A madrugada era fria e silenciosa quando Marisa, Marcela e Ruan chegaram ao aeroporto. Agasalhados e carregando apenas o essencial, os três aguardavam o embarque, sentados em um dos bancos metálicos do saguão. O brilho das luzes artificiais refletia no chão lustroso, enquanto as vozes dos passageiros misturavam-se aos anúncios constantes nos alto-falantes.
Marcela estava pensativa. O coração batia acelerado com a incerteza do que viria pela frente. Por um lado, sentia esperança de recomeçar, de deixar para trás as dificuldades e encontrar um futuro melhor. Por outro, o medo do desconhecido a atormentava.
— A essa hora o Evandro já deve estar nos procurando — disse, cruzando os braços e lançando um olhar preocupado para a tia.
Marisa, por sua vez, suspirou pesadamente, sem demonstrar arrependimento algum.
— Eu quero que ele se dane! Dez anos vivendo com aquele homem, ouvindo promessas de mudança… Eu não acredito mais nele.
Marcela assentiu lentamente. Sabia que a tia tinha razão, mas ainda assim, aquilo era um risco.
— Mas lá já tem emprego garantido? — perguntou, tentando manter os pés no chão.
— O Cláudio disse que sim. Trabalho não falta — Marisa respondeu com confiança.
Uma pequena chama de esperança acendeu no coração de Marcela. Poderia finalmente mudar de vida. Mas outra dúvida surgiu.
— E quanto ao idioma?
Marisa deu um leve sorriso.
— A gente improvisa. Não fica sendo pessimista, isso não combina com você.
Antes que pudessem continuar a conversa, um anúncio ecoou no alto-falante: “Senhores passageiros, embarque autorizado para o voo com destino a Las Vegas.”
O coração de Marcela acelerou. Era o momento. Os três se levantaram e seguiram em direção ao portão de embarque.
No avião, Marcela sentou-se ao lado de Ruan, que olhava encantado pela janela. Nervosa, ela apertou a mão do primo e fechou os olhos.
— Espero que essa viagem seja rápida… — murmurou.
Marisa, mexendo no celular, nem percebeu o comentário da sobrinha.
Bem-vindos a Las Vegas
Após horas de voo e uma longa burocracia na imigração, os três finalmente conseguiram pisar em solo americano. Haviam informado que ficariam no país por seis meses e, para a sorte deles, foram autorizados a entrar sem grandes dificuldades.
O Aeroporto Internacional McCarran, em Las Vegas, era um verdadeiro espetáculo para os recém-chegados. Telões brilhantes piscavam com propagandas dos famosos cassinos da cidade, e máquinas caça-níqueis espalhadas pelo saguão davam um gostinho do que os aguardava. O movimento era intenso, com turistas apressados, famílias chegando e empresários caminhando de um lado para o outro.
Marcela sentiu-se deslocada. O inglês falado ao redor parecia um zumbido incompreensível. Tudo era tão diferente, tão grandioso.
De repente, uma voz familiar os chamou:
— Marisa! Tudo bem com vocês?
Eles se viraram e viram Cláudio, o vizinho que lhes prometera a oportunidade. Ele caminhava em direção a eles com um sorriso largo, parecendo completamente à vontade naquele ambiente.
Marisa suspirou aliviada.
— Estava com medo de ficar aqui sem conhecer ninguém.
Cláudio riu.
— Me acompanhem, eu disse que ia dar tudo certo. Vou levar vocês para minha casa.
Marcela olhou para Ruan, que estava maravilhado com tudo ao redor. Pela primeira vez em muito tempo, um sorriso genuíno surgiu em seu rosto.
Talvez essa fosse, de fato, a chance que tanto esperavam.
Em Minas Gerais
Evandro chegou em casa sem estar bêbado, um fato raro nos últimos anos. Ao abrir a porta, chamou por Marisa, mas não obteve resposta. Andou pela casa, conferiu cada cômodo—o quarto, a cozinha, até o quintal—e nada.
Ele parou no meio da sala, fitando o vazio. De repente, soltou uma gargalhada alta, batendo palmas como se tivesse acabado de ganhar um prêmio.
— Ela foi embora… tudo que eu queria! — exclamou, ainda rindo.
Seus olhos brilharam com uma mistura de alívio e satisfação. Marisa e os outros tinham partido, e agora a casa era só dele. Mas, no fundo, talvez um resquício de solidão já começasse a surgir.
Em Las Vegas – Bairro Spring Valley
Nos Estados Unidos, depois de uma longa viagem, Cláudio levou Marcela, Marisa e Ruan para sua casa em Spring Valley, um bairro de classe média baixa em Las Vegas. As ruas eram movimentadas, cheias de pequenos comércios e casas modestas, algumas com jardins bem cuidados e outras com aparência um pouco mais descuidada.
A casa de Cláudio era simples, mas aconchegante. Ao chegarem, sua esposa os recebeu com um largo sorriso, abrindo os braços para dar boas-vindas.
— Sejam bem-vindos! Aqui não tem luxo, mas tem muita acolhida.
Os três foram conduzidos a um pequeno quarto, onde ficariam hospedados. Havia uma cama de casal e um colchão no chão, além de um armário pequeno e uma janela que dava para o quintal.
Exausta, Marcela deitou-se na cama ao lado de Ruan, enquanto Marisa permaneceu na sala conversando com Cláudio sobre os próximos passos.
No quarto, Ruan virou-se para Marcela e perguntou:
— Você está pensativa?
Ela suspirou e olhou para o teto.
— Só estou preocupada… Como vamos viver em um país diferente, sem conhecer ninguém, sem falar inglês direito?
Ruan sorriu com a inocência de seus oito anos e disse com firmeza:
— Eu tenho certeza que aqui vamos ser felizes.
Marcela não pôde deixar de sorrir. Abraçou o primo com carinho e sussurrou:
— Eu também espero…
Naquela noite, mesmo cercada de incertezas, ela finalmente adormeceu com uma sensação de esperança.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Dione Lopes
Agora começa um novo recomeço para os três em pais estranho mas com ótima oportunidade de recomeçar uma nova vida, vai ter obstáculos claro o idioma costumes diferentes.
2025-02-13
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