Capítulo 03 - O Confronto Inevitável

O relógio marcava quase meia-noite, e a casa dos Safra estava mergulhada em silêncio, exceto pelo choro abafado de Davi no quarto. Ana andava de um lado para o outro, com o pequeno nos braços. O bebê estava quente, a febre causada pela vacina daquela tarde tinha piorado. Ela tentou tudo: compressas frias, remédio recomendado pela pediatra, mas o desconforto de Davi parecia não ceder.

Aurora, a mãe de Gabriel, estava ao lado dela, preocupada. Apesar de toda sua experiência como mãe, ela sabia que Davi precisava do pai naquele momento.

— Vou tentar ligar para o Gabriel novamente — disse Aurora, pegando o telefone.

Ana suspirou, balançando Davi suavemente enquanto ele chorava. Não era a primeira vez que isso acontecia. Gabriel sempre tinha uma desculpa: estava ocupado, precisava relaxar, queria aproveitar sua juventude. No início, Ana compreendia, mas agora, com Davi doente, sua paciência estava no limite.

Aurora desligou o telefone com uma expressão de frustração.

— Ele não atende. Deve estar em algum bar ou festa, como sempre.

Ana respirou fundo, segurando as palavras que estavam presas em sua garganta. Não era seu lugar criticar o patrão, mas, naquele momento, o cansaço e a indignação falaram mais alto.

Quando os primeiros raios de sol atravessaram a janela, o som da porta da frente se abrindo ecoou pela casa. Gabriel entrou, cheirando a álcool e com a camisa parcialmente desabotoada. Ele parecia exausto, mas claramente não pelo mesmo motivo que Ana.

Ela estava sentada no sofá da sala com Davi no colo, os olhos fixos na porta. Aurora, ao lado, levantou-se imediatamente, cruzando os braços.

— Gabriel, onde você estava? Sabe que Davi está doente?

Ele parou no meio do corredor, surpreso ao ver as duas o esperando.

— Doente? Eu não sabia.

Ana levantou-se, segurando Davi com cuidado. O olhar que lançou a Gabriel era tão frio quanto suas palavras.

— Não sabia porque não atende o telefone. Ele passou a noite toda chorando de febre. Onde você estava?

— Eu... eu saí com alguns amigos. Não achei que fosse tão grave — respondeu ele, sem olhar diretamente para ela.

— Não achou que fosse grave? — Ana repetiu, sua voz subindo um tom. — Você é pai, Gabriel! Não é sobre achar ou não achar. É sua responsabilidade estar aqui quando ele precisa.

Gabriel ficou visivelmente desconcertado. Ninguém jamais falava com ele daquela forma, especialmente alguém tão jovem quanto Ana.

— Olha, eu cometi um erro, está bem? Não precisa fazer esse drama todo.

Ana riu, mas não havia humor em seu riso.

— Drama? Você chama de drama passar a noite inteira acordada, tentando baixar a febre do SEU filho enquanto você estava sabe-se lá onde, se divertindo?

Aurora colocou a mão no ombro de Ana, tentando acalmá-la, mas Ana estava apenas começando.

— Sabe o que mais me irrita? — continuou ela, os olhos brilhando de raiva. — É que você tem tudo, Gabriel. Uma família que te apoia, pessoas que te ajudam a cuidar do seu filho, e você simplesmente joga tudo fora porque quer viver como se nada tivesse mudado.

Gabriel abriu a boca para responder, mas fechou novamente. Ele sabia que Ana tinha razão, mas admitir isso era algo que ele não estava preparado para fazer.

— Ana, eu...

— Não precisa dizer nada — ela o interrompeu, balançando a cabeça. — Só espero que, da próxima vez, você se lembre de que Davi não pediu para nascer. Ele não escolheu isso. Mas você escolheu ser pai, e é hora de começar a agir como um.

Ana entregou Davi para Aurora e subiu para seu quarto sem olhar para Gabriel. Ele ficou parado no corredor, sentindo o peso das palavras dela.

Aurora, segurando o neto adormecido nos braços, olhou para o filho com uma mistura de decepção e preocupação.

— Talvez você precise ouvir mais vezes o que Ana disse, Gabriel. Ela tem razão.

Naquela manhã, enquanto o sol iluminava a casa, Gabriel se sentou no sofá, passando as mãos pelos cabelos. Pela primeira vez em muito tempo, ele começou a questionar suas escolhas. A voz de Ana, firme e cheia de convicção, ecoava em sua mente.

Algo dentro dele mudara. E ele sabia que, a partir daquele momento, precisava fazer mais, ser mais. Não por causa de Ana, ou de Aurora, mas por Davi.

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Comments

Silvania Balbino

Silvania Balbino

Como este mundo precisa de Anas, pessoas sinceras que não têm medo de falar a verdade. Amei.

2025-01-26

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