Gabriel

Desde o confronto no escritório não me encontrei mais com o Dr Gabriel. Não sei se está me evitando...ou se está ocupado com algo. Se bem que a sua caminhonete não está na fazenda. Ele deve estar fora.

Havia se passado alguns dias e eu permanecia na mesma rotina. Todos os dias eu passava no pomar e levava uma mação para o Trapaça que aceita a fruta...mas permanece desconfiado. É incrível como a fazenda fica mais calma sem a presença autoritária do Dr.Gabriel.

- E ai terminou tudo? Miguel pergunta.

- Sim, hoje foi cansativo. Eu digo e ele sorri.

- Tome um banho e descanse. Com o tempo cê se acostuma. Ele diz.

- Tchau. Bom descanso. Eu digo e vou para a Casa Grande. Miguel mora em uma casa afastada com outros empregados.

Assim que vou entrando vejo a caminhonete do Dr Gabriel. Ele deve ter retornado.

Escuto um barulho de vidro quebrando na cozinha. Vou até lá para conferir o que está acontecendo. Antes de me aproximar da porta ouço os gritos:

- Seu imprestável. Você quebrou os vinhos que eu trousse. Custaram uma fortunaaaa. Você vai trabalhar de graça por um ano para pagar o que você quebrou.

- Cada garrafa custa 5 mil doláres. Seu inútil! Dr Gabriel urra.

- Por favor patrão, me desculpe! Foi um acidente.

- Acidente? Acidente vai ser o que eu vou fazer com você. Quando entro na cozinha Tião está entre os cacos de vidros e Dr Gabriel levanta um chicote usado nos animais para bater nele.

- Nãããoooo!! Eu grito.

Dr Gabriel para e olha para mim. Tião é um idoso que trabalha como zelador e entregador da fazenda. Ele trabalha demais.

- Cale a boca! Ou vai apanhar com ele. Ele grita.

Eu me aproximo e ofereço a mão para o Tião levantar.

- Venha! Eu ajudo o Sr. Eu digo e ele se apoia e levanta.

- Pode deixar eu limpo essa bagunça. Eu digo.

Quando eu olho para o Dr Gabriel ele está vermelho de raiva. O seu maxilar treme tamanha a fúria.

- No meu escritório...agora! Ele diz com a voz firme, autoritária e sai andando.

- Menina Livia você vai se encrencar por minha culpa. Tião diz.

- Não se preocupe. Tudo vai ficar bem. Eu digo sorrindo e vou para o escritório. Dona Célia me olha com tristeza e acena com a cabeça em negativa.

A porta está aberta e Dr Gabriel está do outro lado da mesa, em pé e de costas para porta olhando pela janela.

Eu entro e não digo nada.

- Você já trabalhou ou já teve a oportunidade de gerir algo grande? Ele pergunta sem se virar para mim.

- Não Sr.

- Essa fazenda tem 150 hectáris. Eu tenho 1801 funcionários contando com você. Tenho 5 mil animais entre cavalos e gado. Fora a área de plantio e outrso empreendimentos. E uma garota de 22 anos, que está aqui por uma gentileza que fiz a sua mãe, pensa que sabe alguma coisa. Ele diz e se vira para mim.

- Tem razão! Eu respondo e ele parece surpreso.

- Não entendo de fazenda, animais, plantação. E nem faço ideia de quanto seja 150 hectares.

- Mas minha avó me ensinou o que era respeito pelos outros, principalmente mais velhos. Me ensinou o que era caráter e dignidade. Valores esses que o Dr. não aprendeu.

Ele dá um tapa na mesa.

- Como ousa falar assim? Não sabe nada sobre mim.

- Acertou...eu não sei. Mas para alguém que ia agredir um idoso por causa de um acidente...caráter não deve ter sido aprendido. Não serei injusta culpando os seus pais, talvez você quem não quis aprender.

Ele se aproxima de mim com raiva e rapidez. Por instinto eu tento recuar...mas eu piso em algo no chão, me desequilibro e ia caindo ao chão de costas. Mas Gabriel me puxa pelo braço em sua direção.

Ele não calcula muito a força, e acaba me jogando contra o seu peito. Eu apoio as duas mãos sobre o seu peito. Ele me segura pela cintura me mantendo colada a ele.

Ele respira próximo ao meu pescoço sentindo o meu perfume. E logo me solta.

Há uma tensão entre nós, tão grande que ficamos sem jeito.

Ele dá um passo para trás, ajusta a roupa e limpa a garganta.

"Rãmmm"

- Eu não quero você se intrometendo, ou dá próxima vez...será você quem vai levar as chicotadas.

Olho rapidamente para ele.

- Você não pode estar falando sério?

- E por que não?

- Porque eu sou mulher?

- Ha Ha Ha! É exatamente por isso. Eu mando, você obedece...eu sou o líder você é só uma...uma empregada que mora de favor aqui.

- Não moro não. Eu trabalho na sua fazenda para pagar pela droga da moradia. Eu digo irritada

- Olha essa boca garota. Veja como fala.

- Seja homem e faça as coisas certas. E assim eu não preciso falar nada.

- Está dizendo que não sou homem?? Ele grita

- Ter um pênis, não te faz ser homem Dr. Gabriel.

Ele fica vermelho, as bochechas coram, ele ajeita a fivela do cinto. Em seguida tira o chapéu e coloca sobre a mesa.

Ele dá alguns passos lentos em minha direção, me puxa pelo braço me aproximando novamente.

Gabriel me segura e me beija com paixão. Mesmo sem entender ou saber o porque...eu retribuo o seu beijo.

Ele leva a mão no meu pescoço, deslizou pela nuca e subiu pelo cabelo até o meio da cabeça, prendeu os dedos entre os cabelos e puxou a minha cabeça para trás. Em seguida começou a dar beijinhos no meu pescoço. Eu me arrepiei, e soltei um gemido inconsciente.

Gabriel foi beijando meu pescoço, a pontinha da orelha. Seguindo em direção ao meus lábios, beijou o cantinho da minha boca. Eu fechei os olhos sentindo seus lábios macios e quentes. Mas de repente ele me afasta.

Gabriel sorri com um sorriso sarcástico no canto da boca.

- Desculpe mas...não sou homem. Ele vira as costas pega o chapéu e sai do escritório.

Eu fico parada recuperando o fôlego, sem entender e sem saber o que fazer. De repente me sinto envergonhada, ajeito minha roupa e saio rapidamente do escritório. Eu ando o mais rápido que posso, sem jeito.

Como pude deixar ele me tocar assim. Me manipular...que raiva de mim mesma.

Saio da casa como um raio.

- Lívia cê tá bem? Miguel pergunta.

- Simm!! Eu respondo sem nem olhar para ele. Tudo que eu quero é sumir dali.

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