A manhã estava fria e nublada, como se o tempo refletisse o que eu sentia por dentro. Peguei minha mochila desgastada e fui para a escola com passos lentos. Aquele lugar nunca foi meu refúgio, muito menos minha segunda casa, como alguns professores gostavam de dizer. Era, na verdade, o palco do meu pesadelo diário.
Assim que entrei no pátio, ouvi os cochichos e as risadinhas. Não precisava olhar para saber que era sobre mim. Tentei ignorar, mantendo a cabeça baixa enquanto atravessava o corredor em direção à minha sala, mas foi impossível.
— Ei, Panela de Pressão, cuidado para não explodir hoje! — uma voz masculina ecoou atrás de mim.
Meus ombros encolheram automaticamente, mas continuei andando, fingindo que não ouvi.
— Talvez a gente devesse sair de perto, né? Se ela explodir, vai chover mortadela! — outra voz, feminina dessa vez, acrescentou.
As risadas foram mais altas, como se as piadas fossem o auge da criatividade.
Quando finalmente alcancei a porta da minha sala, respirei fundo antes de entrar. Mas lá dentro não era muito melhor. Mesmo que Eduardo não estivesse ali – afinal, ele era da sala da minha irmã, junto com os mais velhos – o bullying parecia me seguir. Os cochichos continuavam. As risadinhas. E sempre tinha alguém para “acidentalmente” deixar um bilhete na minha mesa ou fazer um comentário em voz alta.
“Loira burra.”
“Panela de Pressão.”
“Você devia pedir dicas para sua irmã. Pelo menos ela é bonita.”
Na hora do intervalo, decidi fugir do pátio. Sentei sozinha atrás do prédio da escola, onde havia uma árvore que ninguém parecia notar. Lá, pelo menos, eu podia fingir que o mundo não existia.
Mas, naquele dia, Eduardo decidiu aparecer.
— Pâmella? O que você está fazendo aqui?
Levantei os olhos rapidamente, surpresa por ele ter me encontrado. Ele segurava um sanduíche e uma garrafa de suco, como se estivesse pronto para um piquenique.
— Nada — respondi, encolhendo os ombros.
Ele se sentou ao meu lado sem pedir permissão.
— Não parece nada. Parece que você está fugindo — ele disse, me observando com atenção.
Olhei para ele, tentando disfarçar o nó na garganta. Eduardo era o tipo de pessoa que conseguia ler as pessoas facilmente, e isso me assustava.
— Estou bem — menti, olhando para o chão.
— Não está, não. — Ele deu uma mordida no sanduíche e ficou em silêncio por um momento, como se estivesse escolhendo as palavras certas. — Você não precisa fugir deles, sabia?
Eu ri sem humor.
— Fácil para você dizer. Ninguém te chama de “Panela de Pressão” ou ri de você o tempo todo.
Eduardo suspirou, colocando o sanduíche de lado.
— Não. Mas, sabe, quando eu era mais novo, meu pai dizia que as pessoas só riem dos outros porque têm medo de sem com eles. É como um escudo. Eles apontam para você para que ninguém olhe para eles.
— Isso não ajuda muito quando você é o alvo, Eduardo — murmurei, tentando segurar as lágrimas.
Ele se inclinou um pouco para me olhar nos olhos.
— Talvez não agora. Mas, Pâmella, escuta o que eu vou dizer: um dia, nada disso vai importar. Você vai descobrir que é muito mais forte do que eles. E eles? Bom, eles vão continuar sendo pequenos.
As palavras dele eram bonitas, mas naquele momento pareciam distantes. Mesmo assim, algo dentro de mim queria acreditar. Eduardo tinha esse jeito de fazer as coisas parecerem um pouco menos terríveis, mesmo que por apenas alguns minutos.
— Agora vem, você não vai ficar escondida aqui o intervalo inteiro. — Ele se levantou e estendeu a mão para mim.
— Prefiro ficar aqui — retruquei, mas ele balançou a cabeça.
— Não vou deixar. Vamos.
Com relutância, segurei a mão dele e o segui de volta para o pátio. As risadinhas e os cochichos ainda estavam lá, mas, com Eduardo ao meu lado, elas pareciam um pouco mais distantes.
Naquele dia, percebi que, mesmo que ele não pudesse entender completamente o que eu passava, Eduardo sempre estava lá. E, mesmo que eu soubesse que ele ainda não me via como nada além de uma amiga, não conseguia evitar sentir algo mais por ele. Afinal, ele era a única pessoa que me fazia acreditar que, talvez, eu fosse mais do que os apelidos que me deram.
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Atualizado até capítulo 28
Comments
juliana Sereno
Quem tem uma merda de irmã desta não precisa de inimigos /Tongue//Tongue//Tongue//Tongue/
2025-01-22
1
samantha sousa
Que foda Eduardo! Tá quase lá, não desista
2025-01-13
1
samantha sousa
Gostei Eduardo!
2025-01-13
1