O REINADO DAS SOMBRAS
O trono era seu.
Azariel sentou-se, suas mãos repousando nos braços de ferro negro da cadeira imperial, enquanto a escuridão ao seu redor parecia pulsar como um organismo vivo. O salão real, antes repleto de pompa e orgulho humano, agora era apenas um mausoléu de cadáveres e ruínas.
A capa negra do rei vampiro se arrastava pelo chão, empapada com o sangue dos caídos. O líquido escarlate pingava em um ritmo constante, formando poças ao redor de seus pés. As chamas dançavam nas tochas quebradas, projetando sombras distorcidas na pedra manchada de sangue.
Ele inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos por um breve momento. Sua ferida mortal, deixada pela lança do último rei humano, estava quase completamente fechada. A carne se regenerava lentamente, o sangue evaporando no ar enquanto o poder ancestral de sua linhagem o restaurava à perfeição absoluta.
Ele bufou.
" Ahh… que chato.
Sua voz ecoou pelo salão vazio, misturando-se aos gritos abafados dos sobreviventes sendo caçados do lado de fora. Era um massacre, uma carnificina absoluta.
Do lado de fora das grandes janelas quebradas do castelo, as ruas de Velyndor ardiam. O céu, tingido de vermelho pelo fogo e pelo sangue derramado, parecia testemunhar em silêncio a queda da humanidade. Os poucos humanos restantes corriam como insetos, tentando se esconder nas ruínas da cidade que antes chamavam de lar.
Mas não havia refúgio.
Os vampiros caçavam com sorrisos selvagens, seus olhos brilhando como faróis na escuridão. Gritos de desespero cortavam o ar como música para seus ouvidos.
E Azariel estava… entediado.
O sabor da vitória já havia se tornado insípido.
Ele girou lentamente uma taça de vinho que estava ao seu lado — embora o líquido escarlate dentro dela não fosse vinho. Observou o reflexo de seus próprios olhos, rubros como brasas vivas, um abismo sem fundo que absorvia tudo ao redor.
" Foi fácil demais.
Seu tom era frio, desinteressado. A humanidade foi esmagada sem sequer um lampejo de resistência real.
Ele esperava algo mais. Algo digno. Algo que realmente desafiasse seu poder.
Mas agora… era apenas silêncio e morte.
A SOMBRA QUE SE APROXIMA
A grandiosidade do momento foi interrompida pelo som de passos ecoando pelo salão. Pesados. Cautelosos.
Um de seus generais vampíricos se aproximava, vestindo uma armadura negra reluzente, manchada de sangue fresco. Ele se ajoelhou diante de Azariel, a cabeça baixa em respeito absoluto.
" Meu senhor… — Sua voz era grave, mas carregava um tom incomum de hesitação.
Azariel abriu os olhos lentamente, um brilho predatório passando por seu olhar.
" Fale.
O general não ergueu a cabeça.
" Há rumores… boatos sobre um levante. Não dos humanos, mas… de algo diferente ".
O silêncio pairou no ar. Azariel permaneceu imóvel, sua expressão impassível.
Então, com um leve levantar de sobrancelha, ele perguntou:
" Levante? De quem?"
O general hesitou por um breve instante.
" Dos antigos ".
O salão inteiro pareceu esfriar. As chamas nas tochas vacilaram.
Azariel, pela primeira vez em muito tempo, sorriu.
" Interessante" .
Ele descruzou as pernas lentamente, seus olhos brilhando com um interesse renovado.
Talvez… a diversão estivesse apenas começando.
A CRIANÇA E O REI SOMBRIO
O som distante da guerra ainda ecoava além das muralhas. A fumaça subia em espirais negras, carregando consigo o cheiro metálico do sangue e da destruição. Mas dentro do salão do trono, onde o silêncio era um luxo raro, algo inesperado aconteceu.
Pequenos passos apressados ecoaram pelo chão de mármore sujo de sangue.
Uma criança, pequena e frágil, corria desesperadamente pelos corredores do castelo em ruínas. Seus pés descalços estavam sujos de poeira e cinzas, seus joelhos arranhados de tanto tropeçar ao fugir do massacre lá fora.
Então, ela bateu de frente com algo sólido.
Seu pequeno corpo foi lançado para trás com o impacto, e ela caiu sentada no chão frio. Ofegante, arregalou os olhos ao ver em quem havia esbarrado.
Azariel.
O Rei dos Vampiros a olhava de cima, sem se mover, seu manto negro ainda pingando sangue fresco. Seus olhos carmesins brilharam no escuro, penetrando diretamente na alma frágil da garota.
Ela era bonita, mesmo em sua miséria. Olhos roxos raros, uma cor incomum entre humanos. Seus cabelos escuros tinham as pontas tingidas de azul, desbotadas pelo tempo e pela poeira da guerra.
Mas ainda assim… era só uma criança.
Azariel inclinou a cabeça lentamente, seus olhos frios analisando cada detalhe dela.
Ela não tremia.
Isso o fez erguer uma sobrancelha.
Ele se abaixou lentamente, seu longo manto se arrastando no chão enquanto se aproximava dela. Com um dedo frio e pálido, ergueu o pequeno queixo da menina, obrigando-a a olhar diretamente para ele.
O silêncio era absoluto.
Então, com um tom baixo e cortante, ele perguntou:
" Quantos anos você tem?"
Sua voz era como o gélido sopro da morte, envolta em um tom de tédio e crueldade.
A menina continuou olhando para ele. Seus olhos estavam arregalados, mas não havia lágrimas.
Ela engoliu em seco.
E então, com um fio de voz, respondeu:
" D-doze "…
Azariel manteve o olhar fixo nela por um instante, seu dedo ainda segurando seu queixo.
Doze anos.
Uma idade em que os humanos ainda se agarravam às fantasias de infância, sonhando com futuros que nunca chegariam.
Mas essa… era uma criança que havia visto o inferno.
Ele viu o reflexo de si mesmo naqueles olhos roxos — a mesma chama, a mesma escuridão escondida sob a pele frágil.
Azariel sorriu de leve.
" Você não tem medo de mim? "
A menina hesitou. Seus lábios tremeram, mas não era medo. Era ódio.
Ela apertou os punhos com força.
"O que você vai fazer comigo? " sua voz era trêmula, mas não submissa.
Azariel soltou seu queixo lentamente, se levantando com um suspiro entediado.
" Ainda não decidi " .
Ele virou-se de costas, caminhando de volta para o trono. Sua capa negra se arrastou pelo chão, espalhando o sangue seco enquanto ele retomava seu lugar como o soberano absoluto.
A criança permaneceu sentada, ainda sem saber se havia sido poupada ou apenas esquecida.
E Azariel… continuava se perguntando por que diabos ainda não havia a matado.
Sua voz era como o gélido sopro da morte, envolta em um tom de tédio e crueldade.
A menina continuou olhando para ele. Seus olhos estavam arregalados, mas não havia lágrimas.
Continua…?
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Atualizado até capítulo 27
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