O quarto estava mergulhado em um silêncio podre.
As paredes, frias e úmidas, pareciam pulsar como carne viva.
Mitsuri tremia, não pelo frio, mas pelo terror silencioso que se instalava em sua alma.
O cheiro metálico de sangue misturado ao perfume doce que ele deixava para trás era nauseante.
Estava acorrentada, os pulsos marcados, o corpo cansado... e a mente? Quase entregue.
Passos.
Lentos. Arrastados. Precisos.
Ele estava vindo.
Obanai
— Dormiu bem... boneca quebrada?
Mitsuri:
(silêncio)
Obanai
— Não vai falar comigo hoje?
(risos baixos)
— Acha que o silêncio vai te proteger?
Mitsuri
— Eu... eu só quero ir embora...
Obanai
— Ah, você vai.
Mas só quando eu terminar de destruir tudo que ainda resta aí dentro.
Mitsuri
— Por quê? O que eu te fiz?
Obanai
— Você respirou.
Você sorriu.
Você existiu... igualzinha a ela.
Ele se agachou diante dela, os olhos penetrando os dela como se fossem pregos.
Segurou seu queixo com força.
Forçou-a a olhar no fundo de sua insanidade.
Obanai
— Quero que me olhe enquanto eu apago você, pedacinho por pedacinho — sussurrou, como se estivesse contando um segredo.
Ela chorou.
Mas não era só dor. Era desespero.
Era saber que ninguém viria.
Obanai
— Vai gritar?
Mitsuri
— Ninguém vai ouvir...
Obanai
— Exato.
(risos abafados)
— Está aprendendo rápido.
Mitsuri
— Você é um monstro...
Obanai
— Não, florzinha... monstros não têm propósito.
Eu tenho um.
Ele se levantou e caminhou até a parede.
Ligou uma gravação.
Era a voz dela.
“Por favor, não me machuque... não de novo...”
Mitsuri arregalou os olhos.
Era a voz de Mia.
Obanai se virou e disse, calmamente:
Obanai
— Vou fazer você escutar isso todas as noites.
Até implorar para que a sua voz se pareça com a dela.
E então saiu, trancando a porta.
Mas o som... não parava.
Mitsuri gritou.
E pela primeira vez... ninguém, nem ela mesma, acreditou na sua própria voz.
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