Capítulo 3 - O Festival do Reino

Com a escolha de um belo vestido para ir, a um precinho bem acessível, Kya terminou de realizar as entregas que precisava fazer naquele dia e adiantou-se a chegar em um estabelecimento o mais próximo do castelo que ficava ao norte. Dava pra ver a empolgação de todos com a notícia do festival.

Quando Kya chegou aos portões do grande pátio do castelo, sentiu um pouco de frio, mas nada que fosse lhe atrapalhar. Poderia até ser nervosismo e as expectativas gritando que aquela noite seria especial. As tochas iluminavam a entrada com uma luz radiante, refletindo-se nas armaduras dos guardas que mantinham a ordem. Nunca imaginaria que um dia pisaria em um evento em que a nobreza estivesse também no mesmo recinto. Apesar que, havia uma espécie de área vip, que os separava de toda a população, lhes deixando próximos da família real que cumprimentava os marqueses, condes, viscondes e barões que chegavam. Até a multidão se afastava para deixá-los atravessar o local  tranquilamente.

Em seu traje simples, mas elegante, num azul profundo como o céu noturno, e com os cabelos curtos que estavam presos de forma delicada, contendo pequenos fios soltos que emolduravam seu rosto. Kya que mesmo sem joias e adornos típicos das damas nobres, tinha uma presença que era bem marcante entre a população que se já se divertia por ali.

O festival tinha um som animado dos músicos que ecoavam pelo pátio, e dançarinos giravam ao ritmo das canções. Muitas barracas de comidas típicas estavam espalhadas pelo lugar, oferecendo iguarias de todas as partes do reino, desde milho assado na brasa até refeições mais elaboradas. O aroma de carnes assadas e especiarias se misturava ao ar gelado da noite, criando uma atmosfera amplamente acolhedora.

No centro do pátio, acrobatas exibiam suas habilidades com piruetas e saltos impressionantes, arrancando aplausos entusiasmados da multidão. Seus trajes vibrantes refletiam o brilho das tochas, e a destreza com que desafiavam a gravidade deixava todos maravilhados. Perto dali, crianças gargalhavam ao redor de um contador de histórias que, com gestos teatrais e uma voz profunda e envolvente, narrava antigas lendas do reino — histórias de dragões, cavaleiros e amores impossíveis que despertavam o fascínio até mesmo dos adultos que se aproximavam para ouvir. O brilho das fogueiras e lanternas mágicas flutuantes criava um espetáculo de luzes pelo ambiente, fazendo com que sombras dançassem nas paredes do castelo e conferindo ao festival um ar quase etéreo, como se aquela noite pertencesse a um tempo fora da realidade, onde tudo parecia possível.

Mas nada disso prendeu sua atenção tanto quanto a figura imponente que se destacava perto de uma das escadarias principais do palácio entre os importantes figurões que conversavam com ele.

Alexsander Cadman.

Vestia um traje escuro, com detalhes prateados que realçavam sua postura de líder e um broche também prata da casa Cadman na lateral esquerda de sua indumentária. A capa vermelha caía sobre seus ombros como um manto de autoridade, e sua expressão permanecia impassível, como se nada ao redor o afetasse. Os olhos verdes percorriam o ambiente com atenção calculada, como um predador observando sua presa, analisando cada detalhe, cada pessoa ao seu redor. Havia algo nele que fazia as pessoas terem profundo respeito e cautela.

Ele não parecia alguém que se divertia em festivais. Seu corpo permanecia rígido, como se a mera ideia de relaxar naquele ambiente fosse um desperdício de tempo. Estava ali por obrigação, como representante do ducado Cadman, e seu semblante transmitia exatamente isso, por mais que tentassem conversar variados assuntos. No entanto, mesmo com toda a sua aura de seriedade e poder contido, ele era impossível de ignorar quando vinham ao seu encontro.

Kya sentiu seu coração acelerar, um misto de ansiedade e emoção crescendo em seu peito. A lembrança do último encontro ainda era vívida em sua mente, como uma brasa que nunca se apagou. Ele a havia olhado com curiosidade naquela vez, mas será que a reconheceria agora? Será que lembraria da mulher que tanto o admirava, mesmo sem compreender o motivo desse fascínio?

Seus dedos apertaram levemente o tecido de seu vestido, e por um instante, ela hesitou. Mas uma certeza crescia dentro dela, era aquele homem que vinha lhe acalmando e lhe protegendo em seus sonhos.

Decidindo que não poderia simplesmente ficar parada, ela avançou pelo pátio, tentando se aproximar ao máximo da faixa e guardas que separavam as classes, desviando-se das pessoas que riam e conversavam. Seus olhos permaneceram fixos nele, e quando finalmente ficou a poucos passos de distância da entrada com os guardas em prontidão para caso algum penetra entrasse, Alexsander ergueu o olhar da conversa que tinha e a viu.

O tempo pareceu parar.

Os olhos verdes se estreitaram ligeiramente, como se tentasse recordar de onde a conhecia. Então, uma expressão quase imperceptível de surpresa cruzou seu rosto. Kya sentiu a respiração falhar. Logo, o duque finaliza sua conversa e se aproxima de onde ela está.

— Senhor? — Um dos guardas tenta falar algo. Porém ele faz um sinal para que a deixe entrar no ambiente. E assim, Kya consegue entrar no espaço onde os nobres localizam-se.

— Nos encontramos novamente — disse ela, tentando manter a compostura diante dele.

Alexsander inclinou levemente a cabeça, um meio sorriso surgindo no canto de seus lábios.

— Parece que sim. — Sua voz era baixa, mas carregada de interesse.

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, um dos mestres de cerimônia do festival subiu em um ponto alto da escadaria e anunciou o início das danças. Casais começaram a se formar, girando ao som dos tambores e alaúdes, e, para sua surpresa, o duque Cadman estendeu a mão para ela.

— Aceitaria esta dança? — perguntou, seus olhos mantendo os dela presos como se fossem ímãs.

Kya hesitou por um instante. Não pertencia àquele mundo. Mas, ao olhar para Alexsander, sentiu que talvez, só naquela noite, pudesse ser parte dele.

Ela aceitou sua mão, e quando os dedos se tocaram, uma onda de calor percorreu seu corpo. Não era apenas o toque de um homem comum. Era o toque de alguém que, de alguma forma, sempre esteve ligado a ela. O que chamou a atenção de muitos que dançavam sob as luzes douradas do festival, era que pela primeira vez o duque dançava com alguém. Ele até então não aceitava o convite de nenhuma moça para tal ato, e com Kya, sem hesitar, mostrou-se disposto a fazer isso.

Quando a música terminou, Alexsander ainda segurava sua mão, os olhos fixos nela com um misto de curiosidade e algo mais profundo, indizível. A atmosfera ao redor estava carregada de murmúrios. Muitos olhavam para eles com grande surpresa. Começaram a se questionar por quê um duque dançava com uma mulher do povo, por ser algo incomum.

— Você dança bem. — ele comentou, a voz baixa e levemente rouca.

Kya sorriu, tentando conter o rubor nas bochechas.

— Acho que é o encanto da música. Ou talvez da companhia.

Ele arqueou a sobrancelha, mas não respondeu. Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, um grupo de artistas soltou fogos de artifício, colorindo o céu com faíscas douradas. O espetáculo fez com que Kya olhasse para cima, maravilhada. Alexsander, no entanto, continuou olhando para ela.

— Me acompanhe. — disse ele, subitamente.

— Para onde? — perguntou, confusa.

Ele não respondeu imediatamente, apenas a guiou para um canto mais afastado do festival, onde a multidão não era tão densa. Seu olhar se tornou mais sério.

— Precisamos conversar. Há algo que preciso entender sobre você.

O coração de Kya disparou. Mas decidiu segui-lo, para que assim suas dúvidas também fossem sanadas.

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