Eu paro, completamente paralisada. O ar parece desaparecer de repente, e meu corpo reage com um frio que me faz estremecer. Eu sabia que o medo ia voltar, mas não dessa forma. Não aqui, não agora. Lá estava ele, o monstro do meu passado, em pé à minha frente, com aquele uniforme de guarda de aeroporto. Ele trabalha aqui? Como isso é possível?
Ele me olha com aquele sorriso, aquele sorriso que me gela por dentro. Eu reconheço a maldade nele, algo que nunca vou conseguir esquecer. O medo me consome, mas a raiva também, e tudo que eu consigo fazer é me afastar um passo, colocando minha mochila na frente de mim, como se fosse uma barreira entre nós dois.
Ei, garotinha. Precisa de ajuda com as malas? – Ele diz com aquele tom sarcástico, zombeteiro, como se estivesse gostando de me ver assim, frágil, no mesmo lugar.
Eu engulo seco, meu coração bate tão rápido que acho que ele pode ouvir. Sinto as mãos tremendo, mas minha voz sai firme, quase sem querer:
Não.
Mas ele não se afasta. Pelo contrário. Ele dá um passo mais perto, e eu sinto o pânico crescer dentro de mim. Eu queria sair correndo, mas meus pés estão colados ao chão, como se o peso do passado ainda tivesse me aprisionado ali. Ele se inclina para perto de mim, seu hálito quente no meu pescoço. O medo me paralisa, mas uma parte de mim começa a gritar, pedindo para que eu reaja.
Ele sussurra, baixo, quase como um veneno no meu ouvido:
Sabia que você voltaria pra mim.
Eu congelo. O que ele quer dizer com isso? Como ele sabe? O que ele sabe de mim? O que ele fez? O pânico me engole, mas eu não posso deixar ele perceber o quanto estou assustada. Eu não posso. Tenho que lutar. A cada palavra dele, o meu corpo grita em pânico, mas minha mente tenta buscar forças.
Eu consigo respirar de novo, e então falo, minha voz mais firme, mais alta, como uma declaração de guerra:
Eu não vou pra casa dos meus pais. Vou pra outro país, bem longe das suas mãos nojentas.
Sinto a adrenalina tomar conta de mim. Ele me olha, mas agora há algo diferente no ar. Ele me encara com um sorriso torto, cruel, como se estivesse esperando isso. Como se ele soubesse que, por mais que eu lute, ele sempre vai me achar, me perseguir. Ele dá um passo à frente, sua expressão se tornando ameaçadora.
Você não vai não, sua puta. – A ameaça sai da sua boca com um tom de desprezo que quase me faz vomitar. Ele tenta me agarrar pelo braço, como se fosse fácil, como se eu fosse apenas mais uma das suas vítimas.
Mas eu não sou. Eu não sou mais a garota que ele tinha controle. A raiva me dá força. Eu dou um grito, tão alto quanto posso, e me afasto dele, o puxando com todas as minhas forças para que ele não me toque. Ele recua por um momento, assustado com o meu grito, mas logo a arrogância volta a brilhar nos olhos dele.
Ele se afasta, mas não sem antes lançar suas últimas palavras, cheias de veneno:
Eu vou descobrir onde você vai. Você sabe que eu descubro.
Eu engulo em seco, meu corpo ainda tremendo. Ele quer me controlar, mas ele não vai conseguir. Não mais.
Você não descobriu onde eu estava nesses três anos, e agora vai descobrir em outro país. Me poupe. – Eu tento manter minha voz firme, mas há uma pontada de dúvida em meu peito. Será que ele vai me encontrar? Eu não posso deixar que isso me derrube.
Ele solta uma gargalhada cínica, zombando de mim como sempre fazia. Ele se joga para trás, como se fosse uma vitória para ele, como se estivesse no controle. Eu fecho os olhos por um segundo, tentando bloquear o som daquela risada. Mas ele não vai mais me controlar.
Eu sabia sim. Na casa da sua tia em Fortaleza. – Ele diz, com um sorriso satisfeito, sabendo que acertou em cheio. Eu sinto o sangue sumir do meu corpo. Como ele sabia disso? Como ele descobriu?
Como você sabia? Ninguém sabe que eu tenho uma tia lá! – Eu não consigo controlar a surpresa, a confusão. Ele não podia saber disso. Como ele soubera?
Eu me informei. Eu procurei. Eu te vigiei. – Ele diz com um sorriso frio, como se estivesse orgulhoso da sua perseguição. Eu não consigo mais respirar direito. O medo se aperta na minha garganta.
Eu tento me afastar dele mais uma vez, tentando ignorar as lembranças que ainda corroem minha mente. Mas ele me agarra, seu aperto firme no meu braço, e eu sinto o pânico tomar conta de mim novamente.
Você é minha, Joyce. Só minha. Ninguém mais vai te tocar. – A ameaça é clara em sua voz, mas algo dentro de mim quebra. Eu não sou mais a garota que ele manipulava. Não sou mais a mesma vítima. Com uma força inesperada, eu arranco meu braço de sua mão, sem olhar para trás.
Eu saio correndo, com minhas malas nas mãos, sem olhar para o lado. O rosto de Júlio, com aquele sorriso de demônio, fica para trás, mas ele não desaparece. Ele está ali, sempre tentando me caçar. Mas eu não vou mais deixá-lo me pegar. Não agora, não nunca mais.
Eu faço o check-in, tremendo ainda, mas determinada. Subo no avião, e assim que ele decola, sinto a liberdade começando a me envolver. Uma nova vida começa agora, e eu nunca mais vou me deparar com esse monstro. Nunca mais.
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Atualizado até capítulo 52
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