Já haviam se passado semanas desde o acidente e Gabriela mal sobrevivia nas ruas. Seus dias eram uma mistura de fome frio e solidão. A cada passo sua mente tentava desesperadamente se agarrar a algum fragmento de memória mas tudo que restava era um vazio assustador.
narrador
Naquela manhã como de costume ela andava tateando com cuidado pelas calçadas da pequena cidade com as mãos à frente para evitar colisões. O som do trânsito era confuso e ameaçador mas Gabriela seguia na tentativa de encontrar algo para comer.
narrador
De repente o som de uma buzina alta cortou o ar
*Buzina*
Está cega mulher?
narrador
Gritou o motorista do carro freando bruscamente
narrador
Gabriela parou no meio da rua, o coração disparado. Antes que pudesse reagir sentiu o impacto. Não foi forte o suficiente para machucá-la gravemente mas foi o bastante para jogá-la no chão.
Igor
Maki você não precisava gritar assim
narrador
Disse um homem que desceu rapidamente do carro indo em direção a Gabriela.
Maicon
Desculpa parceiro. Foi no reflexo.
narrador
Respondeu o motorista visivelmente nervoso enquanto pegava o celular para ligar para a ambulância.
Igor
Moça? Você está bem? Consegue me ouvir?
Gabriela
Eu… sim… estou… eu acho…
narrador
Uma voz de um pedestre que passava soou de forma fria e desdenhosa.
Ela é só uma mendiga. Nem vale a pena perder tempo.
narrador
Igor levantou o olhar sério ignorando o comentário. Ele se concentrou em Gabriela percebendo que ela parecia desorientada. Seus olhos claros estavam abertos mas sem foco algum mirando o vazio.
Igor
Moça… você está conseguindo enxergar?
Gabriela
Não… não consigo ver… Eu não enxergo nada.
narrador
O coração de Igor apertou. Ele percebeu que ela estava com roupas sujas claramente desgastada mas havia algo em sua expressão algo que parecia contradizer a aparência que ela carregava.
Igor
Fique calma tá bom? Meu parceiro já chamou uma ambulância. Você vai ficar bem.
Gabriela
Eu… obrigada… desculpe… *murmurou ainda confusa*
Igor
Você não tem que se desculpar. Só tente respirar fundo ok?
Maicon
A ambulância está a caminho. Mas cara… ela parece ser só mais uma dessas pessoas que vivem nas ruas. Tem certeza de que vale todo esse esforço?
Igor
Ela é uma pessoa Maicon...E está ferida. Não importa de onde veio
narrador
Gabriela ouvia o diálogo sem saber como reagir. Por um lado estava agradecida pelo homem que a ajudava. Por outro as palavras de Maicon a lembravam da realidade dura que vivia.
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