CAPITULO 4

O dia amanheceu e para quem precisa de uma oportunidade o dia começa cedo. Marcela ainda sentia o cansaço da viagem, mas antes que pudesse se entregar ao sono por mais alguns minutos, Marisa a sacudiu com firmeza.

— Vamos, acorde! Está pensando que vai ter vida boa aqui?

Marcela abriu os olhos devagar, piscando contra a luz que entrava pela janela.

— O que está fazendo? — perguntou com a voz sonolenta.

— Temos que começar a trabalhar. Eu até juntei umas economias para nos manter por algumas semanas, mas não podemos depender disso.

Marcela suspirou, sentando-se na cama e esfregando os olhos.

— Mas trabalhar com o quê? Ainda não sei nada, estou perdida.

Marisa cruzou os braços e disse com impaciência:

— Cláudio conseguiu um trabalho como jardineiro numa mansão e disse que nesse mesmo lugar estão precisando de uma babá para cuidar de duas crianças. Ele falou que você pode fazer isso. Os pais delas trabalham o dia inteiro, e você só vai ser responsável por elas. É uma grana boa, eles pagam por semana, e você ainda come lá.

Marcela franziu a testa.

— Eu vou ter que dormir lá também?

— Não, não. Quando os patrões chegam, você volta pra casa.

— E que horas eles chegam?

Marisa bateu a mão na mesa ao lado.

— Parece que você está escolhendo emprego, garota! Aqui não tem essa. Tem que topar tudo! Eu não sei exatamente a hora que eles chegam, mas você não vai ter trabalho pesado, só cuidar das crianças. E parece que nem são bebês, já são grandinhos.

Marcela respirou fundo, percebendo que não tinha muitas opções. Levantou-se devagar.

— Levanta dessa cama, toma um banho, porque aqui o dia começa cedo.

Marisa saiu do quarto, batendo a porta.

Marcela permaneceu sentada por alguns segundos, olhando para o chão. Inspirou fundo e murmurou para si mesma:

— Espero que meu dia hoje seja ótimo.

Mesmo sem saber o que o aguardava, era o primeiro passo para sua nova vida.

Marcela sentia o coração acelerar à medida que o carro se aproximava das mansões luxuosas do bairro. As ruas eram impecáveis, as calçadas largas e arborizadas, e os portões imponentes escondiam verdadeiros palácios modernos.

— Tem certeza de que o lugar onde vou trabalhar é aqui? — perguntou, ainda desacreditada.

Cláudio sorriu.

— Absoluta. Tenho um amigo que trabalha como jardineiro em uma dessas mansões há anos. Ele já conseguiu juntar dinheiro pra voltar pro Brasil, comprar uma casa e montar um comércio.

Marcela suspirou, os olhos brilhando.

— Esse é um dos meus maiores objetivos… ter minha própria casinha.

— Então se prepare, porque o trabalho aqui paga bem. Eu vou falar com o pessoal da mansão pra ver se deixam você entrar e conversar com alguém responsável. Mas vou logo avisando, nunca vejo a patroa. Metida que só ela.

Marcela riu nervosa.

— Já vi que vou ser humilhada horrores.

Cláudio balançou a cabeça.

— O segredo é ignorar tudo e focar nos seus sonhos. Lembre-se das suas metas. Essa gente aí não muda nunca.

Marcela ficou no carro, observando a movimentação ao redor. Não via ninguém saindo das mansões, apenas um grupo de homens com câmeras enormes nas mãos.

— Paparazzi… — murmurou para si mesma.

Eles estavam ali à espreita, esperando alguma celebridade aparecer. Marcela nunca tinha visto nada assim de perto e se perguntou se um dia se acostumaria com aquele mundo tão distante do seu.

Depois de um longo tempo, Cláudio voltou sorridente.

— Parece que é seu dia de sorte. A patroa está aí e quer falar diretamente com você.

Marcela sentiu um frio na barriga e saiu do carro hesitante. Seguiu Cláudio até o imenso portão, que se abriu automaticamente após um dos seguranças fazer um sinal discreto.

Ao entrar, seus olhos se arregalaram. Uma enorme piscina cristalina ocupava parte do jardim, sendo tratada por um funcionário. O caminho até a entrada da mansão era ladeado por palmeiras perfeitamente podadas, e o chão de mármore branco reluzia ao sol.

Marcela ficou tão deslumbrada que nem percebeu sua boca aberta.

— Fecha a boca, menina. — Cláudio brincou.

Ela riu nervosa e respirou fundo. A qualquer momento, conheceria sua nova patroa. E talvez aquele fosse o começo de uma grande mudança em sua vida.

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