TALITA...
Os parisienses aceitaram os meus termos, isso significa que eu e Ellie estamos na França há alguns dias.
Consegui finalizar todos os quadros que eu tinha incompleto, e enviei fotos a Paris para que a agência pudesse escolher, eles escolheram as melhores, e entre eles, estavam os que pintei após a morte do Pit e do Henry, uma lágrima escorreu por meus olhos quando a Ellie me disse que eles tinham escolhido justamente elas duas.
Ao todos serão 15 obras, a maioria é de tinta e óleo, as outras, algumas são de carvão, aquarela, ou pastel, apenas uma é de giz, parece até mesmo feita por uma criança, e essa era a ideia que eu queria passar.
O valor das minhas telas estão avaliados num total de quase 1 milhão de dólares, pois, há algumas num valor pequeno, como a feita em giz, já a do coração afogado... Ela é a mais valiosa, custando quase 100 mil.
— Está pronta? — Ellie me pergunta batendo a porta do meu quarto.
— Estou.
— Está linda. Amei como ficou nesse vestido, Talie.
— Obrigada. Você também está bonita.
Ela sorri e termina de ajeitar a minha maquiagem. Faz tempo que não me arrumo, mas hoje... Eu preciso aparecer um pouco, por isso que peguei um dos muitos vestidos que tinha perdido no closet, um salto baixo, penteei os cabelos com cuidado, e me deixei ser maquiada.
— Pronto. Nada muito pesado. Agora vamos. Já fui informada de que já tem alguns clientes lá.
Saímos de casa, uma propriedade pequena e confortável que ela encontrou nas redondezas da cidade, é linda e tem um jardim. Ela dirige até a galeria, já que não dirijo há muito tempo, a última vez que peguei num volante travei e não consegui sair do lugar.
— Chegamos. Vou dar os nossos nomes ao rapaz da segurança, como o evento é fechado, apenas quem está na lista, pode entrar.
— Tudo bem, Ellie, não tomei muito do remédio hoje... Estou ciente de tudo que está acontecendo, ok? — ela segura em minhas mãos e me olha nos olhos.
— Eu sei... Vi que tomou uma dosagem pequena. Mas quero te informar de tudo que está acontecendo porque desacostumou a estar onde tem tanta gente, e para que não se sinta mal aqui. Eu me importo muito com você, Talie. A sua segurança é o que me importa.
Assinto mais uma vez, saindo do carro quando um manobrista vem abrir para estacionar, a Ellie dá os nossos nomes e logo somos levadas diretamente ao dono do espaço, não o conhecia pessoalmente, apenas por videoconferência, e na maioria das vezes fiquei calada, e somente a Ellie quem falou.
Mas ele é muito bonito, é jovem, e isso me impressionou. Normalmente as galerias que disputam pelo meu trabalho são renomadas e de consultores de arte que trabalham no ramo há décadas.
— Senhorita Forbes, e... Como deseja que a chame, senhora ou senhorita? — ele fala de forma respeitosa.
— Por mais que ainda não tenha me acostumado... Não sou mais casada...
— Sinto muito se fui indelicado.
— Está tudo bem, senhor...
— Mitchell. Nate Mitchell.
— Talita Amstrong. O senhor já conhece a minha agente Eliane, então...
— Sim... Mas pessoalmente é completamente diferente. Se me permite, senhorita Forbes, dentre todas as obras de arte da senhorita Amstrong, você é a mais bela delas.
— Obrigada... — ela fala com um sorriso tímido.
— Estarei a disposição caso precisem de algo, a exposição é sua, Talita, pode ser só Talita?
— Eu prefiro, não estou muito acostumada a ser tratada com tanta formalidade.
— Com licença. Alguns convidados especiais chegaram, e quero dar as boas vindas a eles.
— Claro, a vontade.
A Ellie estava completamente muda, toco no ombro dela e ela balança a cabeça toda vermelha.
— Está tudo bem?
— Talie... Eu... Eu não sei... Estou sentindo um formigamento... E fiquei sem saber o que dizer quando recebi aquele elogio do senhor Mitchell. E eu nunca fico sem palavras... Sabe disso.
— Vamos dar uma volta pelo lugar. Quero ver se colocaram certo, as minhas obras.
Ela assente, me acompanhando. Começo analisar cada uma das minhas pinturas, e em cada uma delas, é como se eu voltasse ao momento em que as pintei, a dor que estava expondo a cada pincelada, o sentimento por trás de cada cor de tinta.
Ellie sai para pegar uma bebida para nós duas e eu paro em frente a minha preferida, as cores escuras, o que ela representa. Sinto um perfume amadeirado ao meu lado, tão inebriante que chego a fechar os olhos, me lembrei imediatamente do Henry.
Abro os olhos outra vez, a presença ao meu lado se tornando quase como parte da exposição, de tão quieta que é. Passam alguns minutos, não sei quantos, mas parecem ser eternos, até que ele fala comigo, e a sua voz... Rouca, aveludada... Me arrepiou inteira.
— Em todos os meus anos de vida, essa é a obra de arte mais intensa que já pude apreciar — não o respondo, ele parece ter mais o que dizer — tanto sentimento... Dor... É realmente impressionante. Nem posso imaginar o que leva uma pessoa tão brilhante como um artista, a expressar tanta dor por meio da pintura — abro um pequeno sorriso.
— Está vendo essas ondas... Parece água... E o que leva um coração a se afogar? Sofrimento... Lágrimas, dor, talvez a perda de uma pessoa muito amada. Como pode ver, o coração já está começando a murchar... Então... Talvez o que a artista tenha tentado expressar, tenha sido exatamente como estava se sentindo naquele momento. O coração murchando no peito, enquanto se afoga nas próprias lágrimas.
Viro o meu rosto em direção ao homem com quem estou dividindo os meus pensamentos e interpretações a respeito da pintura, e os seus olhos já estão nos meus antes mesmo dos meus encontrarem os seus.
São tão lindos que perco o ar por alguns segundos, a sua barba bem feita, o cabelo alinhado e bem cuidado, tudo isso compactado num rosto simétrico, de maxilar forte e expressões maduras.
— Você é uma ótima intérprete, senhorita...
— Amstrong, e o senhor também. Poucas pessoas conseguem entender tão bem uma obra de arte.
— Brenno Mitchell — ele me estende a mão e eu hesito por alguns instantes antes de tocar na sua mão.
Um arrepio percorre toda a minha coluna, me fazendo sentir uma corrente de ar frio passar nos braços. Olho em seus olhos e vejo o momento exato que a sua pupila dilata.
— Mitchell... Alguma relação com o dono da galeria?
— Somos primos. E a senhorita, qual relação tem com a artista?
Antes que eu responda, a Ellie volta com as nossas bebidas, interrompendo a troca de olhares em que estávamos inertes. Me afasto, ainda sentindo o toque suave da sua pele, e o seu olhar penetrante, olho para trás, apenas para ver ele encarando as minhas costas com um sorriso perfeito no rosto.
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Atualizado até capítulo 62
Comments
LMCF
Um primeiro encontro de muitos... muita sensibilidade ali e palavras silenciosas na tela e no olhar
2025-04-02
2
Jaildes Damasceno
Deu meet. Notou a conexão deles?
2025-03-02
2
Fabiola
Amiga, se é para sofrer, que seja em Paris.. kkkkk
2025-02-17
2