armação

Trace estava jogado no sofá de sua cobertura, encarando o teto como se esperasse que alguma resposta surgisse das sombras. O gosto amargo do uísque ainda estava em sua boca, e a garrafa vazia sobre a mesa de centro provava que ele havia passado tempo demais afogado nos próprios pensamentos.

A campainha soou, insistente.

Ele franziu a testa. Quem ousava incomodar sua solidão?

Levantou-se com um suspiro pesado, sentindo o peso da noite mal dormida em seus ombros. Ao abrir a porta, encontrou a figura imponente de Jasper Maverick, seu pai, de braços cruzados e um olhar afiado.

— Oi, pai… — Trace murmurou, encostando-se no batente da porta.

Jasper o analisou de cima a baixo, o olhar crítico parando nas roupas amassadas e no leve cheiro de álcool no ar.

— Garoto, te procurei o dia todo.

— Estava em uma missão. — Trace respondeu, dando de ombros. — Aconteceu alguma coisa?

Jasper suspirou pesadamente, sem paciência para rodeios.

— Sim! Preciso da sua ajuda para uma missão importante.

Trace arqueou uma sobrancelha e abriu espaço para ele entrar.

— Entre. Vamos conversar sobre isso.

Jasper passou pela porta, seu olhar rapidamente captando o caos discreto do apartamento: garrafas espalhadas, cinzeiros cheios, um vazio perceptível no ambiente.

— Faz meses que você está na vala, Trace. — Ele comentou, pegando uma garrafa e balançando-a. — Isso aqui é o que você chama de estar bem?

Trace pegou a garrafa das mãos do pai e a colocou de lado.

— Estou vivo. Isso já não é suficiente?

Jasper bufou, mas não insistiu no assunto. Ele conhecia bem o filho. Se pressionasse demais, só o afastaria mais.

— Qual é a missão? — Trace perguntou, cruzando os braços.

Jasper se virou para encará-lo, os olhos carregados de seriedade.

— Unir as famílias Maverick e Knoch.

O silêncio pairou no ar. Trace franziu o cenho.

— Isso quer dizer…?

O pai se aproximou um pouco mais, como se quisesse que Trace entendesse a importância do que viria a seguir.

— Conquiste Hanna Knoch.

Trace piscou algumas vezes, deixando a frase assentar em sua mente.

Então, soltou uma risada seca.

— Você está brincando, certo?

Jasper permaneceu imóvel, sem esboçar nenhuma reação.

Trace passou a mão pelo rosto e bufou.

— Então é isso? Quer que eu jogue charme pra cima da chefe dos Knoch? Sedução política, é isso?

— Isso se chama estratégia. — Jasper corrigiu, mantendo a voz firme. — As alianças estão frágeis, e a Knoch precisa de um motivo para confiar em nós. Você pode ser esse motivo.

Trace balançou a cabeça, se afastando.

— Você quer que eu use a garota.

— Quero que você a conquiste. — Jasper corrigiu novamente. — Se for esperto, pode ganhar mais do que apenas a confiança dela.

Trace suspirou, sentindo o peso da decisão se instalar em seu peito. Ele conhecia Hanna Knoch. Forte, letal, implacável. O tipo de mulher que não confiava em ninguém.

Conquistar alguém assim… não seria nada fácil.

E, talvez, fosse exatamente isso que o fazia querer aceitar o desafio.

— Precisamos ter uma reunião. — Jasper foi direto ao ponto.

Trace suspirou, encostando-se à porta com os braços cruzados.

— Você vai encontrar Hanna para negociar a compra de armas.

Trace arqueou uma sobrancelha.

— Preciso mesmo de armas?

Jasper fechou a pasta sobre a mesa e o encarou por cima dos óculos.

— Você quer ou não fortalecer nossa segurança?

— Tá bom, tá bom. — Trace ergueu as mãos em rendição. — Vou marcar esse encontro.

Ele olhou para o relógio e, de repente, se afastou da porta, indo até o armário para pegar uma jaqueta.

— Preciso sair.