( Victor )
Sou pontual, sempre fui. Não importa o quão ridícula seja a situação, como estar aqui, parado na frente desse restaurante chique que mais parece cenário de filme, esperando por Camila Alencar. Já estou odiando cada segundo disso.
Ela chega de carro, claro. Um SUV importado que deve custar todos os órgãos do meu corpo. Ela sai do veículo como se estivesse desfilando em uma passarela, com aquele ar de quem sabe que todo mundo está olhando. Ela é, de fato, bonita. Ambiciosamente bonita. Uma beleza calculada, que depende de maquiadores, luzes perfeitas, e provavelmente um time inteiro de assistentes.
Ela me avista e abre um sorriso de canto, uma expressão que diz “já ganhei esse jogo.” Sim, já odeio tudo nisso.
Camila: Victor Ozório. Pontual. Eu gosto disso.
Victor: Camila Alencar. Ostentação ambulante. Não gosto disso.
Ela dá uma risada suave, completamente artificial, mas que entrega zero desconforto com minha provocação.
Camila: Você é... direto. Algo raro hoje em dia. Vamos?
Entramos no restaurante, e claro, ela já tem a melhor mesa reservada, com vista para algum jardim absurdo que nem consigo prestar atenção. A comida parece coisa de revista de moda – pratos decorados como se comer fosse um crime.
Enquanto ela examina o menu como se estivesse tomando uma decisão política, eu a observo. É interessante como cada gesto dela é ensaiado. Cada sorriso, cada movimento de cabelo... tudo é pensado para impressionar.
Camila: Eu sei que seu pai deve ter te arrastado para isso contra a sua vontade.
Victor: Não diria 'arrastado'. Talvez 'chantageado' seja mais adequado.
Ela sorri como quem já sabia disso.
Camila: Ele é um homem esperto. Sabe que a família Alencar e a Ozório podem fazer coisas grandes juntas.
Victor: Ah, então você vê isso como um negócio. Prático.
Camila: Sou prática. Sempre fui. Por isso estou aqui, Victor. Quero saber o que você tem a oferecer.
A franqueza dela me surpreende. E irrita. Mas isso não significa que vou dar terreno.
Victor: Isso é engraçado, porque eu estava pensando em te perguntar exatamente isso. Além de dinheiro, Camila, o que você tem a oferecer?
Ela fecha o cardápio e se inclina na minha direção, um brilho ambicioso nos olhos.
Camila: Além de dinheiro, Victor? Inteligência, status, contatos e, quem sabe, até algo que você precisa e ainda não percebeu.
A última frase soa mais pessoal do que eu esperava. Ela me observa como se estivesse avaliando um investimento. Eu não gosto de ser tratado como uma transação.
Victor: Você sempre trata seus... encontros assim, ou isso é exclusividade minha?
Camila: Você é diferente, Victor. É prático, frio. Isso combina com o que eu procuro.
Ela para um instante, então solta, casual, mas direta:
Camila: E vou admitir... você é bonito. Isso ajuda.
Se tivesse algo na minha boca, provavelmente eu engasgaria. A mulher é transparente, para não dizer atrevida.
Victor: Bom, pelo menos você é honesta. Mas isso não responde minha pergunta.
Camila: Victor, você acha que eu estou aqui só porque o papai e o seu papai estão brincando de salvar empresas? Eu poderia ter qualquer cara aos meus pés. Mas eu escolhi você. Você deveria se perguntar por quê.
Ela se levanta de repente. Pega a bolsa como se tivesse acabado de decidir algo importante.
Camila: Vamos.
Victor: Vamos? Pra onde?
Camila: Surpresa. Confie em mim.
Minha primeira reação é recusar. Mas, por curiosidade ou puro tédio, acabo indo atrás dela.
Minutos depois, estou parado na entrada de um motel de luxo. Sério isso? Olho para ela, tentando decidir se ela é louca ou apenas me subestimou.
Victor: Você tá falando sério?
Camila Qual é o problema, Victor? Você não sabe aproveitar o momento? Você parece alguém que sempre vive preso às suas regras. Eu quero saber quem você é de verdade.
Ela não está nem um pouco intimidada pela minha expressão. De alguma forma, ela deve achar que tem o controle da situação.
Victor: E o que te faz achar que um motel vai te dar essa resposta?
Camila: Você tem medo do que vai descobrir sobre si mesmo?
É um desafio. Estou preso entre querer explodir de raiva e rir da audácia dela.
Victor: Medo? Não. Só desgosto.
Eu me viro, caminho de volta ao carro, deixando Camila lá, sorrindo com aquele jeito presunçoso que me diz que isso não é nem o começo do jogo dela.
Dentro do carro, eu já sei: lidar com essa mulher vai ser como navegar em território inimigo. O problema é que, quanto mais observo suas estratégias, mais ela consegue entrar no meu radar. E, mesmo odiando isso, reconheço algo: a guerra começou. E eu nunca recuo de uma batalha.
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Atualizado até capítulo 107
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