Duas semanas. Passaram duas semanas e ainda me sinto como se estivesse presa, enclausurada. A minha mente construiu muros que talvez nunca consiga quebrar.
Talvez ele tenha ferido minha alma mais do que imaginei. Me fiz de forte, mas estou quebrada, e talvez nunca mais consiga me sentir realmente livre.
— Mamãe, está acordada?
A voz de Bia me desperta de meus devaneios. Encaro minha filha, já com seu novo uniforme e seu tênis vermelho nos pés.
— Amor, está ansiosa para o seu primeiro dia de aula na escola nova?
Sondei seu rostinho e vislumbrei um sorriso tímido. Ela, eu posso dizer que será livre. Farei até o impossível para isso.
— Mamãe, levanta! Vamos nos atrasar!
Olhei no relógio e vi que estávamos no horário. Me levantei para o nosso primeiro dia de aula. Fiquei feliz que a Ângela, a assistente social, conseguiu me ajudar com isso: um emprego e, ainda, uma vaga para Bia como filha de funcionária.
— Se arruma logo, mamãe! Estou com fome!
Me arrumei rapidamente e fui à cozinha. Servir um bolo de cenoura e um copo de leite para Bia. Estava nervosa demais para comer.
A escola é próxima da nossa casa, pelo menos pelos próximos três meses. Mas, assim que me firmar no emprego, creio que conseguirei algum lugar para morarmos por aqui mesmo, bem longe do Rio de Janeiro.
Caminhamos alguns minutos. Algumas crianças seguiam no mesmo sentido, com o mesmo uniforme, acompanhadas pelos pais. Outras seguiam sozinhas. Há duas escolas municipais, mas consegui emprego na única particular da pequena cidade.
— Bom dia!
Uma moça uniformizada na entrada da escola recebendo as crianças, nos cumprimenta sorridente. Essa eu não conheci no dia da minha entrevista.
— Bom dia! Sou nova funcionária, o meu nome é Linda.
Disse e ela abriu espaço para que eu entrasse.
— Seja bem-vinda! Você também, bonequinha! Eu sou a Maria.
Tocou a cabeça da minha Bia, que sorriu.
— Obrigada.
Entramos e deixei Bia na porta de sua sala, já havia conhecido a sua professora. Em seguida, segui para a sala da diretora.
— Olá, bom dia, Marina!
Cumprimentei a diretora e dona da escola. Ela foi muito simpática e se solidarizou comigo. Sabendo da minha situação, se disponibilizou a me ajudar no que fosse possível. Esconder o paradeiro da Bia de qualquer curioso já é suficiente para mim.
— Oi, Linda! Bom te ver. Vem, vou te apresentar para seus novos alunos. O primeiro ano é uma turma muito animada. Sei que vão amar a nova professora deles!
Dizia enquanto andávamos por um corredor com seis salas.
Paramos na última porta. As crianças estavam conversando animadas, rindo. Me lembrei do meu estágio. Foi um período tão diferente da minha vida…
— Bom dia!
Marina disse entrando. Eu a segui, coloquei minha bolsa na mesa e observei as crianças correrem para alcançar seus lugares.
— Bom dia, diretora Marina!
Ouvi as vozes alegres infantis como se fossem um coral e sorri verdadeiramente. Me senti alegre ao ouvir suas vozes.
— A partir de hoje, vocês têm uma professora nova. Então, turminha, me deixem orgulhosa!
Burburinhos. As vozes deles inundaram a sala, mesmo cochichando.
— Vou deixar você se apresentar e conhecer sua turminha.
Marina tocou meu braço e saiu da sala, me deixando com os olhares curiosos sobre mim.
— Bom dia! Meu nome é Linda, e eu quero que vocês me ajudem. Eu preciso saber onde vocês estão na apostila, mas primeiro vou conhecer vocês. Farei a chamada e quero que, ao ouvirem seus nomes, se levantem e digam sua cor favorita e a brincadeira que mais gostam.
Eles sorriram e pareceram atentos. Me sentei, peguei a pasta com a lista de chamada e passei os olhos pela lista. Tenho doze alunos.
— Aline.
— Presente! Minha cor favorita é azul e eu gosto de brincar de boneca.
Uma garotinha linda, de cabelos cacheados e olhinhos castanhos, narizinho arrebitado, sorriu ao se sentar.
— Diego.
— Presente! Eu gosto de verde e de pega-pega.
Disse, sentando-se mais rápido ainda do que se levantou. Um garotinho de olhos castanhos, cabelos pretos e boquinha carnuda.
— Eliana.
— Presente! Rosa! E esconde-esconde com a minha mãe.
Se sentou fazendo charminho. A garotinha de cabelos pretos e olhos verdes.
— Gabriela.
— Presente! Rosa! E eu gosto da minha boneca.
Se sentou e se virou para trás ao ouvir uma risadinha. Olhou de cara feia para o garotinho sentado atrás dela.
— Isabel.
— Presente! Eu gosto de andar a cavalo e gosto de rosa.
A garotinha de olhos azuis e cabelo loiro e lisos.
— Isaac.
— Presente! Eu gosto do meu cavalo Romeu, como o meu pai. E gosto de preto, também como meu pai.
Disse o garotinho de olhos azuis e cabelo loiro. Olhei na lista. Tem o mesmo sobrenome de Isabel. Vilar. São gêmeos.
— Karen.
— Presente! Vermelho! E jogar no meu celular.
Se sentou fazendo charminho. A garotinha ruiva, cheia de pulseiras e olhos verdes.
— Maria Eduarda.
— Não veio. A Maria Vitória também não.
Karen disse, olhando para as unhas pintadas de rosa. Observei os gêmeos. Isaac cochichava no ouvido de Isabel. Ele olhou para mim e sorriu genuinamente.
— Yuri.
— Presente! Gosto de jogar futebol e de azul.
Disse em pé, cheio de carisma. Olhou em volta antes de se sentar.
— Prazer conhecer vocês! Eu gosto de azul, rosa, verde, vermelho e preto também. E adoro brincar de tudo. Vamos começar uma brincadeira diferente.
Olhinhos atentos. É o que vislumbrei. Senti orgulho. Sempre quis dar aulas, ter esse contato com as crianças. Estudei com um objetivo. Engravidei durante o curso, e minha vida mudou totalmente.
— Será assim: vocês já repararam quantas cores temos nessa sala? Escolham uma cor de cada vez e procurem objetos, tintas, giz e lápis da mesma cor que vocês disseram ser suas favoritas. Faremos um quadro das cores!
Meu primeiro dia foi ótimo. As crianças foram maravilhosas, brincalhonas e são muito alegres.
Bia voltou comigo com o semblante feliz. Como ansiei vê-la assim. Jamais devia ter deixado chegar onde chegou.
Cansada, jantamos e nos preparamos para dormir. Me deitei e o telefone residencial tocou. Me assustei. Até então, só tocou uma vez, quando Ângela ligou avisando da entrevista. Atendi.
— Alô.
Esperei que o outro lado respondesse.
— Oi, Linda. É a Ângela. Liguei para conversar com você sobre o Luiz. Ele quer ver a Bianca. Mas é você quem escolhe se precisam de mais tempo.
Por mim, ele nunca mais colocaria os olhos nela. Mas não seria justo. Ele é o pai. Mesmo a contragosto…
— Ângela, oi. Eu vou conversar com ela, mas nos dê um mês. Ela está se adaptando à escola nova.
A ouvi digitando o que parecia ser um teclado de computador por alguns segundos.
— Tudo bem. Falo com ele. E, se precisar, me ligue a qualquer hora.
Ângela se mostrou muito compreensível e com uma enorme empatia, fora que muito competente. Me ajudou em tudo. Mais do que meu irmão deveria. Só que ele é tão babaca quanto Luiz.
Nos despedimos e eu me deitei. Aqui era sempre tudo tão silencioso… Até uns grilos dava para ouvir durante a noite.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Rita do Socorro Caldas Silva
a criança pode decidir, se quer ver ou não. pois foi muito machucada tb.
2025-03-24
0
Dulce Gama
jesus será que ele não vai usar a filha pra querer se a próxima é de linda 🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹👍👍👍👍👍
2025-02-09
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