O Luto
Cecília: Isso não pode estar acontecendo...
narrador
A mãe de Gabriela sentada em um sofá de couro branco tinha os olhos fixos na televisão onde as notícias do acidente tomavam conta de todos os canais.
narrador
O pai normalmente impassível andava de um lado para o outro na sala apertando o telefone contra a orelha.
Roberto: Vocês têm que encontrá-la..Estamos falando da minha filha. Gabriela Sayama. Façam algo aumentem as buscas
narrador
Ele gritou com o oficial de resgate do outro lado da linha.
narrador
Senhor Sayama....
a voz do oficial era firme mas carregada de resignação.
fizemos tudo o que podíamos. Todos os sobreviventes e corpos foram retirados do local do acidente. Infelizmente não encontramos nenhum sinal de sua filha.
O telefone deslizou das mãos do pai caindo no chão com um som seco. Ele olhou para a esposa que agora chorava em silêncio e murmurou
Roberto: Ela… ela está morta.
O mundo dos Sayama desabou. Não importava o dinheiro o poder ou as conexões nada podia trazer Gabriela de volta.
Dias depois....O Resgate e o Velório....
narrador
Os noticiários destacavam a tragédia como um dos piores acidentes aéreos do ano. Das trinta e duas pessoas a bordo apenas cinco sobreviveram. Infelizmente vinte e sete corpos foram recuperados e uma pessoa permanece desaparecida. O nome da desaparecida é Gabriela Sayama de 18 anos herdeira da fortuna da família Sayama…
narrador
No local do acidente a equipe de resgate encerrou as buscas após dias de trabalho exaustivo. A floresta ao redor do local era densa e traiçoeira repleta de declives íngremes e cavernas escondidas. Gabriela havia sido arremessada para longe do local da queda caindo em um ponto isolado coberto por arbustos altos e árvores entrelaçadas. Ninguém imaginou procurar tão longe.
narrador
Sem um corpo mas sem esperanças os pais decidiram organizar um velório simbólico.
narrador
A mansão Sayama foi tomada por pessoas vestidas de preto. O caixão vazio repousava no centro da sala principal cercado por flores brancas e fotos de Gabriela em momentos felizes. A mãe não conseguia se aproximar enquanto o pai mantinha o rosto sério mas seus olhos denunciavam a dor.
Ela era tão jovem…
murmurou uma mulher no meio dos convidados.
Uma tragédia. E pensar que ela estava indo para o próprio casamento…
Você acha que o noivo virá?
narrador
As vozes se misturavam mas nada disso importava para os pais de Gabriela. A mãe finalmente reunindo forças aproximou-se do caixão.
Gabriela
Cecília: Minha filha… eu deveria ter ouvido você. Eu deveria…
narrador
Ela sussurrou tocando a madeira fria.
O pai apenas olhou para o vazio com as mãos tremendo levemente. Para ele a morte de Gabriela era mais do que uma tragédia pessoal era um golpe para o nome e a reputação da família.
No entanto havia uma sombra de dúvida no coração da mãe. Algo dentro dela se recusava a acreditar que Gabriela estava morta. Mas ela silenciou esse sentimento sufocada pelo peso da realidade.
narrador
A cada dia que passava Gabriela lutava para sobreviver. No momento do impacto seu corpo foi lançado para fora da aeronave rolando até parar em um desfiladeiro coberto por arbustos. Ela estava desacordada quando a equipe de resgate passou pelo local o que tornou impossível ouvi-la ou localizá-la.
narrador
Os dias seguintes foram um borrão para ela. Fraca com a visão perdida e sem memória ela apenas seguiu o som do rio. Quando finalmente chegou à cidade estava tão irreconhecível que ninguém imaginaria que a jovem suja faminta e cega era a herdeira Gabriela Sayama a mulher cujo velório havia mobilizado tantos ricos e poderosos.
narrador
E assim enquanto sua família chorava sua morte Gabriela vagava pelas ruas invisível para o mundo. Mas o destino ainda guardava surpresas para todos eles.
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