O dia estava quente, e a manhã parecia arrastar-se enquanto eu caminhava pelas ruas em busca de um emprego. Desde a separação dos meus pais, eu sabia que as coisas seriam diferentes. Não que estivéssemos passando dificuldades graves, mas eu queria ajudar minha mãe. Ela fazia tanto por mim, e agora era minha vez de retribuir.
Depois de algumas tentativas e entrevistas, finalmente consegui algo: um trabalho de meio período em uma lanchonete no centro da cidade. Nada glamoroso, claro, mas era o suficiente para ajudar em casa e, quem sabe, guardar um pouco para a faculdade, que começaria no próximo mês. A sensação de alívio e conquista era grande enquanto eu voltava para casa.
Ao chegar, larguei minha mochila na sala e fui até a cozinha para beber água. Minha mãe estava trabalhando em seu turno na Guarda Civil, e a casa parecia mais vazia do que de costume. Suspirei, pensando em tudo que ainda precisava organizar antes que as aulas começassem.
Foi então que meu celular vibrou na mesa. Eu quase ignorei, achando que era uma notificação qualquer, mas algo me fez olhar. E lá estava ele: Azirrel.
“Oi, Laís. Desculpa por demorar tanto para mandar mensagem.”
Eu senti meu rosto aquecer, e um sorriso escapou antes que eu pudesse me controlar. Ele havia mandado mensagem. Aquele rapaz ruivo, de olhos verdes intensos, finalmente havia entrado em contato.
Peguei o celular e comecei a digitar, tentando não parecer ansiosa demais.
“Oi, Azirrel. Sem problemas, eu imaginei que você estivesse ocupado.”
Enviei a mensagem e esperei. Ele respondeu quase imediatamente.
“Eu estava mesmo, mas não queria que parecesse que esqueci de você.”
Sorri, sentindo meu coração bater mais rápido. A conversa parecia fluir naturalmente, como se já nos conhecêssemos há muito tempo. Ele perguntou sobre meu dia, e eu contei sobre o trabalho novo e a faculdade que começaria em breve. Ele ouviu, ou melhor, leu com atenção, e respondeu com mensagens que eram tão delicadas quanto curiosas.
Depois de alguns minutos, senti que era minha vez de puxar um assunto diferente. Lembrei-me do que tínhamos em comum: literatura.
“Aliás, tenho uma recomendação de livro pra você,” escrevi. “Se gosta de histórias intensas, acho que vai adorar A Sombra do Vento, do Carlos Ruiz Zafón. Já leu?”
A resposta veio rápido.
“Não, nunca li, mas parece interessante. É o tipo de história que te prende?”
“Totalmente,” respondi, animada. “É sobre mistério, livros perdidos e segredos do passado. Acho que vai gostar.”
“Vou procurar, então. Obrigado pela indicação, Laís. Você tem um jeito especial de falar sobre livros.”
Aquele elogio simples me fez sorrir novamente, mas dessa vez havia algo mais. Eu não sabia explicar exatamente o que sentia, mas algo em Azirrel me fazia querer conhecê-lo melhor.
A conversa continuou por mais algum tempo, e quando finalmente nos despedimos, eu me senti leve. De certa forma, aquele dia, que começou com tantos desafios, terminou com algo que me dava esperança. Azirrel era misterioso, mas havia algo nele que me fazia querer descobrir mais.
Enquanto colocava meu celular de lado, peguei o livro que estava lendo e me joguei no sofá, pensando em como os encontros mais inesperados podiam mudar tanto o rumo da nossa vida. E, no fundo, eu sabia que essa história com Azirrel estava apenas começando.
A noite chegou tranquila, e o silêncio da casa foi quebrado apenas pelos ruídos da cozinha. Eu abri a geladeira e peguei a carne que havia descongelado mais cedo, separando também os legumes para fazer uma salada. Minha mãe adorava esse tipo de refeição simples, mas reconfortante. Era o mínimo que eu podia fazer depois de tudo o que ela fazia por nós.
Enquanto picava os ingredientes, minha mente vagava. Pensava em Azirrel, em como sua mensagem tinha transformado meu dia. Ele era diferente, isso era evidente, mas havia algo nele que me deixava intrigada e, ao mesmo tempo, confortável.
O cozido estava pronto, a mesa posta, e o cheiro do tempero já tomava conta da casa quando ouvi o som da porta da frente.
— Cheguei! — anunciou minha mãe, com a voz carregada de cansaço, mas ainda assim com um toque de alegria.
— Oi, mãe! — respondi, saindo da cozinha para cumprimentá-la. Ela me deu um abraço apertado e inalou o cheiro que vinha da cozinha.
— Hm, o que você aprontou aqui? Está com um cheiro maravilhoso.
Sorri, sentindo o coração aquecido.
— Fiz um cozido e uma salada. Sei que é seu prato favorito.
— Ah, minha filha, você é um anjo — disse ela, rindo. — Vou tomar um banho rapidinho e já desço.
Ela subiu as escadas enquanto eu arrumava os últimos detalhes da mesa. Pouco depois, ela desceu, já de banho tomado e vestida com seu pijama, o rosto relaxado e os cabelos úmidos caindo sobre os ombros. Sentou-se à mesa e me olhou com carinho.
— Vamos comer? Estou faminta.
Nós duas começamos a jantar, e a conversa foi leve. Minha mãe contou sobre o dia dela no trabalho, alguns casos engraçados que tinha presenciado e a rotina intensa que enfrentava. Eu ouvia atentamente, mas sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela perguntaria sobre mim.
E foi exatamente o que aconteceu.
— E você, Laís? Como foi o seu dia?
Deixei o garfo repousar no prato por um instante, um sorriso se formando no meu rosto. Decidi não contar sobre o emprego agora; queria uma ocasião especial para isso. Mas havia outra novidade que eu queria compartilhar.
— Bom, mãe... estou conhecendo alguém.
Ela ergueu as sobrancelhas, interessada, mas sem perder aquele tom brincalhão e caloroso que só ela sabia ter.
— Ah, é? Quem é o sortudo?
Eu ri, um pouco sem jeito, mas o calor na minha bochecha era inevitável.
— O nome dele é Azirrel. Conheci na praça outro dia. Ele também gosta de livros, e a gente tem conversado bastante.
Minha mãe me olhou com um misto de surpresa e curiosidade.
— Azirrel? É um nome diferente... mas parece interessante. E ele é um bom rapaz?
Assenti, com o sorriso ainda no rosto.
— Sim, ele é muito gentil. Meio misterioso, sabe? Mas tem algo nele que é... especial.
Minha mãe sorriu e colocou a mão sobre a minha.
— Se ele é especial para você, minha filha, isso já é o suficiente para mim.
Aquele momento foi cheio de ternura. Conversamos mais um pouco, e eu pude sentir que ela estava feliz por mim, mesmo que a preocupação dela estivesse ali, velada em pequenos comentários. Era o jeito dela de me proteger.
Quando terminamos o jantar, ajudei minha mãe a levar a louça para a pia, e enquanto lavava os pratos, pensei em como aquele dia tinha sido cheio de pequenos momentos que, juntos, formavam algo especial. A vida, às vezes, tinha um jeito estranho de surpreender, e eu estava pronta para o que quer que viesse a seguir.
A noite já avançava, e o cansaço começava a pesar nos meus ombros. Depois de arrumar a cozinha, subi para o meu quarto. Troquei de roupa, coloquei meu pijama favorito e me joguei na cama, sentindo o conforto macio dos lençóis.
Peguei meu celular na mesa de cabeceira e, sem pensar muito, abri a conversa com Azirrel. As mensagens que trocamos mais cedo ainda estavam frescas na minha mente, mas algo me dizia que eu precisava tomar a iniciativa.
Olhei para a tela por um momento, sentindo uma mistura de nervosismo e empolgação. Respirei fundo e digitei:
"Oi, Azirrel. Tá acordado?"
A resposta chegou quase que instantaneamente.
"Oi, Laís. Estou, sim. Tudo bem?"
Sorri, sentindo o coração acelerar. Ele estava sempre tão rápido para responder.
"Tudo bem, e você?"
"Também. Estava pensando em você, na verdade."
Aquela resposta me pegou de surpresa e fez meu rosto esquentar. Mas não perdi tempo; fui direto ao ponto.
"Estava pensando aqui... tem uma feira do livro nesse final de semana, no centro da cidade. Pensei que seria legal te chamar pra ir comigo. O que acha?"
A mensagem foi enviada, e meu coração ficou acelerado enquanto eu esperava pela resposta. Ele demorou um pouco mais desta vez, e eu quase me arrependi de ter mandado. Mas então, a notificação apareceu.
"Feira do livro? Parece incrível. Claro que vou com você. Que horas você quer ir?"
Um sorriso enorme se formou no meu rosto, e eu quase me peguei rindo sozinha. Ele tinha aceitado.
"Podemos combinar de nos encontrar no sábado, lá pelas 10h da manhã. Pode ser?"
"Combinado. Mal posso esperar. 😊"
Aquele emoji simples e a resposta dele fizeram meu dia. Eu guardei o celular de lado e me aconcheguei debaixo das cobertas, sentindo uma felicidade genuína tomar conta de mim.
Enquanto o sono começava a chegar, minha mente já imaginava como seria o encontro. Livros, conversas, talvez até descobrir mais sobre aquele rapaz que parecia carregar tanto mistério. Algo me dizia que, naquele final de semana, minha história com Azirrel ganharia um novo capítulo. E eu mal podia esperar para escrevê-lo.
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Atualizado até capítulo 21
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