Ana acordou cedo, determinada a começar o dia com energia, tomou banho, vestiu uma roupa confortável e foi até a cozinha preparar um café, sabia que teria um longo dia no escritório, e a última coisa que queria era começar mal-humorada.
O cheiro de café recém-passado se espalhou pelo apartamento, e Ana serviu uma xícara, aproveitando o silêncio da manhã, mas sua tranquilidade durou pouco.
Bruno surgiu no corredor, apenas de calça de moletom e cabelo bagunçado, visivelmente sonolento.
— Que barulho é esse? — ele resmungou, coçando a nuca.
Ana revirou os olhos.
— Bom dia pra você também.
Ele ignorou o comentário e olhou para a cafeteira.
— Fez café?
— Fiz, mas não sei se divido com quem não tem educação logo cedo.
Bruno suspirou e pegou uma xícara, servindo-se sem pedir Ana cruzou os braços.
— Você sempre age assim?
Ele deu um gole no café e respondeu sem emoção:
— Assim como?
— Como um ogro.
Bruno deu um sorriso de lado.
— E você sempre fala tanto de manhã?
Ana respirou fundo.
— Eu só quero que a convivência seja menos insuportável.
Ele deu de ombros.
— Eu já deixei claro que não gosto de dividir meu espaço.
— E eu já deixei claro que não vou sair, então, que tal fazermos disso algo menos... estressante?
Bruno a encarou por um instante, como se ponderasse sua proposta, mas então balançou a cabeça.
— Eu sou como sou, Ana não sou o tipo de cara que se dá bem com pessoas, muito menos com alguém que insiste em desafiar cada palavra minha.
Ana riu, sarcástica.
— Você fala como se fosse algum tipo de lobo solitário, incompreendido.
Bruno arqueou a sobrancelha.
— Talvez eu seja.
Ela riu novamente, bebendo um gole do café.
— Não, você só é mimado.
Bruno estreitou os olhos.
— Eu não sou mimado.
— Claro que é só porque sua rotina foi bagunçada, você age como se o mundo estivesse desmoronando.
Ele ficou em silêncio por um momento, então deu um longo gole na xícara.
— Esse café tá horrível.
Ana sorriu.
— Mas você bebeu tudo.
Ele largou a xícara na pia e saiu da cozinha sem dizer mais nada, Ana apenas riu para si mesma ainda que Bruno tentasse bancar o durão, ela já havia percebido que ele não era tão inatingível quanto queria parecer.
A convivência com certeza não seria fácil, mas Ana adorava um desafio.
E Bruno seria o maior de todos.
Os dias passaram, e, para a surpresa de Bruno, Ana não era como ele esperava.
Quando Carla disse que ele teria que morar com uma assistente, Bruno imediatamente imaginou alguém que tentaria invadir sua privacidade, bajulá-lo ou simplesmente ser incompetente mas Ana não fazia nada disso.
Ela era eficiente, organizada e sabia exatamente como lidar com as exigências do seu trabalho sem ser inconveniente.
Ela cuidava dos compromissos dele, organizava seus horários, filtrava entrevistas e até evitava que os fotógrafos o seguissem tanto, mas o que mais impressionava Bruno era como ela nunca se intimidava com seu mau humor.
Certa manhã, depois de um ensaio fotográfico, ele chegou no apartamento exausto e jogou a bolsa no sofá e passou a mão pelo cabelo, pronto para reclamar do dia.
— Tive que refazer a sessão inteira porque o fotógrafo achou que as luzes não estavam boas, foi um inferno.
Ana, que estava sentada no balcão da cozinha com um tablet, nem levantou os olhos.
— Bom saber já marquei um tempo extra para seu próximo ensaio caso isso aconteça de novo.
Bruno franziu a testa.
— Como você sabia?
Ela deu de ombros.
— Eu estudo sua rotina e você sempre reclama das mesmas coisas.
Bruno ficou sem resposta normalmente, qualquer outra assistente já estaria se desculpando ou tentando agradá-lo mas Ana simplesmente sabia o que fazer sem precisar se curvar ao seu temperamento difícil.
Outro dia, ele acordou tarde e percebeu que Ana já tinha adiantado tudo as roupas estavam separadas para a campanha do dia, a agenda estava organizada, e até um café forte o esperava na bancada.
Ele não pôde evitar o comentário:
— Você tem certeza que não é uma máquina?
Ana riu.
— Tenho só sou boa no que faço.
Bruno não admitiria em voz alta, mas ela era mais do que boa.
Era a melhor assistente que ele já teve.
E isso o incomodava.
Ele não gostava de depender de ninguém ainda mais de alguém que começava a se tornar indispensável.
Mas, mesmo que tentasse negar, ele sabia Ana estava deixando sua marca.
E isso era um problema.
Nos dias seguintes, Bruno começou a perceber pequenas mudanças em sua rotina, ele já não acordava irritado sabendo que teria que lidar com imprevistos pois Ana já os resolvia antes que ele percebesse.
Em uma manhã qualquer, ele entrou na cozinha e encontrou seu café pronto, como de costume sentou-se à mesa e pegou a xícara sem pensar.
— Você não vai nem reclamar hoje? — Ana brincou, cruzando os braços e o olhando.
Ele ergueu os olhos para ela, arqueando uma sobrancelha.
— Por quê?
— Sei lá, você sempre tem algo a dizer uma reclamação por qualquer coisa.
Bruno tomou um gole do café e deu de ombros.
— Está do jeito que eu gosto o que significa que você está aprendendo.
Ana sorriu, como se tivesse vencido alguma batalha silenciosa.
Bruno se recostou na cadeira e a observou por um instante pela primeira vez, percebeu que, apesar do trabalho impecável, Ana não era só eficiente, ela era diferente de todas as outras assistentes que ele já teve.
E, por mais que ele quisesse manter distância, estava ficando cada vez mais difícil ignorá-la.
Bruno estava sentado no sofá, passando os olhos pelos e-mails no celular, quando o aparelho vibrou novamente o nome "Mãe" brilhava na tela pela quinta vez naquela manhã.
Ele bufou, revirando os olhos, e ignorou a chamada mais uma vez, mas, como esperado, o telefone voltou a tocar segundos depois.
— Pelo amor de Deus… — murmurou, massageando as têmporas.
Ana, que estava organizando alguns documentos na mesa de jantar, levantou o olhar curiosa.
— Problemas?
Bruno soltou um suspiro pesado e estendeu o celular para ela.
— Atende e diz que estou ocupado.
Ana arregalou os olhos.
— O quê? Não posso fazer isso!
— Pode sim você trabalha pra mim, não é?
Ela cruzou os braços, hesitante, mas acabou pegando o telefone.
— Alô?
— Finalmente! — A voz feminina do outro lado soou firme, mas cheia de carinho. — Quem está falando?
Ana engoliu em seco.
— Sou Ana, assistente do Bruno.
— Ah, Ana! — a mulher exclamou, parecendo satisfeita. — Então, avise ao irresponsável do meu filho que estarei em Roma amanhã cedo e que quero jantar com ele, não aceito um não como resposta.
Ana piscou, surpresa.
— Amanhã?
— Sim ele está ocupado agora, não é?
Ana olhou para Bruno, que a observava com um sorrisinho satisfeito, como se estivesse se divertindo com a situação.
— Está sim… — respondeu, sem graça.
— Ótimo, então, nos vemos amanhã à noite.
Antes que Ana pudesse responder, a ligação foi encerrada.
Ela devolveu o celular para Bruno e cruzou os braços.
— Sua mãe chega amanhã e quer jantar com você.
Bruno gemeu, fechando os olhos como se aquilo fosse o pior castigo do mundo.
— Maravilha…
Ana sorriu de lado.
— Você não tem como escapar dessa.
Bruno abriu um olho e a encarou.
— Você não conhece minha mãe.
— E você não conhece a minha teimosia. — Ela piscou para ele. — Vai ao jantar, nem que eu tenha que te arrastar.
Bruno bufou, mas não discutiu.
Ele já estava percebendo que, com Ana, perder discussões seria algo frequente.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Valeria Grossi de Almeida
Kkkk Ana está domando o Bruno.
2025-02-24
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