CAPITULO 1

A chuva batia forte nas vidraças da janela enquanto Marcela caminhava pelas ruas molhadas de sua cidade. O cansaço a consumia, depois de um dia inteiro entregando currículos no comércio local. Nada parecia dar certo, e o desânimo tomava conta de sua alma. Ao virar a esquina, gritos cortaram a noite silenciosa, fazendo seu coração disparar.

Assustada, ela olhou para os lados, tentando entender a origem daquele som. Sem pensar duas vezes, correu para casa. Ao abrir o portão, a cena que encontrou a fez congelar. Sua tia Marisa estava caída no chão, com a mão no rosto, os olhos inchados de tanto chorar. Ruan, seu primo, estava ajoelhado ao lado dela, também chorando.

— Tia Marisa! — gritou Marcela, correndo até ela e se ajoelhando ao seu lado. — O que aconteceu?

Sua tia levantou os olhos para ela, mas não conseguia falar, tamanha a dor e o medo. Marcela virou a cabeça para ver o que a tinha causado tanto sofrimento, e lá estava ele: o marido de sua tia, com um litro de cachaça na mão, tentando se equilibrar, mas sem conseguir esconder a raiva que o dominava.

— Eu quero vocês todos longe da minha casa! — ele gritou, a voz embriagada e ríspida.

Marcela, furiosa, se levantou e avançou na direção dele.

— O que você fez com ela? Você não pode fazer isso! — disse, o coração batendo forte, mas a coragem falando mais alto.

O homem bufou, batendo no peito como se fosse algo para se orgulhar.

— Eu faço o que eu quiser porque a casa é minha! — ele disse, tentando manter-se em pé, mas o álcool em seu corpo estava começando a lhe tirar a razão.

Marcela segurou a mão de sua tia e ajudou-a a se levantar. Seu primo Ruan, ainda com os olhos cheios de lágrimas, pegou sua mão e, sem dizer nada, se deixou levar por ela até o quarto. Marcela jogou a bolsa na cama e, sem pensar duas vezes, trancou a porta atrás de si.

— Fiquem aqui, tá? Eu vou ver o que consigo fazer — Marcela disse, tentando manter a calma.

Marisa, ainda chorando, se sentou na beira da cama. Ruan, com os braços ao redor dela, sussurrou:

— Mãe, por que você está chorando tanto?

A dor no coração de Marcela se multiplicou, mas ela tentou manter a voz firme.

— Porque ele bebe e vira outra pessoa, Ruan. Ele não é mais o mesmo. Eu não sei até quando vou aguentar isso — respondeu Marisa, entre soluços.

De repente, um estrondo na porta fez Marcela se aproximar dela, empurrando as camas contra o batente. O homem estava do lado de fora, batendo com toda a força na porta, gritando ameaças que Marcela nem queria ouvir.

— Fiquem em silêncio, por favor! — Marcela sussurrou. — Ele não pode entrar aqui ou ele fará algum mal a nós três. Só precisamos esperar até ele cansar.

Marisa olhou para a sobrinha, mas seu olhar estava cheio de medo.

— Eu vou ligar para a polícia, Marcela! Ele vai nos machucar de novo!

Marcela, então, segurou a mão de sua tia e olhou nos olhos dela, tentando passar a segurança que ela mesma não sentia.

— Não faça isso, tia, por favor. Pode ser ainda pior se ele souber que chamamos a polícia. Ele vai ficar mais agressivo. Vamos esperar que ele se acalme. Eu prometo que nada vai acontecer com a gente.

Do lado de fora, o barulho de passos e mais gritos enchia o corredor da casa. Marcela sabia que o homem estava perdido em sua raiva e embriaguez, mas ela não poderia deixar que ele vencesse. Não enquanto ela tivesse forças para proteger a sua tia e seu primo. O medo ainda pairava no ar, mas Marcela não iria desistir.

Com o coração apertado, ela segurou mais forte as mãos de sua tia e de Ruan, sentindo que, juntos, eles conseguiram ser mais fortes que o furor da tempestade que se abatia sobre eles.

O quarto estava silencioso, exceto pelo leve som da respiração de Ruan, que adormecera profundamente no colo de Marisa. Marcela ainda estava alerta, sentada em frente à porta, observando cada movimento do lado de fora. A chuva já diminuíra, mas o som das gotas ainda ecoava suavemente pela casa, uma lembrança constante do caos que acontecia lá dentro.

As horas passaram lentamente, e o barulho do homem nas proximidades se tornou mais espaçado até que, finalmente, ficou em silêncio. Marcela, ainda cautelosa, olhou pela fechadura e viu que ele estava, finalmente, dormindo no sofá da sala. Era sua chance de respirar aliviada.

Ela empurrou as camas, dando espaço para a porta se abrir, mas Marisa a interrompeu, o medo novamente estampado no rosto.

— Espera, ele pode estar acordado... — Marisa disse, olhando ansiosamente para a porta.

Marcela sorriu levemente, tentando transmitir confiança.

— Preciso tomar um banho, e eu acho que ele dormiu no sofá. Vou ver. — disse ela, enquanto girava a maçaneta e abria a porta com cuidado.

Com o coração acelerado, Marcela espiou pela porta. Lá estava o homem, deitado no sofá, completamente entregue ao sono, a garrafa de cachaça caída ao seu lado. Ela soltou um suspiro de alívio, aliviando um pouco o peso que carregava desde o início daquela noite.

— Ele está dormindo — disse Marcela, fechando a porta com cuidado.

Marisa, que ainda estava abraçada ao filho, olhou para ela, seus olhos cansados, mas com uma leve esperança.

— Pelo menos vamos dormir tranquilas, tia. Ele está dormindo no sofá. Acho que teremos uma noite sem sustos. — Marcela tentou passar uma tranquilidade que não sentia completamente.

Marisa passou a mão pelos cabelos, os olhos cheios de cansaço, e seu rosto se fechou, dando lugar a uma expressão de desespero.

— Não aguento mais, Marcela. Não suporto mais. A casa é desse homem, e ele joga isso na nossa cara todo dia. Ele nos humilha, nos maltrata... Eu preciso dar um jeito na minha vida. Não posso continuar assim.

As palavras de sua tia foram como um soco no estômago de Marcela. Ela sabia o quanto Marisa sofria com tudo aquilo, mas o que ela podia fazer? Marcela se sentiu impotente, observando sua tia, que parecia estar no limite, um reflexo da sua própria dor.

Enrolada na toalha, Marcela ficou parada, sem saber o que dizer. A situação parecia sem saída, e as palavras não eram suficientes para consolar Marisa. O silêncio entre as duas se estendeu, preenchido apenas pelo som do vento lá fora e pela respiração tranquila de Ruan, que finalmente tinha encontrado um pouco de paz.

Marcela sabia que, enquanto o marido de sua tia estivesse na casa, nada seria realmente seguro. Mas, por um momento, ela permitiu-se acreditar que talvez houvesse uma saída. Se não para hoje, talvez para o futuro. Ela só precisava encontrar a força para ajudar sua tia a encontrar o caminho de volta à vida dela, longe de toda aquela dor.

Mas, por enquanto, o que restava era aguardar. A espera pela manhã era, talvez, a única coisa que lhes dava alguma esperança de um novo começo.

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Claudia

Claudia

Mirlane essa história promete pois é um assunto que envolve várias mulheres 😥😥😥😥😥😥🧿♾

2025-02-11

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