Capítulo 4 - O Duque dos Olhos Verdes

     .

Quando finalmente pararam em uma área mais isolada, onde apenas a brisa fresca da noite os acompanhava, Alexsander cruzou os braços e a observou. Seus olhos analisavam cada detalhe dela, como se tentasse desvendar algum enigma antigo.

— Como você se chama? — Era a primeira dúvida do duque.

— Eu… me chamo Kya, Kya Ivern.

— Muito bem. Há algo em você que me intriga e muito — ele continuou, sua voz mesmo baixa, se manteve firme. — Desde nosso primeiro encontro, sinto que já a conheço. Tem algo a me dizer sobre?

Kya prendeu a respiração. Poderia contar a verdade? Que sonhava com ele há anos? Que sua presença não era estranha, mas sim reconfortante? Que o via nas sombras de sua mente muito antes de seus caminhos se cruzarem no mundo real?

Ela umedeceu os lábios, hesitante. Mas antes que pudesse responder, Alexsander inclinou a cabeça levemente, avaliando sua expressão com ainda mais interesse.

— Você ia dizer algo — ele observou. — Não precisa temer, Kya.

O modo como ele disse seu nome fez um arrepio percorrer sua espinha. Parecia que ele o saboreava, como se quisesse memorizá-lo.

Ela sorriu, desviando o olhar por um instante.

— É difícil explicar... mas talvez seja algo do destino.

Alexsander ergueu uma sobrancelha, o leve sorriso ainda presente no canto dos lábios.

— Acredita no destino?

Kya soltou um riso baixo.

— E você, duque?

— Já vi coisas demais para não acreditar em forças que não compreendemos completamente — ele admitiu, os olhos fixos nela, estendendo sua mão para tocar as dela. — E você é uma delas.

Ela engoliu em seco. O calor que subiu por seu peito não tinha nada a ver com as fogueiras do festival.

Antes que pudesse continuar a conversa, a música que tocava no salão chegou ao fim. Alexsander soltou sua mão com delicadeza, mas seus dedos demoraram um segundo a mais do que o necessário para se afastarem.

— Aceitaria um pouco mais de ar fresco? Claro, se estiver tudo bem nos afastarmos um pouco mais do barulho da festa. — ele ofereceu, indicando um caminho em direção à um jardim do castelo.

Kya assentiu, sentindo seu coração acelerar novamente.

A noite estava fria e o céu limpo, repleto de estrelas que se cintilavam sobre o reino. Do pequeno campo de flores no jardim, era possível ver as luzes da vila ao longe, pequenas e tremeluzentes. O silêncio ali era um alívio após o burburinho e os olhares curiosos dos nobres enquanto dançavam.

Alexsander apoiou-se em um banco de pedra e olhou para o horizonte.

— Você não parece pertencer a esta capital — ele disse após um momento.

Kya sorriu de leve.

— Porque eu realmente não pertenço. Venho de um vilarejo próximo, meus pais são pequenos mercadores. Eu vim apenas fazer algumas entregas para eles.

Ele virou-se para encará-la. Seus olhos verdes estavam mais intensos sob a luz da lua, avaliando cada palavra que saía dos lábios dela.

— Apenas você — ele repetiu, como se testasse as palavras. — E ainda assim, há algo que me faz querer entender mais. Tem certeza que não nos encontramos em algum outro momento, que não fosse ontem?

O coração de Kya apertou-se. O destino os havia conectado de alguma forma, mas ela ainda não sabia o porquê. E como explicar a ele? Pareceria uma interesseira ou que só queria ganhar vantagem em cima dele se contasse a verdade.

— Talvez tenhamos — ela disse, sua voz saindo quase num sussurro.

Os olhos de Alexsander brilharam com curiosidade.

— Então por que tenho a sensação de que, se eu tentar descobrir mais sobre você, terei mais perguntas do que respostas?

Kya riu suavemente.

— Talvez porque sou um mistério, Sua Graça.

Ele sorriu de lado, aproximando-se um pouco mais.

— Ah, e você gosta de ser um mistério?

Ela sustentou seu olhar.

— Gosto de ver quem tem coragem de tentar me desvendar.

Os olhos de Alexsander percorreram cada detalhe do rosto dela antes que ele respondesse.

— Parece um desafio.

— E você gosta de desafios?

— Só dos que valem a pena.

O silêncio se prolongou entre eles, denso e carregado de algo inominável. Kya sentiu seu coração batendo forte, sua respiração entrecortada. Alexsander não desviava o olhar, como se quisesse provar do sabor que seriam os lábios dela, tocando-lhe o queixo. Havia algo predatório em sua expressão, algo que parecia um rei analisando uma peça rara, preciosa.

Antes que qualquer um deles pudesse dar mais um movimento adiante, passos apressados ecoaram atrás deles. Um soldado da guarda real surgiu no jardim, ofegante.

— Sua Graça, há uma mensagem urgente do rei. Um ataque de inimigos na entrada sul da capital. Precisamos ir imediatamente.

Os olhos de Alexsander endureceram. O guerreiro dentro dele assumiu o controle, e a ternura daquele momento desapareceu em um instante.

Ele se afastou, erguendo o queixo para onde o guarda situava-se.

— Qual é a gravidade?

— Relatórios indicam que há movimentação de muitos inimigos do reino vizinho que se infiltraram. O rei exige sua presença à frente do comando imediatamente para detê-los.

Alexsander fechou os olhos por um breve segundo, como se absorvesse a responsabilidade que recaía sobre seus ombros. Quando os abriu novamente, voltou-se para Kya, sua expressão indecifrável.

— Parece que o dever me chama — ele disse, a voz voltando a ser a de um comandante.

Kya apenas assentiu, embora um sentimento estranho de preocupação se instalasse em seu peito.

— Mas espero que possamos continuar essa conversa em breve — ele acrescentou, uma intensidade voltando a queimar em seus olhos.

Ela forçou um sorriso, tentando ignorar a inquietação dentro de si.

— Espero que sim.

Alexsander hesitou por um momento. Então, em um gesto inesperado, ele ergueu a mão e tocou suavemente a lateral do rosto dela, o polegar roçando de leve sua pele. Foi um toque breve em sua bochecha, mas carregado de algo profundo. Algo que a fez prender a respiração.

E então, sem mais uma palavra, ele se virou e desapareceu pelo corredor da lateral.

Kya permaneceu ali, seu coração batendo tão forte que parecia ecoar pelo castelo. Aquele encontro com Alexsander foi muito mais do que imaginava que conseguiria interagir com ele. E no fundo, estava feliz. Por ao menos sentir o calor de seu toque, mesmo que brevemente.

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