguém que estava acostumada a observar, mas não a ser observada. E sua reação foi o bastante para me divertir.
Ela estava dançando, um pouco despreocupada, talvez tentando aproveitar sua manhã como eu. E, por um momento, tudo parecia natural, até ela perceber minha presença. Quando notou que eu estava ali, foi como se um alarme tivesse disparado. Seus movimentos pararam, seus olhos se arregalaram e, pelo jeito como seu rosto ficou vermelho, soube que a havia pego em um momento íntimo e descontraído.
Não consegui evitar sorrir. Não um sorriso debochado, mas um de surpresa e interesse. Ela era bonita, do tipo que não tenta chamar atenção, mas acaba conseguindo sem esforço. E havia algo intrigante em pegá-la fora de guarda. Quando ela recuou para dentro de seu apartamento, quase tropeçando nas cortinas, meu sorriso se alargou. Não sabia quem era, mas era claro que tínhamos alguém interessante morando do outro lado.
Apaguei o cigarro e entrei no apartamento, ainda rindo baixinho da situação. O clima leve que ela inadvertidamente trouxe me fez esquecer por um momento a agenda cheia e as expectativas dos outros. Caminhei pelo corredor e fui direto para a cozinha, onde encontrei Renald. Ele estava concentrado em seu laptop, como sempre. Havia algo reconfortante na rotina dele, sempre meticuloso e focado, enquanto eu era o oposto.
— Bom dia, Sr. Produtivo — brinquei, me sentando no balcão da cozinha. — Sabia que você precisa de mais sol e menos contratos, certo?
Renald ergueu os olhos por cima dos óculos, me lançando aquele olhar de “não me distraia agora”. Mas ele sabia que isso não ia me impedir.
— Algum dia, Lyan, você vai perceber que não podemos confiar apenas na sorte e em um rosto bonito — ele retrucou, voltando sua atenção para o laptop.
Ri de sua resposta. Renald e eu temos um jeito bem diferente de ver o mundo. Ele gosta de controle, de planejamento; eu gosto de viver o momento, de aproveitar as oportunidades que aparecem, como aquela cena inesperada da vizinha.
— Falando em rostos bonitos — comecei, tentando parecer casual —, você já percebeu nossa vizinha de cabelos castanhos do outro lado?
Renald levantou o olhar novamente, curioso dessa vez.
— Vizinha? Não lembro de ter visto ninguém que se encaixe nessa descrição. Por quê?
Dei de ombros, tentando manter o ar despreocupado.
— Vi ela dançando na sacada hoje de manhã. Acho que ela me viu também, e... bom, não foi exatamente a melhor reação. — Soltei uma risada baixa, lembrando da expressão dela. — Foi engraçado, sabe? Como se eu tivesse invadido o pequeno mundo dela.
Renald arqueou uma sobrancelha, e pude ver que ele estava processando a informação. Era típico dele querer entender tudo, até mesmo o que parecia irrelevante.
— E por que exatamente isso é importante? — ele perguntou, com uma ligeira suspeita.
— Não é importante, só curioso. Não custa nada saber quem são nossos vizinhos, certo?
Ele assentiu, embora não parecesse convencido. Sabia que Renald tinha outras prioridades na cabeça, especialmente com um novo contrato importante para discutirmos.
Passamos o resto da manhã analisando detalhes de um novo projeto que nos foi oferecido. Era uma proposta interessante para um vídeo adulto mais elaborado, com uma produção que exigiria um roteiro mais envolvente e cenários diferenciados. Não éramos apenas performers, éramos também uma marca, e nossa reputação dependia da qualidade do que fazíamos.
— Precisamos garantir que tudo esteja alinhado com o que prometemos. Essa produtora tem uma abordagem mais artística, e eu quero que isso se reflita no nosso trabalho. — Renald disse, concentrado.
Assenti, entendendo o que ele queria dizer. Enquanto eu era mais impulsivo, ele sempre pensava no longo prazo, na construção de uma carreira que pudesse durar, mesmo em um meio que, para muitos, parecia temporário. Era por isso que nossa parceria funcionava.
À noite, seguimos para o estúdio de gravação. Era um lugar bem montado, com equipamentos de última geração e uma equipe profissional. Trabalhar ali sempre me dava uma sensação estranha de pertencimento. Talvez fosse o ambiente organizado, a liberdade de saber que estávamos criando algo que fazia parte de quem éramos.
A equipe nos recebeu com cumprimentos formais e um roteiro impresso para cada um. O diretor, um cara magro de barba rala e boné surrado, nos explicou a cena e o clima que ele queria transmitir. Renald fez perguntas específicas, como sempre, garantindo que cada detalhe fosse coberto. Eu preferia entender o conceito geral e improvisar um pouco, mantendo a naturalidade.
— Tudo bem, vamos gravar uma cena mais descontraída, então mantenham o tom leve e relaxado — o diretor orientou, e eu concordei, sabendo que ele deixaria margem para a improvisação, o que era minha especialidade.
A gravação correu sem problemas. Era um trabalho técnico, mas também exigia uma química que, felizmente, Renald, eu e Priscila sempre conseguimos transmitir. Quando estávamos no set, nossa dinâmica fluía naturalmente. Talvez por conhecermos tão bem nossos limites e por nos completarmos de forma tão eficaz. Era uma coisa que poucas parcerias conseguiam.
Quando terminamos, já era madrugada, e o cansaço começava a bater. Renald ainda estava conferindo algumas coisas com o diretor, enquanto eu me espreguiçava, tentando aliviar o cansaço acumulado. Por mais que nosso trabalho fosse exaustivo, sempre havia uma sensação de realização ao fim do dia.
Na volta para o apartamento, ambos estávamos em silêncio, como se cada um estivesse refletindo sobre o que viria no dia seguinte. Para Renald, provavelmente eram detalhes do próximo projeto ou ajustes no planejamento estratégico. Para mim, minha mente vagava entre o cansaço do trabalho e a imagem daquela vizinha. Havia algo nela que prendia minha atenção, e eu sabia que isso não sairia da minha cabeça tão cedo.
Assim que chegamos no nosso espaço, me sentei sobre o sofá.
— Então, qual o plano para amanhã?
Renald suspirou levemente.
— Amanhã? Revisar o contrato e garantir que tudo esteja em ordem para o nosso show na boate. E talvez, só talvez, você possa se concentrar um pouco mais em não se distrair com vizinhas misteriosas.
Ri, balançando a cabeça. Ele tinha razão. Mas, para mim, a vida era feita dessas pequenas distrações que acabavam levando a grandes histórias.
— É normal eu desejá-la. — falei em tom de brincadeira.
— E qual mulher você não deseja? Seu pervertido. — Renald gargalhou.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Maria Cruz
Renald quando vc conhecer a vizinha tu tbm vai ficar pervertido igual Lyan kkkkk
2025-04-08
5
Maria Sena
Esse Renald parece o senhor certinho, mas acho que na hora H ele é um vulcão em erupção, capaz de deixar a mulher desnorteada.
2025-04-10
1
Iry Silva 🔖
Renald não jugues o Lyan, pois quando conhecer a vizinha vai ficar do mesmo jeito kkkkk
2025-04-10
1