Entre palavras e silêncios

A chuva se tornou apenas um sussurro contra a janela. Pequenas gotas escorriam pelo vidro, refletindo o brilho das lâmpadas frias do hospital. O silêncio entre Dambis e Yami não era desconfortável. Pelo contrário, parecia um entendimento sem palavras.

Ele fechou o caderno e o colocou ao lado da cama. Yami ainda segurava o dela, os dedos deslizando distraidamente pela borda da capa.

— Você acha que ainda temos tempo? — ela perguntou de repente.

Dambis franziu o cenho.

— O que quer dizer?

Yami suspirou, olhando para as próprias mãos.

— Para mudar alguma coisa. Para fazer algo que valha a pena. Para ser feliz.

Ele não respondeu de imediato. Porque, no fundo, essa era a pergunta que ele se fazia todas as noites.

Finalmente, disse:

— Acho que a gente tem o tempo que decidir ter.

Ela riu baixo, um riso sem alegria.

— Você fala como se fosse fácil.

Dambis observou Yami, os olhos escuros dela pareciam esconder mil tempestades.

— Não é. Mas talvez seja possível.

Yami ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras.

Depois, abriu o caderno e, com um traço delicado, começou a escrever.

Dambis tentou ler, mas ela inclinou o corpo, escondendo as palavras dele.

— Um dia eu te mostro — disse, um pequeno sorriso brincando nos lábios.

Dambis sorriu de volta.

Ele não sabia quanto tempo tinham.

Mas, pela primeira vez, sentiu que queria ficar um pouco mais.

Que talvez… só talvez… o fim ainda não tivesse chegado.

A chuva ainda não tinha parado.

Lá fora, os trovões sussurravam em intervalos irregulares, como uma respiração pesada no horizonte. A janela do hospital estava embaçada, marcada pelo frio da noite e pelo toque distraído de Dambis, que desenhava traços invisíveis sobre o vidro.

Yami fechou o caderno devagar, os olhos fixos em Dambis. Desde que ele chegou, algo dentro dela havia mudado. Antes, escrever era um grito solitário no vazio. Agora, era uma conversa.

— Você acha que alguém lê o que escrevemos? — ela perguntou, sem tirar os olhos dele.

Dambis parou de desenhar na janela e virou o rosto para ela.

— Como assim?

Yami hesitou, como se estivesse tentando organizar os próprios pensamentos.

— Quero dizer… depois que partimos. Nossas palavras ficam? Ou somem como fumaça?

Ele olhou para o próprio caderno, como se a resposta estivesse escondida entre os versos que escreveu.

— Eu acho que algumas palavras sobrevivem — ele disse. — Mas não todas. Só as que importam.

Yami apoiou o queixo sobre as mãos, pensativa.

— E como sabemos quais importam?

Dambis sorriu de leve.

— Acho que são aquelas que não conseguimos esquecer.

Yami abriu o caderno de novo. Com a ponta dos dedos, deslizou sobre as palavras que tinha escrito antes.

"Se tudo fiz, não fui feliz.

Porque logo agora, Deus?"

Ela olhou para ele.

— Você não esqueceu o que escreveu sobre mim, não é?

Dambis negou com a cabeça.

— Não.

O silêncio se acomodou entre eles outra vez, mas era um silêncio confortável, cheio de significados.

A chuva lá fora continuava caindo, marcando o tempo.

Os trovões ainda ressoavam, distantes.

Mas, dentro daquele quarto, Dambis e Yami não precisavam de mais nada além de suas palavras.

Palavras que importavam.

Palavras que, talvez, sobrevivessem.

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