Lorena Moreu
Lorena Moreau
( Jacqueline Bracamontes)
A tarde começava a cair quando cheguei em casa. O céu tingia-se de um tom alaranjado melancólico, enquanto o ar parecia mais denso do que o habitual, como algo muito ruim e transformador estava prestes a acontecer. Mal coloquei os pés no hall quando minha mãe apareceu no topo da escada, com o rosto mais tenso do que eu já havia visto. Havia algo estranho em seus olhos — uma mistura de angústia e compaixão. Ela desceu os degraus em silêncio, os passos suaves quase sem som, e então parou diante de mim.
— Lorena... seu pai está te esperando no escritório. Ele quer falar com você.
A voz dela tremia, e algo no modo como pronunciou “falar com você” me arrepiou. Havia um peso, uma hesitação incomum. Meus olhos se estreitaram, e o coração começou a bater um pouco mais forte.
— Mamãe, está acontecendo alguma coisa? Tem algo que a senhora queira me dizer antes que eu entre naquele escritório? — perguntei, sentindo um frio correr pela espinha.
Ela não respondeu de imediato. Respirou fundo, aproximou-se e me envolveu num abraço apertado, desses que a gente só recebe quando algo está prestes a mudar para sempre.
— Minha querida... você sabe que eu te amo muito, não sabe? — disse ela, segurando meu rosto entre as mãos.
— Claro que sei, mamãe... — minha voz saiu mais frágil do que eu gostaria. — O que está acontecendo?
Ela hesitou. Os olhos se encheram de lágrimas que ela não deixou cair.
— Você vai precisar ser muito forte, filha. O que seu pai tem a dizer não é fácil de ouvir. Eu, no começo, fui contra... mas ele acredita que é o melhor para você. Para todos nós. Agora vá. Enfrente-o com coragem. — E, dizendo isso, me conduziu até a porta do escritório.
Bateu duas vezes, com firmeza, mas sem força. Do outro lado, a voz grave do meu pai respondeu:
— Entre.
Minha mãe me lançou um último olhar. Havia uma dor silenciosa em seus olhos, um pedido de perdão que ela não ousava verbalizar.
— Estarei no seu quarto esperando por você. Vai precisar de mim depois dessa conversa.
Minhas mãos estavam geladas quando toquei a maçaneta. O coração batia forte, acelerado, como se soubesse que, ao atravessar aquela porta, minha vida nunca mais seria a mesma.
O escritório do meu pai sempre teve uma aura austera e poderosa. Era um cômodo amplo, com janelas altas cobertas por cortinas pesadas em vinho escuro. As paredes eram revestidas em madeira escura polida, e estantes repletas de livros antigos formavam uma muralha intelectual. Uma lareira fria, mas imponente, ocupava a parede oposta à enorme mesa de mogno, onde ele costumava comandar sua pequena fortuna e seus negócios com olhar firme e mão implacável. O ar ali sempre parecia mais espesso, carregado de autoridade, como se cada móvel guardasse um segredo da nossa família.
Meu pai estava sentado em sua cadeira de couro, olhando fixamente para um porta-retratos. Quando me viu, sorriu... mas foi um sorriso triste, breve, que morreu em seus lábios.
— Sente-se, minha vida — disse ele, apontando para a poltrona à frente da mesa.
Me acomodei devagar, o estofado macio não trazia conforto naquele momento.
— Papai mandou me chamar? Mamãe... parecia tão estranha... tão... nervosa.
Ele respirou fundo e cruzou os dedos sobre a mesa.
— Sua mãe anda muito tensa ultimamente, sim. Mas não é sobre ela que quero falar com você, e sim sobre o seu futuro.
— Meu futuro? Papai, com todo o respeito, eu já tenho planos para o meu futuro. Me formei, estou empregada no Atelier D’Luca, e Cristina e eu já começamos a estruturar nosso próprio estúdio. Não há o que o senhor precise decidir por mim.
Ele me observou por um tempo, como se analisasse não apenas minhas palavras, mas cada traço do meu rosto. E então, com uma expressão de culpa, deixou a verdade cair como uma bomba:
— Você vai se casar, Lorena.
Por um segundo, pensei ter ouvido errado. Pisquei algumas vezes e, involuntariamente, soltei uma risada nervosa.
— Sério, papai? Como isso seria possível se eu nem namoro? É uma piada?
— Vai se casar com Christopher Velasquez, CEO do grupo Velasquez. Fiz um acordo com o pai dele. Você e Christopher irão se noivar e o casamento acontecerá o mais rápido possível.
Meu sorriso morreu ali, no mesmo instante. Meu sangue gelou.
— O quê?! Isso é um absurdo! Eu não vou me casar!
Ele se levantou lentamente e deu a volta na mesa, parando à minha frente.
— Vai se casar, sim. Vai se casar e vai dar um herdeiro à família Velasquez. É o acordo.
As palavras da minha mãe começaram a fazer sentido. A dor, o silêncio, os olhos úmidos... tudo era real.
— Papai... isso não é uma brincadeira?
— Não. Infelizmente, não. A empresa está à beira da falência. Fiz investimentos ruins. Perdi tudo. Rubens Velasquez fez uma proposta: ele compraria a empresa por um valor acima do mercado, desde que você se casasse com o filho dele.
Levei as mãos à boca. Meus olhos se encheram de lágrimas.
— Papai... como pôde fazer isso comigo? Me vender?
— Eu sinto muito, minha vida. Isso está me matando. Mas era isso ou perdemos tudo. E você é forte, é corajosa. Vai dar conta.
— O senhor não me deu escolha. Me condenou!
Ele tentou me abraçar. Por um instante, cedi. Senti sua dor, sua fraqueza, sua culpa.
— Não pense que foi fácil. Mas um dia, quando estiver mais madura, vai entender.
— Mas, papai...
— Já está decidido, Lorena. Em breve, você será a senhora Velasquez.
Me levantei bruscamente. A raiva queimava em mim. Saí dali batendo a porta, a madeira reverberando meu desespero por todo o corredor.
Subi as escadas correndo, as lágrimas turvando minha visão. Quando entrei no meu quarto, encontrei a mamãe sentada na beirada da minha cama.
Diferente do escritório escuro, meu quarto era um refúgio claro e delicado. As paredes em tom lavanda transmitiam calma, decoradas com quadros feitos por mim mesma. Almofadas fofas cobriam a cama de dossel com lençóis brancos e rendados. Na escrivaninha, desenhos e croquis que antes sonhavam com liberdade... agora pareciam prisioneiros como eu.
Mamãe abriu os braços. Me joguei neles.
— Minha filha querida... me perdoa.
— Mamãe, ele me vendeu! Me vendeu para um homem que nem conheço!
— Eu sei... sei que dói. Mas Christopher é um bom partido. E não, ele não está mais com aquela moça da família importante. Terminaram. Foi por isso que seu pai agiu tão rápido.
— E ele... ele concorda com isso?
— O pai dele já acertou tudo. Se o casamento não acontecer, o negócio também não acontece. E nós... ficaremos sem nada.
Me afastei, furiosa.
— Isso é um absurdo! Eu não vou ficar presa a um homem só porque ele é rico! Se ele me proibir de trabalhar, eu juro que transformo a vida dele em um inferno! Não passei anos me matando para virar esposa troféu!
— Calma, filha... talvez, se souber lidar com ele... com jeitinho... consiga até abrir seu próprio Atelier...
— O mínimo! — interrompi. — O mínimo que ele poderia fazer por mim! Aposto que ele deve ter um monte de amantes!
— Lorena! — ela me repreendeu, mas com pouca convicção.
— Mamãe, vocês são inacreditáveis. Eu me recuso a aceitar esse destino.
— Não há mais o que fazer, filha. Amanhã me reunirei com sua futura sogra para definirmos a data do noivado. Prepare-se. E, por favor, tenta ver o lado bom. Ele é bonito... rico...
— Eu vou dar um jeito nisso, mamãe. Podem escrever. Vou arrumar uma forma de sair dessa... ou não me chamo Lorena Moreau.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 66
Comments
Claudia
Querida melhor não pensar muito a Família do seu noivo no momento é muito poderosa e pode destruir vocês rapidinho e sim é uma situação bem complicada e sua ira é compreensível 🧿♾
2025-04-15
1
Arminda Celebrini
EITA LORENA FICOU PUTONA COM SEUS PAIS. MAS VAI TER QUE CASAR
2025-04-02
1
Arminda Celebrini
É A MÃE SENDO MÃE 😘😘😘😘😘
2025-04-02
1