Christopher Velasquez
Christopher Velasquez
(William Levy)
O céu nublado de outono pendia sobre a cidade como um cobertor cinzento e pesado. A brisa fria cortava as ruas com certa melancolia, como se anunciasse algo inevitável prestes a acontecer. O silêncio do meu carro era preenchido apenas pelo som constante do motor e o leve tic-tac do piscar das setas enquanto estacionava diante dos imponentes portões de ferro da mansão dos meus pais.
A casa onde cresci — uma verdadeira fortaleza em meio aos jardins simétricos e fontes elegantes — parecia hoje mais sombria do que de costume. As janelas altas e as paredes de pedra davam ao lugar um ar de tribunal prestes a julgar um crime imperdoável. E, talvez, de certa forma, fosse exatamente isso.
Soltei um longo suspiro antes de sair do carro, endireitei o paletó e caminhei lentamente até a grande porta de madeira entalhada. Eu sabia o que me esperava. Meu pai, com sua voz grave e seu olhar que atravessa a alma, queria respostas. E, por mais que eu as tivesse, não sabia se ele estava disposto a dizer- lhe.
Entrei no salão e fui recebido por Hilda, a governanta, com um olhar tenso e preocupado.
— Seu pai está esperando no escritório, senhor Christopher.
Assenti com um leve sorriso, sem conseguir disfarçar a tensão. Caminhei pelos corredores decorados com quadros de família e tapetes persas. Cada passo ecoava como um aviso, como se a casa inteira estivesse tentando me preparar para o que viria. Ao abrir a porta do escritório, fui engolido por um ambiente denso, cheio do aroma de couro, madeira e... raiva contida.
— Bom dia, papai — tentei manter a leveza na voz, mas ele nem sequer levantou os olhos do jornal que apertava entre os dedos como se fosse uma arma prestes a ser disparada. — O que fez o senhor mandar me chamar aqui com tanta pressa?
Ele ergueu o olhar e, num rompante, lançou o jornal sobre a mesa com força. O estalo foi seco, cortante.
— Será que você pode me explicar que merda é essa?
Respirei fundo, mantendo a calma que eu treinei por anos em reuniões de negócios difíceis.
— Patrícia e eu terminamos o nosso relacionamento. Está tudo muito bem explicado aí. — Fiz um gesto discreto para o jornal, como se o impresso pudesse suavizar a tempestade que se armava diante de mim.
Mas era em vão. O olhar dele me perfurou, carregado de decepção e fúria.
— Não me faça de idiota, Christopher Velasquez. Eu já sei de tudo. Sei que você e Patrícia nos enganaram esse tempo inteiro.
— Imagino que o senhor Ernesto tenha lhe contado... — murmurei, já prevendo a próxima explosão.
— Contou, sim! Ele me ligou hoje cedo ameaçando quebrar suas pernas! E só não vai fazer isso por respeito à nossa amizade. — Ele bateu com o punho na mesa, a voz tremendo.
Mesmo tentando me conter, deixei escapar um riso irônico. Era típico do pai de Patrícia.
— Acha isso engraçado, Christopher? —
Estava tão bravo que gritou com força, e seu rosto ficou visivelmente vermelho devido à raiva.
— Você sabe o quanto esse relacionamento era importante para nós. Era mais que um namoro: era um projeto de aliança, de poder, de futuro! Já falávamos em casamento!
Pisquei devagar, absorvendo cada palavra como uma facada. Minha vida sendo tratada como uma transação comercial, como se meus sentimentos fossem um apêndice inútil.
— Papai, estamos falando da minha vida. E, se é de negócios que se trata, o investimento do grupo Alencar está garantido. Conversei pessoalmente com Ricardo e ele dobrou o valor anterior. Não precisamos mais desse casamento para crescer. Vamos prosperar, mesmo sem o sobrenome Alencar, atrelado ao nosso.
Ele me olhou por um instante longo, como se estivesse me vendo pela primeira vez.
Ele fechou os olhos por um instante, como se tentasse conter a tempestade dentro de si. Respirou fundo, o peito subindo em esforço contido, e então se deixou cair na cadeira de couro com um peso que parecia ir além do corpo — era o cansaço da alma. O rangido discreto do assento preencheu o silêncio tenso da sala. Sem dizer uma palavra, ergueu a mão devagar e apontou para a poltrona à sua frente, exigindo com um simples gesto que eu me sentasse. A conversa estava apenas começando.
Sentei-me devagar, com o estômago se contraindo.
— Eu estou velho, Christopher. Cansado. Não tenho mais energia para lidar com filhos que brincam de viver. Você não jogou só com sua vida. Você manchou o nome da nossa família, da nossa empresa. Aquilo que eu e seu avô construímos com sangue e sacrifício.
— Papai... — comecei a falar, mas ele levantou a mão, exigindo silêncio.
— Patrícia conseguiu controlar o pai, ou você não estaria aqui. Mas se ele tivesse decidido cumprir sua ameaça, nós estaríamos velando o seu corpo. — Sua voz falhou por um segundo, e pude ver um brilho diferente em seus olhos. — Já perdemos seu irmão. Perder você... não suportaríamos.
Senti um nó se formar em minha garganta. A dor ainda era muito viva. Meu irmão mais velho, o filho perfeito, havia morrido em um acidente trágico. E, desde então, meu pai me olhava como a única esperança, como o herdeiro que precisava assumir não só a empresa, mas o fardo do legado.
— Eu confiei em você no comando da empresa. E você tem se saído bem. Mas o comando da família ainda está longe de ser seu. E, por isso, tomei uma decisão. Arranjei uma noiva para você.
Meu corpo congelou.
— O senhor está brincando, não está? — minha voz saiu seca, quase inaudível.
— Não. Um amigo está em dificuldades. Vai vender sua empresa antes que afunde de vez. Nós vamos comprá-la. E, como parte do acordo, você se casará com a filha dele. Jovem, linda, educada. Perfeita para formar uma nova geração Velasquez.
— O senhor negociou a minha vida?
— Eu te dei liberdade por tempo demais, Christopher. Chega. Está na hora de crescer. Precisamos de um herdeiro. Sua mãe quer um neto. Eu quero ver a continuidade do nosso nome antes de partir.
— Isso é patético!
Ele bateu a mão com força na mesa, fazendo os papéis saltarem.
— Não me desafie! Você nos colocou em risco. Agora aguente as consequências. Vai conhecer sua noiva em breve. E se comporte, entendeu? Nada de escândalos, nada de capas de revista. Você está, a partir de agora, comprometido.
Me levantei, o sangue pulsando alto nos ouvidos. O chão parecia girar levemente, e o gosto amargo da humilhação subia pela garganta. Caminhei até a porta sem dizer mais nada.
— E mais uma coisa, Christopher — sua voz me atingiu pelas costas —, trate de não se esquecer: essa moça será sua esposa. E, se você for esperto, descobrirá que às vezes o destino nos leva exatamente onde precisamos estar.
Saí batendo a porta com força. O som ecoou pelo corredor silencioso como um grito de revolta. Que ele me obrigasse a casar, tudo bem. Mas amor? Um herdeiro? Isso nunca. E se essa mulher acha que vai conquistar meu coração, ela não sabe com quem está lidando.
Eu, Christopher Velasquez, jurei ali mesmo que manteria meu coração trancado a sete chaves.
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Atualizado até capítulo 66
Comments
Eneide Gonçalves Fernandes
ual até agora tô gostando parece que vai ser um romance lindo parabéns autora
2025-03-30
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Arminda Celebrini
😁😁😁😁😁 A HORA QUE ELE CONHECER DUA DESTINADA BAI FICAR DE 4
2025-04-02
1
Tania Cassia
também estou gostando vamos ver o desenrolar da história🥰
2025-04-02
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