Capítulo 4 - Os Três Amores

Anos de 2022.

Os conselhos da cartomante não saíam da minha cabeça. "Tenha paciência. Ele virá até você."

Mas minha ansiedade gritava alto. Eu queria respostas, queria sinais claros, queria algo que me dissesse que eu estava no caminho certo. Mas tudo o que eu tinha eram sonhos, esperas e uma sensação constante de que algo estava prestes a acontecer.

Naquela tarde, eu estava na cozinha com minha mãe, ajudando-a a preparar o almoço. O cheiro de alho e cebola dourando no azeite se espalhava pelo ambiente, e o barulho da faca batendo na tábua de cortar era quase relaxante.

Minha mãe Laura Villar, de 52 anos é minha inspiração, pedagoga tem sempre um assunto para conversar e estava falante, relembrando histórias do passado, de quando era jovem e cheia de sonhos.

— Você sabia que eu já fui noiva antes de conhecer seu pai? — ela disse, mexendo a panela.

Arregalei os olhos.

— Sério? Nunca me contou isso.

Ela riu.

— Ah, minha filha, há muitas coisas que a gente só entende depois de um tempo. Eu achava que aquele era o amor da minha vida, mas, no fundo, eu estava mais apaixonada pela ideia do amor do que pela pessoa.

— E como terminou?

— Simplesmente… acabou. Ele não era para mim, e eu não era para ele. Foi difícil aceitar na época, mas, hoje, vejo que foi o melhor.

Eu continuei cortando os legumes, absorvendo suas palavras. Então, do nada, ela soltou uma teoria que nunca tinha ouvido antes.

— Já ouviu falar na teoria dos três amores?

— Não. O que é isso?

Ela se encostou na pia, limpando as mãos no avental antes de começar a explicar.

— Dizem que, ao longo da vida, temos três grandes amores. O primeiro amor é aquele inocente, geralmente quando somos jovens. É influenciado pelos contos de fadas, pelas histórias de filmes… A gente acha que vai ser para sempre, mas, na verdade, é mais sobre o que imaginamos do que sobre o que realmente sentimos.

Assenti, pensativa.

— Faz sentido… E o segundo?

— O segundo amor é o mais difícil. É intenso, cheio de altos e baixos, muitas vezes tóxico. Pode envolver ciúmes, manipulação, dor… É aquele amor que nos ensina as maiores lições. Depois dele, aprendemos a reconhecer o que queremos e, principalmente, o que não queremos em um relacionamento.

Meu coração apertou.

— E o terceiro?

Minha mãe sorriu de um jeito suave, nostálgico.

— O terceiro amor é o verdadeiro. Aquele que chega quando menos esperamos. Não é um conto de fadas, mas é real, sólido, baseado em respeito, aceitação e parceria. É o amor que não precisa de grandes gestos para ser grandioso.

Fiquei em silêncio, absorvendo cada palavra.

— Você acha que encontrou o seu terceiro amor?

Ela riu.

— Eu sei que encontrei.

Olhei para minha mãe e pensei em tudo que ela e meu pai construíram juntos. Um casamento longo, sólido, cheio de cumplicidade. Eles não eram perfeitos, mas estavam sempre lado a lado, enfrentando tudo juntos.

A teoria dos três amores ficou martelando na minha cabeça.

Eu já tinha vivido meu primeiro amor? Sim.

E meu segundo amor?

Sim. Daniel.

Nosso relacionamento tinha sido cheio de altos e baixos. Eu o amava, mas, no fundo, sabia que não era o amor certo. Quando comecei a sonhar com aquele homem misterioso, a culpa me consumiu porque senti que estava traindo Daniel, mesmo sem nunca ter visto o rosto do outro.

Talvez aquele fosse o sinal de que Daniel não era para mim.

Talvez meu terceiro amor ainda estivesse para chegar.

Depois do almoço, fui para meu quarto, sentindo um aperto no peito. Deitei na cama e encarei o teto, deixando meus pensamentos vagarem.

E se eu estivesse esperando alguém que nem existia?

E se tudo isso fosse apenas minha mente criando uma ilusão porque eu tinha medo de ficar sozinha?

Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Não, não era possível. Os sonhos eram reais demais. A sensação que eu tinha quando estava com aquele homem nos meus sonhos era algo que eu nunca senti com ninguém.

Fechei os olhos, buscando me acalmar.

Naquela noite, sonhei novamente com ele.

Dessa vez, estávamos em um lugar que eu não reconhecia. Havia uma leve brisa, e o som distante de ondas quebrando contra as rochas. Eu estava sentada em um banco de madeira, e ele estava ao meu lado.

Eu ainda não conseguia ver seu rosto.

— Está chegando a hora — ele disse.

Meu coração acelerou.

— Quando?

— Logo.

Eu tentei tocar sua mão, mas, antes que conseguisse, acordei.

Minha respiração estava acelerada, e meu coração batia forte contra o peito.

Suspirei, frustrada. Eu precisava fazer alguma coisa. Precisava tirar esses pensamentos da minha cabeça antes que enlouquecesse.

No dia seguinte, fui até a casa de Bianca.

— Você está inquieta — ela comentou, assim que me viu.

— Eu sou inquieta — resmunguei, me jogando no sofá.

Ela riu.

— Não. Dessa vez é diferente. O que aconteceu?

— Estou enlouquecendo, Bia. Eu não consigo mais esperar. Eu sinto que estou perdendo tempo, que devia estar fazendo algo para encontrá-lo.

Ela me olhou por um momento antes de perguntar:

— Você tem certeza de que ele é real?

Engoli em seco.

— Sim.

— Então por que você não confia no destino? Se ele tem que chegar até você, ele vai chegar.

Fechei os olhos, frustrada.

— Eu sei… mas esperar é difícil.

Bianca suspirou, sentando-se ao meu lado.

— Eu entendo. Mas talvez essa espera seja necessária.

— Como assim?

— Você já ouviu aquele ditado: "Às vezes, quando desejamos algo, o universo não nos dá imediatamente porque ainda não estamos prontos para receber"?

Fiquei em silêncio.

— E se você ainda não estiver pronta para esse amor? E se, nesse tempo, você precisar se encontrar primeiro?

As palavras dela me atingiram em cheio.

A cartomante havia dito algo parecido.

"Você precisa estar bem consigo mesma. Se amar para poder amar outra pessoa."

Suspirei.

— O que eu faço então?

Bianca sorriu.

— Você vive. Para de se preocupar com o futuro e foca no agora. Sai, se diverte, faz coisas que te fazem feliz. E quando for a hora certa… você vai saber.

Fiquei em silêncio por um momento antes de assentir.

Talvez Bianca estivesse certa.

Obrigada por acompanhar.

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