Nyx

“A lua ilumina meu caminho, mas minha alma é minha verdadeira guia. Em cada fase da lua, encontro um pedaço de mim mesma. Minha magia é um reflexo da minha alma.”

Não acho justo perder os pais aos cinco anos de idade, assim como não acho justo ser criada trancada dentro de casa pelos meus irmãos mais velhos, os gêmeos idênticos Tristan e Kaid.

Tristan virou o alfa da alcateia e Kaid seu beta. Meus irmãos são melhores amigos desde a barriga da minha mãe, não dormiam em berços separados. Tudo o que sei hoje são as histórias que os dois me contam, já que vivi pouco tempo com nossos pais.

Até hoje não sei o que matou meus pais, meus irmãos me mantém em uma redoma de cristal impenetrável. Não sei nada da nossa alcateia e só conheço essas paredes de madeira densa.

Foi assustador para mim quando aos sete anos eu corria pela casa brincando e do nada virei uma pequena loba prateada, um cinza brilhante e bonito. Eu estava de frente para o espelho que tem em uma das portas.

Meus irmãos não me contaram que aquilo iria acontecer a qualquer momento e eu sabia bem pouco de tudo sobre nós. Quando eles chegaram em casa eu ainda era uma pequena loba e já tinha feito amizade com a minha loba, Kalynda, seu nome significa beleza lunar.

— Nyx, não consegue voltar a forma humana? — Kaid perguntou, me analisando.

— Se concentre e volte à forma humana, Nyx. Olhe a bagunça que fez na sala, precisa arrumar isso. — Tristan ordena, como um Alfa.

Kalynda balança a cabeça que não e rosnamos para Tristan. Kaid acha graça e passa a mão pelos pêlos eriçados nas minhas costas.

— Vamos, estrela prateada, é para o seu bem.

Quando voltei a forma humana pude sentir cada osso e músculo se contorcendo devagar me levando de volta a quem eu era, mas Kalynda ficou em minha mente.

Conforme fui crescendo eu descobri que sou uma lobisomem com o dom da magia lunar. Minha existência está intrinsecamente ligada à lua, fonte de meu poder e inspiração. Desde pequena, descobri que posso curar ferimentos e às vezes consigo uma tempestade, ainda não sei como faço isso.

Minha magia é um presente da deusa lunar, uma bênção que me permitiria proteger minha alcateia, mas meu irmão, Tristan, me mantém em cárcere. Ele diz que é para me proteger, estou farta dessa proteção, mas fui criada por ele então obedeço.

Durante a lua cheia, meu poder é mais intenso. Posso criar luzes cegantes, curar ferimentos graves e vislumbrar visões do futuro.

Mas minha magia também tem um preço. Durante o eclipse, perco meus poderes, ficando vulnerável. E a prata... é um veneno para mim, capaz de enfraquecer minha magia e minha vontade.

Descobri isso acidentalmente na cozinha ao tocar em uma bandeja com frutas que Tristan ganhou de uma de suas admiradoras. Fiquei doente por dias apenas por tocar.

Aprendi a controlar minha magia com o tempo e a prática, mas ainda há muito a descobrir. Minha jornada parece cheia de desafios e mistérios, mas estou determinada a dominar minha magia e um dia proteger aqueles que dependerem de mim.

A lua é minha guia, minha força e minha paixão. E eu sou sua filha, guardiã da luz lunar.

Hoje é meu aniversário de dezoito anos, infelizmente terá um eclipse e me sinto tão frágil sem os meus poderes que até minha loba chora.

Durante a temporada da bruma Tristan me tranca no porão, desde os dezesseis anos luto contra os desejos do meu sexo.

Descobri sozinha como aliviar o desejo na minha bruma aos dezessete anos quando me toquei por não aguentar mais o pulsar entre minhas pernas.

Foi Kalynda que me explicou que estávamos numa espécie de cio de lobos. Meus irmãos não levam jeito para criar uma adolescente, não explicam nada e apenas me trancam no porão que tiveram que reformar para me manter aqui até a bruma passar.

Nessa temporada da bruma Tristan encontrou sua Luna, Évora. Quando sai do porão ela já estava mandando pela casa como se fosse dona e ele apenas obedecia com um sorriso no rosto.

— Você é a Nyx, muito prazer, sou Évora. Nosso alfa e eu vamos nos casar na próxima lua cheia, se comporte, cunhadinha.

Ela aperta meu queixo e a vontade de Kalynda é morder a mão de Évora. Os dias passam e finalmente meus irmãos decidem fazer uma festa pelo meu aniversário, algo somente entre nós e agora Évora.

Mas tem algo diferente nessa festa, me deram bebidas e eu fiquei vulnerável. Tristan com a ajuda de Évora dão voltas com a corda em meu corpo até que Kaid fala:

— Tristan, não concordo com isso. Ela é nossa irmã.

— E eles são a nossa alcateia, Kaid. São nossa prioridade, quer uma guerra?

Eles ficam em silêncio, eu não consigo raciocinar bem, Kalynda choraminga na minha mente. Pela primeira vez sou tirada de dentro de casa, meus olhos desfocados vêem tanta coisa que fica difícil assimilar.

Me jogam dentro do jeep do Tristan que vi algumas vezes pela janela e começam a seguir na noite escura. Paramos em um lugar aberto com árvores em volta, uma clareira e lá está um homem muito, muito alto.

Mesmo um pouco distante eu consegui ver seus olhos dourados, quase âmbar, brilhantes como estrelas. Sua pele morena parecia quente e sedutora mesmo a distância. Seus cabelos negros, espessos e selvagens eram cumpridos. Seu corpo parecia uma muralha de músculos e suas poucas tatuagens o deixavam mais atraente.

O seu cheiro, ele exalava um cheiro intenso, como couro de lobo queimado, envolto em fumaça de madeira, com toques de bergamota escura. Sua presença era como uma tempestade, irresistível e hipnotizante. Esse cheiro reflete a personalidade forte, sedutora e poderosa dele, me atraindo ao seu redor.

Por que estou sentindo tudo isso? Por que estou sentindo o cheiro dele? Não sinto o de ninguém além do dele. Só agora entendi o que está acontecendo, vão me entregar para aquele estranho.

Começo a lutar, tentando me soltar da corda, não posso contar com a lua, ela se escondeu essa noite, eu estou sozinha.

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