RF - 3 anos depois pt. 2

...
Michael estava sentado em uma das cadeiras acolchoadas que ficavam na parte de trás do solário; seus olhos estavam fixos aos meus, parecendo extremamente calmos.
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𝙈𝙞𝙘𝙝𝙖𝙚𝙡.
"Aquele que não era nem um pouco gentil."
"Aquele que nunca foi bondoso comigo."
Senti o aperto na garganta, e tentei engolir, mas não conseguia me mover.
Eu simplesmente o encarei, paralisada. Ele esteve ali o tempo todo, desde o momento em que entrei?
Ele se recostou na cadeira, praticamente envolto pela escuridão e as sombras das árvores acima. próximo ao seu pé uma bola de basquete, e em uma das mãos uma taça gapendurada entre seus dedos. Meu coração começou a bater tão descompassado que chegava a doer.
𝑶 𝒒𝒖𝒆 𝒆𝒍𝒆 𝒆𝒔𝒕𝒂𝒗𝒂 𝒇𝒂𝒛𝒆𝒏𝒅𝒐?
Ele ergueu a garrafa até seus lábios, ainda me observando, e desviei o olhar por um segundo, sentindo o embaraço tomar conta do meu rosto.
Ele presenciou todo o episódio com Trevor.
𝙋𝙤𝙧𝙘𝙖𝙧𝙞𝙖
Olhei para cima outra vez, admirando o cabelo castanho num estilo que o deixava digno de uma capa de revista, e os olhos cor de mel, que mais se pareciam cidra com manchas de especiarias. Na escuridão, eles pareciam mais escuros do que realmente eram por baixo das sobrancelhas estreitas e castanhas que se inclinavam no centro fazendo-o parecer mais formidável do que já era. Os lábios cheios não mostravam um pingo de sorriso, e a sua estrutura física praticamente dominava a cadeira.
Estava usando calça social com apenas a camisa social branca que estava aberta no colarinho e sem gravata
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Porque, como sempre
Ele fazia apenas o que queria.
E isso era tudo o que qualquer pessoa poderia usar para descrevê-lo. Como ele surgia. Como ele se parecia. Acho que nem mesmo os pais dele sabiam o que se passava por trás daqueles olhos. Observei o momento em que ele se levantou da cadeira e deixou rolar a bola de basquete para um pouco mais longe do assento, mantendo os olhos focados em mim enquanto caminhava. Quanto mais perto chegava, mais alto se parecia em seus 1,93m. Michael era magro, mas musculoso, e me fazia sentir pequena. De várias formas.
Era como se estivesse caminhando diretamente para mim, e meu coração começou a martelar no peito enquanto eu estreitava os olhos, abraçando meu próprio corpo. No entanto, ele não parou. O leve toque de seu sabonete líquido me atingiu quando passou por mim, e virei a cabeça, meu peito doendo enquanto ele deixava o solário sem dizer uma palavra sequer.
Mordi os lábios, lutando contra as lágrimas.
𝖀𝖒𝖆 𝖓𝖔𝖎𝖙𝖊, 𝖊𝖑𝖊 𝖒𝖊 𝖓𝖔𝖙𝖔𝖚.
U̳m̳a̳ ̳n̳o̳i̳t̳e̳,̳ t̳r̳ê̳s̳ ̳a̳n̳o̳s̳ ̳a̳t̳r̳á̳s̳,̳ ̳ M̳i̳c̳h̳a̳e̳l̳ ̳v̳i̳u̳ ̳a̳l̳g̳o̳ ̳e̳m̳ ̳m̳i̳m̳ ̳e̳ ̳g̳o̳s̳t̳o̳u̳.̳
E, da mesma forma que o fogo começou a acender, prestes a explodir em meio às chamas, se extinguiu. Escondeu-se ante a raiva e o calor, e foi contido. Saí em disparada dali, em direção à casa, através do saguão e pela porta da frente. Raiva e frustração castigando cada nervo do meu corpo enquanto andava até o meu carro. Sem contar com aquela noite, ele me ignorou pela maior parte da minha vida, e sempre que dirigiu a palavra a mim, era como um corte afiado. Engoli o nó na garganta e entrei no carro. Esperava que nunca o encontrasse em Meridian. Esperava que nossos caminhos nunca se cruzassem e que nunca tivesse que saber notícias dele. Eu me perguntava se ele ao menos sabia que estava me mudando para lá. Não importava, de qualquer forma. Mesmo que morássemos na mesma casa, era como se habita se outro planeta, que não era o dele. Definitivamente. Assim que dei partida no carro, 37 Stitches, do Drowning Pool, começou a tocar pelos alto-falantes, e acelerei pela longa entrada da mansão, apertando o controle para abrir os portões. Pisei mais fundo ainda na estrada. Minha casa ficava a poucos minutos de distância dali e era um percurso tranquilo que fiz muitas vezes na minha vida. Inspirei profundamente, tentando me acalmar.
𝑫𝒐𝒛𝒆 𝒉𝒐𝒓𝒂𝒔.
Amanhã eu deixaria tudo isto para trás. Os imensos muros de pedra da propriedade dos Crist já não estavam à vista, dando lugar às árvores que flanqueavam a estrada. E, em menos de um minuto, as lâmpadas dos postes da minha casa apareceram, iluminando a noite. Desviando à esquerda, acionei outro botão no painel e atravessei os portões com meu Tesla, vendo que as lâmpadas externas lançavam um brilho suave ao redor da entrada de veículos circular, com uma imensa fonte no centro.
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Estacionando o carro em frente à propriedade, corri até a porta, apenas querendo rastejar para debaixo das cobertas até que a manhã chegasse. No entanto, ao olhar para cima, fiquei surpresa ao ver uma vela acesa na janela do meu quarto. O quê? Não estive em casa desde o fim da manhã. E, certamente, não deixei uma vela acesa De cor marfim, estava situada dentro de um castiçal de vidro cilíndrico.
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Fui até a porta, destranquei e entrei.
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Erika Isla Fane
Erika Isla Fane
— Mãe?
Ela havia me enviado uma mensagem de texto mais cedo, dizendo que ia dormir, mas não era incomum que tivesse problemas para isso. Ela ainda devia estar acordada. O perfume familiar de lírios penetrou pelas minhas narinas, por conta das inúmeras flores que ela mantinha pela casa, e olhei ao redor do hall de entrada; o piso em mármore parecendo cinza na escuridão. Inclinei-me contra as escadas, observando os segundo andar em um silêncio sinistro.
Erika Isla Fane
Erika Isla Fane
— Mãe?
Dessa vez gritando
Circulando o corrimão preto, subi os degraus às pressas até o segundo andar e virei à esquerda; meus passos agora eram mais lentos, soando silenciosos contra o chão.
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Abri a porta do quarto da minha mãe, de leve, e entrei, vendo o lugar em total penumbra, exceto pela luz do banheiro acesa, que ela sempre deixava. Andando até a cama dela, estiquei o pescoço, tentando vislumbrar seu rosto virado para as janelas. O cabelo loiro estava esparramado sobre o travesseiro, e estendi a mão para afastar uma mecha de seu rosto. O movimento de seu peito, subindo e descendo, mostrava claramente que ela estava adormecida. Um olhar para sua mesinha e vi meia-dúzia de frascos de comprimidos, me perguntando qual deles e quantos ela havia ingerido. Olhei de volta para ela, com o cenho franzido. Médicos, reabilitação domiciliar, terapia... Por anos, desde a morte do meu pai, nada funcionou. Minha mãe queria se autodestruir em um processo de luto e depressão. Ainda bem que tivemos a ajuda dos Crist, e era por isso que eu tinha meu próprio quarto na casa deles. Não somente o Sr. Crist, sendo o administrador do fundo fiduciário de todos os bens do meu pai, até que eu me formasse na universidade, mas também a Sra. Crist, que agiu como uma espécie de segunda mãe para mim. Eu era muito grata por todo o cuidado e ajuda deles por anos... mas agora... estava pronta para assumir tudo. Estava pronta para cuidar da minha própria vida, sem a ajuda dos outros.
Saí do quarto da minha mãe em completo silêncio e fechei a porta, seguindo direto para o meu próprio, duas portas depois.
Quando dei um passo para dentro, deparei com a vela que ainda queimava próximo à minha janela. Com o coração acelerado, olhei rapidamente ao redor, não vendo ninguém. Ainda bem. Teria sido minha mãe quem acendeu a vela? Pode ter sido. Nossa governanta estava de folga hoje, então mais ninguém esteve em casa. Comprimi os olhos e me aproximei devagar da janela, até que meu olhar aterrissou em uma caixa de madeira estreita sobre a pequena mesa redonda perto da vela.
Quando dei um passo para dentro, deparei com a vela que ainda queimava próximo à minha janela. Com o coração acelerado, olhei rapidamente ao redor, não vendo ninguém. Ainda bem. Teria sido minha mãe quem acendeu a vela? Pode ter sido. Nossa governanta estava de folga hoje, então mais ninguém esteve em casa. Comprimi os olhos e me aproximei devagar da janela, até que meu olhar aterrissou em uma caixa de madeira estreita sobre a pequena mesa redonda perto da vela.
Senti-me inquieta. Será que Trevor havia deixado aquilo de presente para mim? Mas poderia ter sido minha mãe, ou até mesmo a Sra. Crist. Talvez. Removi a tampa e a coloquei de lado, retirando o papel de seda, e tive o vislumbre de um metal cinza-chumbo com detalhes entalhados. Arregalei os olhos, e imediatamente enfiei a mão na caixa, sabendo exatamente o que eu encontraria. Curvei os dedos ao redor do cabo e sorri, retirando uma pesada lâmina de aço.
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Erika Isla Fane
Erika Isla Fane
— Uau...
Balancei a cabeça, incapaz de acreditar. A adaga tinha o cabo preto, e a empunhadura da capa prateada em forma de cruz. Apertei o agarre sobre ela, erguendo a lâmina para observar os entalhes alinhados. De onde diabos isso veio? Eu amava punhais e espadas desde aue comecei a praticar esgrima aos oito anos de idade. Meu pai dizia que as artes de ser um cavalheiro não eram apenas atemporais, mas necessárias. O xadrez me ensinaria estratégias; Com a esgrima eu aprenderia sobre a natureza humana e autopreservação; e a dança instruiria o meu corpo. Tudo o que é necessário para a formação de uma pessoa.
Segurei o cabo, lembrando-me da primeira vez que ele colocou um Florete de esgrima na minha mão. Era a coisa mais linda que já tinha visto, e ergui a mão, deslizando um dedo pela cicatriz no meu pescoço, de repente, me sentindo próxima a ele outra vez. Quem havia deixado isso aqui? Espiando dentro da caixa, peguei um pequeno pedaço de papel escrito com caneta preta. Lambendo os lábios, li as palavras em silêncio.
" Cᴜɪᴅᴀᴅᴏ ᴄᴏᴍ ᴀ ғᴜ́ʀɪᴀ ᴅᴇ ᴜᴍ ʜᴏᴍᴇᴍ ᴘᴀᴄɪᴇɴᴛᴇ. "
Erika Isla Fane
Erika Isla Fane
— O quê?
Murmurei para mim mesma, franzindo as sobrancelhas em confusão. O que isso significava? Então ergui o olhar e deixei a lâmina e o pedaço de papel caírem no chão. Parei de respirar, sentindo o coração querendo arrebentar meu peito. Três homens estavam parados do lado de fora da minha casa, lado a lado, me encarando através do vidro da janela. Aquilo era uma brincadeira? Eles permaneciam imóveis, e senti um arrepio correr pela minha pele ao ver a forma como me encaravam. O que estavam fazendo? Os três usavam jeans e coturnos pretos, mas quando olhei para o vazio negro de seus olhos, cerrei os dentes tentando evitar que meu corpo inteiro tremesse. As máscaras. Os moletons pretos e as máscaras. Balancei a cabeça. Não. Não poderia ser eles. Aquilo só podia ser uma brincadeira. O mais alto estava de pé, à esquerda, usando uma máscara cinza. metalizada com marcas de garras deformando o lado direito de seu rosto.
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O do meio era o mais baixo, e olhava para mim através de sua máscara preta e branca com uma lista vermelha ao longo de sua face esquerda, que também parecia cortada e rasgada.
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E o que se mantinha à direita, com a máscara totalmente negra e oculta por baixo do capuz, o que impossibilitava que seus olhos ficassem à vista, era o que, finalmente, me fez estremecer.
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Dei um passo para trás, para longe da janela, e tentei resgatar o fôlego enquanto pegava o telefone. Pressionando a tecla 1 na linha fixa, esperei que alguém atendesse na sala de segurança, situada a alguns minutos dali.
Chefe da Equipe de Segurança Sr. Fane
Chefe da Equipe de Segurança Sr. Fane
— Sra. Fane?
Erika Isla Fane
Erika Isla Fane
— Sr. Ferguson?
Respirei fundo, espiando pela janela.
Erika Isla Fane
Erika Isla Fane
— Aqui é a Rika. Será que você poderia enviar um carro até...
Erika Isla Fane
Erika Isla Fane
Interrompi o que ia dizer ao perceber que a entrada da propriedade agora estava deserta. Eles tinham ido embora. O quê? Desviei o olhar para a esquerda e direita, inclinando-me sobre a mesa para ver se eles tinham se aproximado da casa. Onde diabos tinham se enfiado? Fiquei calada, atenta a qualquer ruído ao redor da casa, mas tudo estava tranquilo e quieto.
Chefe da Equipe de Segurança Sr. Fane
Chefe da Equipe de Segurança Sr. Fane
— Senhorita Fane?
Chefe da Equipe de Segurança Sr. Fane
Chefe da Equipe de Segurança Sr. Fane
— Ainda está na linha?
Abri a boca e gaguejei:
Erika Isla Fane
Erika Isla Fane
— Eu... e-eu pensei ter visto alguma coisa... do lado de fora da minha janela.
Chefe da Equipe de Segurança Sr. Fane
Chefe da Equipe de Segurança Sr. Fane
— Vou mandar um carro da segurança agora mesmo.
Erika Isla Fane
Erika Isla Fane
— Obrigada.
Desliguei o telefone, ainda encarando a janela. Não poderia ser eles. Mas aquelas máscaras... Eles eram os únicos que usavam aquelas máscaras. Por que eles vieram aqui? Depois de três anos...
P̲o̲r̲ ̲q̲u̲e̲ ̲v̲i̲e̲r̲a̲m̲ ̲a̲t̲é̲ ̲a̲q̲u̲i̲?̲
...
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Comments

Anonymous

Anonymous

Ele é uma delícia 🤒

2025-03-27

3

Lourival Reis Vilar

Lourival Reis Vilar

adadorei /Kiss/

2025-03-10

2

REIN

REIN

Mal posso esperar pelo próximo!

2025-02-06

2

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