Capítulo 5 - Destino ou Coincidência?

        .

A jovem Ivern decidiu que seria melhor voltar em segurança para o quarto que estava hospedada e que pensaria sobre tudo o que havia acontecido.

Os dias seguintes ao baile passaram como um borrão para Kya. Desde o momento em que Alexsander partiu às pressas para resolver o problema dos inimigos infiltrados, ela não conseguia tirar sua imagem da cabeça. Aquela última troca de olhares, o tom de sua voz carregado de uma promessa silenciosa, o arrepio que percorreu sua pele ao ouvir suas palavras e o quase beijo… Tudo isso a fazia questionar o que estava acontecendo entre eles.

Mas ela também sabia que não havia espaço para fantasias. Ele era um duque, o líder militar mais poderoso do reino, descendente da linhagem dos dragões. Ela era apenas uma plebeia, sem títulos, sem posição, nada que fosse atraente para alguém tão poderoso. Não importava o que sentia, pois o mundo deles era cruelmente dividido por status e obrigações. Fora que ela havia deixado a vida com seus pais para viver a sua própria vida como adulta.

Naquela manhã de quinta feira, enquanto ajudava na pequena loja de ervas de sua amiga Margot no vilarejo do lado da capital, uma movimentação incomum tomou conta das ruas de Eira. Soldados marchavam em formação, e o brasão de Cadman brilhava em seus mantos. O coração de Kya disparou.

— O que está acontecendo? — ela perguntou a um dos clientes que observava pela janela.

— O duque retornou da batalha — o homem respondeu, animado. — Dizem que ele venceu os infiltrados que entraram na capital e acabaram se refugiando em vilarejos próximos, usou de uma estratégia brilhante. O rei o convocou para a capital assim que derrotou o último grupo no vilarejo ao lado, mas antes disso, ele escolheu passar aqui, no caminho para o castelo.

Assim, muitos foram saindo de suas casas e comércios, Kya sentiu um misto de alívio e apreensão, seguindo a todos. Ele estava bem. Mas por que pararia em um vilarejo tão simples como o dela? A resposta veio mais rápido do que esperava.

As trombetas soaram na praça central, e os soldados abriram espaço enquanto Alexsander surgia à frente, montado em um imponente cavalo negro. Sujo de poeira da estrada, mas ainda tão imponente quanto no baile, seus olhos verdes varreram a multidão… até que acabou encontrando-a.

Por um momento, tudo pareceu congelar. O murmúrio das pessoas ao redor, o trotar dos cavalos, o vento que agitava as bandeiras… Nada mais importava além daquele olhar. Então, para espanto de todos, o duque Cadman saltou do cavalo e caminhou em sua direção.

Kya prendeu a respiração.

— Olá Kya — Um sorriso de lado surgiu ao pronunciar o nome dela.

— Vossa Graça — Ela curvou-se levemente, sentindo vários olhares para si.

— Eu disse que queria continuar nossa conversa — ele disse, sua voz firme, mas com um toque de suavidade que poucos teriam o privilégio de ouvir.

Os cochichos começaram ao redor. “Uma plebeia? Por que o duque estaria interessado nela?” Mas Kya ignorou tudo, focando-se apenas nele.

— Achei que teria coisas mais importantes a fazer — ela respondeu, desafiando-o com um pequeno sorriso.

Ele também sorriu, aquela covinha discreta aparecendo no canto da boca, era um charme que deixaria todas as mulheres próximas completamente desnorteadas.

— Talvez você seja mais importante do que imagina.

O mundo de Kya virou de cabeça para baixo naquele instante. Suas pernas perderam parte da força, e o barulho das conversas ao redor pareceu distante. O olhar firme de Alexsander a prendeu no lugar por um momento, antes que ele gentilmente guiasse sua mão e a conduzisse para longe da multidão.

Com um único aceno para seus guardas, os homens entenderam a ordem silenciosa e impediram que outras pessoas os seguissem. Ele a levou para um local mais tranquilo, sob a sombra de uma árvore robusta. Ali, o burburinho se tornava menos opressor, e apenas o farfalhar das folhas acompanhava a conversa.

O duque continha em seus olhos o brilho de uma curiosidade intensa.

— Realmente estou intrigado com o fato de nos encontrarmos em momentos e lugares tão improváveis. — Sua voz era baixa, mas carregada de um magnetismo inegável.

Kya respirou fundo, tentando organizar os próprios pensamentos.

— Eu estaria mentindo se dissesse que também não estou surpresa — admitiu. — Há tantas pessoas, tantos lugares para ir… e, ainda assim, estamos frente a frente mais uma vez.

Ele assentiu, como se suas palavras apenas confirmassem algo que ele já suspeitava.

— Coincidências não costumam me impressionar, senhorita Ivern — murmurou, estreitando os olhos ligeiramente. — Mas algo me diz que isso não é uma simples coincidência.

O tom dele fez um arrepio percorrer a espinha dela. O duque Cadman não era um homem ingênuo. Sua postura, sua presença, tudo nele gritava que era alguém acostumado a desconfiar de tudo e de todos. Então, por que ele parecia disposto a confiar nela?

Alexsander deu um passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre eles. Seu olhar nunca vacilou.

— Há uma guerra acontecendo — ele disse, a voz ficando mais grave. — Mas não se trata apenas de espadas e batalhas. Há intrigas na corte, traições escondidas atrás de sorrisos falsos. Eu não posso confiar em muitos.

Ele hesitou por um instante, como se ponderasse sobre a próxima confissão.

— Mas por algum motivo, sinto que posso confiar em você — admitiu, seu olhar estudando cada reação dela. — E o que me incomoda é que não sei explicar o porquê.

O coração de Kya martelava no peito. Aquilo não era algo que se dizia levianamente. Um homem como Alexsander Cadman, com sua reputação e poder, não fazia confissões como aquela sem um bom motivo.

Ela desviou o olhar por um momento, tentando ignorar o calor que subiu pelo seu rosto.

— Eu não sou ninguém para que confie assim, Vossa Graça— sussurrou.

— E, no entanto, eu confio — ele respondeu, sem hesitação.

O olhar dele queimava como brasas, e Kya sentiu algo estranho dentro de si. Uma conexão que não sabia nomear, uma força que parecia arrastá-la para algo muito maior do que podia compreender.

O silêncio que se instalou entre os dois foi carregado de algo intenso. O vento soprou de leve, fazendo os cabelos soltos dela dançarem, e o duque observou aquele pequeno detalhe com uma expressão que beirava o fascínio.

— Infelizmente, não poderei me demorar — ele disse, quebrando o silêncio. Seu tom agora era mais contido, como se detestasse admitir aquilo. — Preciso partir para um encontro com o rei.

Kya apenas assentiu, sem saber o que responder.

— Mas isso não acaba aqui — ele continuou, seus olhos fixos nos dela. — Se me permitir… quero voltar a vê-la.

Havia algo na forma como ele disse aquilo, um peso em suas palavras que fez o coração dela pular no peito.

— Eu… — Ela hesitou por um segundo. Depois, respirou fundo e assentiu. — Eu gostaria disso.

A sombra de um sorriso brincou nos lábios de Alexsander, com a covinha evidente outra vez.

— Então, que assim seja.

Ele segurou a mão dela por um instante, seus dedos quentes contrastando com a pele fria de Kya. O toque foi breve, mas carregado de um significado silencioso. Quando finalmente a soltou, seu olhar permaneceu sobre ela por mais um momento, intenso e indecifrável.

Sem pensar muito, movida por um impulso genuíno, Kya deu um passo à frente e o envolveu em um abraço. Por um instante, temeu que ele recuasse, mas, para sua surpresa, Alexsander permaneceu ali, imóvel, antes de relaxar ligeiramente sob o gesto inesperado.

A jovem Ivern sentiu o peso do traje contra si, o calor dele atravessando as camadas de tecido e metal. E, naquele breve momento, encontrou um estranho conforto ali, como se pertencesse àquele lugar — como se estivesse exatamente onde deveria estar.

Nenhum dos dois falou. Apenas permaneceram assim por alguns segundos a mais do que o necessário.

Por fim, Kya se afastou devagar, seus olhos encontrando os dele mais uma vez.

Alexsander a observou por um instante, como se quisesse dizer algo, mas, apenas assentiu.

— Até breve.

Então, sem hesitação, voltou até próximo de seus soldados, montou em seu cavalo com facilidade, seus movimentos fluidos e precisos, os músculos tensos como os de um guerreiro prestes a encarar o desconhecido. Sua escolta se posicionou ao redor, e, já preparado para partir, ele virou-se para olhá-la uma última vez.

O vento soprou entre eles, carregando consigo algo não dito.

E então, com um comando firme, puxou as rédeas e galopou para fora do vilarejo, desaparecendo na estrada rumo à capital.

Kya permaneceu ali, os braços ainda envolvendo a si mesma como se tentasse guardar o calor daquele momento. O vazio repentino deixado pela presença dele era palpável, como se o mundo tivesse perdido um pouco de sua cor no instante em que o duque se afastou.

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Yajaira Gaona

Yajaira Gaona

Meu novo vício.

2025-04-05

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