Eu me chamo Aline Ferreira e tenho 34 anos.
E a brisa que entra pela janela do carro me traz um cheirinho de mar misturado com grama seca. A estrada é praticamente só minha, um fio de asfalto cortando o verde à minha volta. É raro ter essa tranquilidade. Depois de meses enfrentando um caos atrás do outro, finalmente, um tempo pra respirar. Pra mim.
Minhas mãos apertam o volante enquanto os pensamentos vagam. Por mais que eu tente focar na estrada e no som baixo que sai do rádio, minha mente insiste em voltar ao passado, um passado que prefiro enterrar. Mas ele nunca fica enterrado por muito tempo.
Meus pais... Como seria minha vida se eles ainda estivessem aqui, vivos? Será que eu estaria nessa estrada agora? Provavelmente não. É estranho pensar como tudo poderia ser diferente se o destino tivesse sido um pouco menos cruel. Mas aí me lembro: o destino nunca foi generoso comigo.
Me sacudo na cadeira, tentando afastar as memórias, e dou um gole no café que trouxe num copo térmico. Ele já tá morno, mas me ajuda a focar.
Aline: Tá tudo bem, Aline. Só mais algumas horas e você vai estar na praia, comendo camarão e fingindo que a vida é perfeita.
A paisagem muda enquanto dirijo. As árvores começam a ficar mais esparsas, revelando um céu azul enorme que me faz sorrir um pouco. Coloco uma playlist animada no celular pra melhorar o humor, e por um segundo, me sinto... bem. Só eu e a estrada.
Então, tudo acontece muito rápido.
Vejo um carro no retrovisor, mas ele não tá na pista dele. Ele tá vindo rápido, muito rápido, e na direção errada. Sinto um frio na espinha.
Aline: Que droga é essa?
Meu coração começa a acelerar enquanto seguro o volante com mais força. Tento sair para o acostamento, mas antes que consiga, o carro invade minha pista de vez, girando como se o motorista tivesse perdido o controle.
Tudo vira um borrão. Os pneus do meu carro gritam no asfalto enquanto eu piso com tudo no freio. O tempo parece parar quando vejo os faróis do carro vindo na minha direção.
Aline: Não, não, não, não!
A pancada é inevitável. Meu carro gira como um peão, e eu perco completamente o controle. O mundo ao meu redor é só barulho — o som do metal se amassando, vidro estilhaçando, e meu grito preso na garganta.
Quando tudo para, percebo que estou de cabeça pra baixo. O cinto de segurança me mantém presa ao banco, e há um gosto estranho de sangue na minha boca. Tudo dói, como se eu tivesse sido esmagada por um caminhão.
Aline: Merda...
O cheiro de gasolina enche o ar, e isso me desperta do torpor. Meu coração dispara ainda mais rápido quando penso no carro explodindo. Tento me soltar do cinto, mas minhas mãos tremem tanto que é quase impossível.
Então, escuto passos. Eles são rápidos, desesperados, vindo na minha direção. Antes que eu consiga registrar o que está acontecendo, alguém aparece pela janela estilhaçada.
É um homem. Alto, com olhos que parecem tão assustados quanto eu.
Homem: Você tá viva? Precisa sair daí!
Minha cabeça lateja, e tudo parece um sonho bizarro e fora de foco. Tento responder, mas minha garganta não emite som algum. Ele não espera. Abre a porta com força e tenta soltar meu cinto.
Homem: Vai explodir, anda!
De alguma forma, ele consegue me puxar pra fora do carro antes que eu sequer entenda o que está acontecendo. Nós cambaleamos juntos até o acostamento, e ele me ajuda a sentar no chão.
O carro realmente explode, assim como ele previu. O calor da explosão atinge meu rosto, e minha mente finalmente apaga, como se dissesse que já era drama demais por um dia.
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Atualizado até capítulo 107
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