Ares

Eu sigo para o meu quarto no andar de cima, mas o cheiro da Nyx dentro da cabana está intenso como se não tivesse por onde sair e se concentrasse todo dentro da cabana. Eu só quero uma noite normal de sono… como fazer isso com uma estranha no andar debaixo?

Depois de um banho e fingir que não sinto o cheiro da fêmea, me jogo na minha cama e rezo para o sono vir. Nunca me revirei tanto na cama como agora. Fecho meus olhos para me concentrar no sono e tudo o que acontece é o cheiro dela cada vez mais forte.

Tenho o costume de dormir nu, me levanto e pego uma bermuda, depois de vesti-la desço e vou direto para a bancada onde guardo minha bebida. Pego uma garrafa de conhaque envelhecido por cinquenta anos, presente de um Alfa mais velho de uma alcateia vizinha, pego um copo me sento no sofá.

Quando tenho insônia, costumo me sentar no sofá e esvaziar uma garrafa de bebida. Hoje será o conhaque a estrela da minha noite.

Ao tocar meus lábios, o conhaque desvela sua complexidade. O aroma rico e profundo me envolve, como o cheiro de couro e madeira polida por todo o lugar.

A primeira gota dança na minha língua, liberando notas de frutas secas, ameixas e damascos, com toques de canela e cravo. O sabor é intenso, mas suave, como uma carícia.

À medida que desce, deixa um rastro de veludo, com nuances de chocolate amargo, café e tabaco. O final é longo e sedutor, como um suspiro de satisfação.

Cada sorvo é uma jornada através do tempo, com sabores que se desdobram como capítulos de uma história épica. Este conhaque é um tesouro, um presente dos deuses.

Estou na metade da garrafa quando escuto um barulho vindo de onde é o quarto da minha nova aquisição. Será que é o que eu estou pensando? Ela está tentando abrir a porta e pensa que pode fugir de mim?

Bebo mais duas doses e me levanto do sofá. Caminho a passos lentos até a porta e observo por um tempo a maçaneta se mover. Vou até a prateleira mais alta da estante onde deixei a chave do quarto dela e a pego.

Assim que estou de frente para a porta novamente me divirto com o fato dela pensar que consegue sair desse quarto. Mas paro de sorrir e abro a porta que a faz cair sentada no chão com seus olhos claros olhando para mim.

— O que pensou que conseguiria se abrisse essa porta? — pergunto, enquanto a minha figura se sobressai imponente sobre ela.

— Preciso beber água, estou com sede por causa do pó de prata. — ela desviou o olhar ao responder.

— “Está mentindo!” — Skar rosna alto na minha mente e se agita — “Vai permitir que essa Lobinha minta para nós?”

— Gosta de mentir, Nyx? Ninguém nunca te ensinou que é errado mentir? — a última pergunta sai com um rosnado no automático enquanto me abaixo e a encaro com os olhos de Skar.

Nyx não recua e Skar está gostando do fato dela não temer nenhum de nós. Me aproximo engatinhando fazendo-a deitar no chão por completo, seus olhos sem deixar os meus até que sussurra hiperventilando:

— Eu… não… tenho medo… de você!

— Não tem? — abro um sorriso mostrando todos os dentes — Então por que a dificuldade na fala e na respiração?

— Por que? — ela abaixa o olhar fitando meu corpo sob o dela — Você… está perto demais. Se afaste.

Sinto o calor do corpo dela, até minhas narinas ficarem entupidas com o aroma do seu sexo. Ela exala excitação e isso de uma certa forma me deixa curioso, se eu descer um pouco mais meu corpo o que pode acontecer?

— E se eu não quiser? — questiono.

Minha resposta vem com uma joelhada na virilha, ela pode ser pequena, baixinha e magra… mas tem uma força no joelho que me fez perder o ar.

Sai de cima dela que logo se pôs de pé e se afastou de mim. Ela parecia tremer, mas não era medo, eu sinto o cheiro dela e isso não é medo.

— Por que fez isso? Sinto seu cheiro, é o que você quer! — coloco a mão no local dolorido e a fêmea grita em resposta:

— Eu não quero você! — sua voz reverbera no quarto — Não importa a droga do cheiro que meu corpo exale para você não toque em mim de forma íntima. Sou capaz de morder sua jugular e assisti-lo deixar essa vida com um sorriso em meu rosto.

Eu apenas olho para ela enquanto meu lobo quer sair e mostrar para Nyx quem manda aqui. Estou surpreso, outra fêmea jamais falou comigo assim ou me rejeitou, mas ela… o que tem de diferente nela?

— Vou deixá-la beber água. Aproveite e traga uma garrafa para o seu quarto, vou trancá-la de novo e como eu disse tenho sono leve não tente fugir de novo.

Ela passa por mim ainda cambaleando um pouco e a acompanho até a cozinha. Chegando lá a observo beber dois copos de água e depois levar uma garrafa de dois litros para o quarto.

Nyx ignora minha presença por completo enquanto entra no quarto e coloca a garrafa na mesinha perto da cama. Sem cerimônias ela se joga na cama de costas para mim… por que ainda estou olhando para ela?

Fecho a porta e a tranco em seguida, encosto minha testa ali por alguns segundos tentando acalmar Skar que quer arrebentar essa porta.

— “Vai deixar ela pensar que pode bater em nós e sair bem dessa?” — ele uiva na minha mente.

— Ela é jovem demais, os jovens costumam ser impulsivos. Nós avançamos e ela reagiu, foi apenas isso. — ele rosna com desdém ao me provocar:

— “É isso mesmo? Já está caidinho pela fêmea ao ponto de discordar de mim? Justo eu que estou ao seu lado uma vida inteira? Você é fraco!”

Ignoro os rosnados e choramingos do meu lobo e volto para a minha garrafa de conhaque. Quando chego no final dela adormeço no sofá, eu nunca dormi no sofá. Me recuso a acreditar que dormi no sofá para vigiar essa fêmea.

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