A Impostora
( Victor )
Eu me chamo Victor Ozório, e tenho 36 anos.
E depois de meses em solo estrangeiro, finalmente estou de volta ao Brasil. O ar aqui é diferente, mais quente, mas carregado de algo que eu não conseguia sentir no deserto: nostalgia. Não há tiros, bombas ou ordens urgentes. Só a promessa de um reencontro com um homem que, nos últimos anos, mais parecia um estranho do que meu pai Walter.
Assim que saio do aeroporto, vejo meu nome em uma placa preta segurada por um motorista com uniforme impecável. Walter não viria me buscar pessoalmente. Ele nunca foi desse tipo. O motorista abre a porta traseira do carro para mim, e entro, tentando ignorar o incômodo da minha mochila desgastada sobre o banco de couro luxuoso.
Chegando na mansão dos Ozório, sou recebido com toda pompa. Encaro a fachada imponente da casa, com colunas que tentam ser clássicas, mas só me lembram de como tudo aqui é pretensioso. Walter aparece na porta, segurando uma taça de vinho como se estivéssemos em um jantar diplomático, não no meio da tarde.
Walter: Victor, meu filho! Que bom vê-lo inteiro.
Victor: Ainda inteiro, mas não por sua causa.
Ele ignora minha provocação como sempre e me conduz até o escritório. É o único lugar da casa onde ele parece confortável. É engraçado como até na sala de estar ele parece querer dar ordens.
Sentado na cadeira atrás da enorme mesa de carvalho, ele faz um gesto para que eu me sente também. Sua voz soa casual demais, o que nunca é um bom sinal.
Walter: Espero que a sua operação tenha sido produtiva.
Victor: Chame de inferno, se preferir. Mas vá direto ao ponto, pai. Você nunca me chama aqui para falar sobre a minha vida.
Ele sorri. Um sorriso frio, calculista. É o tipo de expressão que fez com que nossos clientes e sócios sempre cedessem à pressão dele, mas nunca funcionou comigo.
Walter: A empresa está em apuros.
Suspiro. Claro. Sempre a empresa. Não que isso seja novidade, mas a intensidade na voz dele me preocupa.
Victor: Não é o que você sempre diz? E depois descobre uma nova maneira de ferrar com tudo e me chamar de volta?
Walter: Dessa vez é sério. A Ozório Corporation está à beira da falência. Negócios que foram firmes por décadas estão desmoronando. Preciso de uma solução que, para minha sorte, já existe.
O silêncio pesa. Sei que ele quer que eu pergunte, mas não vou dar esse gostinho. Cruzo os braços e o encaro, impassível. Ele se inclina sobre a mesa.
Walter: Camila Alencar.
Minha risada é automática. Walter recua ligeiramente, mas mantém o tom sério.
Victor: Você quer que eu faça negócios com uma influenciadora? O que ela vai fazer, gravar um TikTok para salvar a empresa?
Walter: Você vai se casar com ela.
Engasgo, mas me recupero rapidamente.
Victor: Você enlouqueceu? Nem ao menos conheço essa garota. E, honestamente, tudo o que eu sei é que ela é uma patricinha superficial que vive postando fotos de batom caríssimo enquanto o mundo desaba ao redor.
Walter: Ela não é só uma influenciadora. É a filha de Alencar, nosso principal investidor. Se você não casar com ela, ele retira o apoio financeiro. Isso nos destruiria.
Prendo a respiração, tentando processar o tamanho da insanidade disso tudo. Meu pai realmente esperava que eu resolvesse os problemas da empresa dele com um casamento arranjado?
Victor: E você acha que é assim que funciona? Que eu só preciso ir lá, pedir a mão dela e esperar que ela diga 'sim'?
Walter: Já conversei com o pai dela. Ele concorda, mas ela tem que aceitar. Estou pedindo que você a conheça, Victor. Saia com ela uma vez. Veja como ela é realmente.
Victor: E se eu não gostar dela? Ou, melhor, se ela não gostar de mim?
Walter: Faça ela gostar. Você é bom nisso, não é? Fazer os outros ficarem aos seus pés. Pense nisso como outra missão.
Minha primeira reação é jogar alguma coisa. Talvez o globo terrestre decorativo que ele tem no canto. Mas, em vez disso, me levanto.
Victor: Pai, se você acha que vai me convencer a me casar com alguém só para salvar sua empresa, está mais louco do que eu imaginava. Não conte comigo.
Quando estou quase na porta, a voz dele me alcança.
Walter: Victor, talvez você não queira salvar o meu legado. Mas e o que você vai deixar para Nicolas?
Pausa. Nicolas. Respiro fundo, fecho os olhos por um segundo. Sempre que tento seguir em frente, meu passado me alcança. De costas para ele, respondo baixo:
Victor: Essa foi a cartada errada, pai.
Mas ainda assim... a dúvida já está plantada. Uma vez que algo diz respeito ao futuro do meu filho, eu não consigo deixar para lá. Maldito Walter.
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Personagens:
# Victor Ozório:
# Aline Ferreira/ Camila Alencar:
# Nicolas Ozório:
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Atualizado até capítulo 107
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