Capítulo 02 - A Babá de Davi

A cozinha da casa Safra, sempre movimentada, era o coração da casa. Era ali que Ana passava boa parte de seu tempo livre, ajudando sua mãe, Dona Célia, a cozinheira da família.

imagens retirada da internet

Com 16 anos, prestes a completar 17, Ana era madura além da idade. De olhos castanhos brilhantes e cabelos lisos, Ana tinha uma presença marcante. Não era alta, mas compensava sua estatura com uma postura confiante, algo que deixava claro para qualquer um que cruzasse seu caminho que ela não tinha medo de enfrentar desafios. Criada desde seus 12 anos ao lado da cozinha da mansão Safra, Ana crescera vendo sua mãe trabalhar com dedicação para aquela família. Criada com valores sólidos e uma sinceridade que às vezes surpreendia, ela não tinha medo de dizer o que pensava, mesmo diante de Gabriel Safra, o primogênito da casa.

Ana sempre fora boa com crianças. Aos 12 anos, já ajudava a cuidar das primas e vizinhos menores, adquirindo uma paciência que, agora, a tornava indispensável para os Safra. Desde que Davi chegou à casa, Ana estava ao lado de sua mãe nos cuidados com o bebê. O pequeno a adorava, e o carinho era recíproco.

— Ana, não se esqueça de que hoje você começa a tarde com o Davi — lembrou Dona Célia, enquanto mexia a panela no fogão.

— Eu sei, mãe. Vou terminar meu dever antes de ficar com o Davi à tarde — respondeu ela, colocando um copo de leite na mesa com movimentos ágeis.

Foi nesse momento que Gabriel entrou na cozinha, carregando o laptop debaixo do braço e um olhar cansado. Ele ainda não tinha se acostumado totalmente à rotina de ser pai. As noites mal dormidas e o peso das responsabilidades estavam começando a se acumular.

Ana o cumprimentou com um sorriso educado, mas notou rapidamente as olheiras marcantes no rosto dele. Apesar de jovem, Gabriel parecia carregado pelo peso da vida, algo que Ana, com sua percepção aguçada, notava mesmo que ele tentasse esconder.

— Bom dia, Gabriel — disse ela, antes de se sentar à mesa para comer.

Ele respondeu com um murmúrio distraído, concentrado nos e-mails que lia. Ana riu baixinho, sacudindo a cabeça. Aquela era a típica atitude de Gabriel, sempre ocupado demais para notar os detalhes ao seu redor.

Ana sabia que ele era um bom pai, mas também via as falhas que ele insistia em ignorar. Gabriel se esforçava, mas muitas vezes deixava Davi aos cuidados da avó para lidar com o caos que sua vida tinha se tornado.

Mais tarde, quando o pequeno Davi acordou chorando de fome, Ana se adiantou. Pegou o bebê no colo com a facilidade de quem já estava acostumada, preparando a mamadeira enquanto o acalmava com murmúrios suaves. Gabriel entrou na sala a tempo de vê-la cuidando do filho, e a cena o fez parar por um momento.

— Você tem um jeito especial com ele — comentou, encostando-se na porta.

Ana olhou para ele, com um sorriso orgulhoso.

— Acho que é porque ele sabe que pode contar comigo, sempre.

Gabriel sentiu o peso implícito daquelas palavras, mas antes que pudesse responder, Ana continuou:

— Sabe, Gabriel, não é só sobre alimentar e trocar fraldas. Ele precisa sentir sua presença.

— Estou tentando, Ana. Só que... não é tão simples.

Ela cruzou os braços, encarando-o com o olhar firme que era uma de suas marcas registradas.

— Eu sei que não é simples. Mas ser pai nunca é. E você tem sorte de ter sua família para te ajudar. Só que, no final do dia, Davi precisa de você, não de substitutos.

As palavras dela o atingiram de forma inesperada. Não era comum ser confrontado daquela maneira, especialmente por alguém tão jovem. Gabriel sempre foi o centro das atenções, acostumado a olhares admirados e palavras de apoio, não críticas.

Foi então que ele decidiu oferecer a Ana um papel mais formal.

— Ana, eu quero te fazer uma proposta. Sei que você já ajuda muito com o Davi, mas quero te contratar oficialmente como babá dele.

Ela arqueou uma sobrancelha, claramente surpresa.

— Contratar?

— Sim. Você já faz tanto por ele, e quero reconhecer isso. Posso ajustar os horários para que você continue seus estudos pela manhã e fique com ele à tarde e nas noites que eu precise sair.

Ana ficou em silêncio por um momento, pensando. Era uma oportunidade que sua mãe sempre sonhara para ela, mas Ana não era de aceitar nada sem impor suas condições.

— Tudo bem, eu aceito — começou ela, finalmente. — Mas só com uma condição.

— Qual? — perguntou Gabriel, intrigado.

— Quero que você seja mais presente. Não adianta me pagar para fazer o trabalho que é seu. Eu vou cuidar do Davi com todo o carinho, mas ele precisa de você, Gabriel.

Ele ficou em silêncio, absorvendo o impacto das palavras. Ana tinha razão. Ele sabia disso.

Os meses seguintes foram um teste para ambos. Ana assumiu oficialmente o papel de babá, dividindo seus dias entre os estudos e os cuidados com Davi. Apesar de sua juventude, ela demonstrava uma responsabilidade impressionante, e sua presença constante trouxe estabilidade para a rotina do bebê.

Ao mesmo tempo, Gabriel começou a observar Ana com outros olhos. Não era só a maneira como ela cuidava de Davi, mas a coragem e a sinceridade que ela demonstrava em cada interação com ele. Ana era diferente de qualquer pessoa que ele já havia conhecido, e, aos poucos, ela começava a abalar as estruturas que ele tanto se esforçava para manter intactas.

Mais populares

Comments

Paulinha da Silva

Paulinha da Silva

amando a história

2025-01-06

2

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!