Dias comuns
Os dias se passaram de forma aparentemente tranquila, com a rotina escolar retomando seu ritmo habitual. Os boatos sobre Hayashi pareciam ter cessado por enquanto, o que trouxe um leve alívio para Aoki. Ele não sabia muito sobre o passado do colega, mas tinha a sensação de que tudo aquilo deveria ser apenas um grande mal-entendido. Essa era a forma como Aoki enxergava as coisas: sempre com um otimismo quase teimoso, acreditando na bondade essencial das pessoas.
Aoki, era o tipo de pessoa que carregava uma energia contagiante. Exagerado em seus gestos e sorrisos, ele tinha um coração generoso e se preocupava genuinamente com o bem-estar de todos ao seu redor. Talvez fosse porque ele sabia muito bem como era a solidão – uma dor que carregava desde a infância.
No entanto, Hayashi, com seus olhos escuros e penetrantes e sua postura sempre rígida, parecia inalcançável. Ele construíra ao redor de si uma parede invisível, quase palpável, que afastava qualquer tentativa de aproximação. Essa barreira intrigava Aoki, que sentia uma vontade crescente de entendê-lo, mas também temia ser rejeitado.
Na sala de aula, os raios de sol entravam pela janela, iluminando os fios negros de Hayashi enquanto ele encarava a paisagem do lado de fora, perdido em pensamentos. Aoki, sentado alguns lugares atrás, frequentemente o observava de relance. Ele se perguntava como quebrar essa barreira, mas, ao mesmo tempo, hesitava. Será que realmente deveria se aproximar? Essa dúvida começou a consumir seus pensamentos enquanto os dias continuavam a passar, deixando a tensão crescer entre eles, ainda que silenciosamente.
Caminhada na Floresta
Durante a semana, Shin insistiu incansavelmente para que Hayashi o acompanhasse em uma caminhada pela floresta. Apesar de muitas negativas, Hayashi finalmente cedeu.
Quando o final de semana chegou, logo ao amanhecer, Shin subiu até o quarto do irmão.
Shin animado, e com um sorriso brincalhão:
“Acorda, maninho. Vamos caminhar na floresta, como nos velhos tempos!”
Hayashi resmungou, ainda meio grogue, a voz embargada de sono:
“Não quero.”
Sem dar ouvidos, Shin entrou no quarto e puxou Hayashi pela mão, forçando-o a sair da cama.
Shin determinado:
“Vamos, vamos.”
Enquanto abria as cortinas para deixar a luz entrar, completou com um tom animado:
“Vou preparar o café da manhã. Espero você lá embaixo.”
Hayashi resmungou mais uma vez, cobrindo a cabeça com o travesseiro, tentando se esconder da insistência do irmão.
Depois de descer as escadas, Shin foi até a cozinha. Enquanto preparava o café, seus pensamentos começaram a vagar. Ele se lembrou das férias de verão que passavam naquela casa, quando toda a família se reunia.
Era o melhor tempo de suas vidas. A cidade e seus problemas ficavam para trás, e a floresta se tornava um refúgio. Ele, Hayashi e o pai faziam trilhas pela manhã, rindo e explorando cada canto da mata, mesmo que não tivessem muito jeito para isso. Quando voltavam, a mãe sempre os esperava com pratos deliciosos. Eram dias de felicidade simples, mas genuína.
Os olhos de Shin começaram a se encher de lágrimas enquanto as memórias inundavam sua mente, mas o som de passos descendo as escadas o trouxe de volta ao presente. Ele respirou fundo, rapidamente enxugando os olhos para não demonstrar nenhuma fraqueza.
Shin pensando:
“Tenho que ser forte. Ele precisa de mim agora mais do que nunca.”
Hayashi apareceu, desanimado, arrastando os pés até a cozinha. Sua expressão era de quem claramente preferia estar em qualquer outro lugar.
Os dois tomaram café rapidamente, sem muita conversa. Depois, saíram da casa e começaram a caminhar pela trilha na floresta.
O silêncio era interrompido apenas pelo som dos pássaros e o desmanchar das folhas sob seus pés. Shin, tentando aliviar o clima, começou a contar histórias de suas viagens e de seu trabalho como fotógrafo.
Shin sorrindo com nostalgia:
“Já visitei muitos lugares lindos, mas nenhum se compara a essa floresta.”
Hayashi lançou um olhar cético e cheio de desaprovação, o tom de sua voz carregado de sarcasmo:
“Sério? Esse lugar úmido e estranho?
Shin riu, percebendo o tom provocativo do irmão.
Shin brincalhão diz:
“Sim, exatamente. Essa mesma floresta assustadora que você dizia odiar quando era criança.”
Ele parou de caminhar por um momento e olhou para Hayashi com um sorriso travesso, antes de continuar em tom de brincadeira:
“Não me diga que ainda tem medo dela?”
Enquanto ria, Shin colocou a mão no ombro de Hayashi, fingindo ser protetor:
“Não se preocupe. Seu irmãozão está aqui para te proteger.”
Hayashi, com um olhar frio e uma expressão claramente aborrecida, afastou a mão de Shin com um movimento rápido, sem dizer nada.
Shin continuou sorrindo, mas agora com um toque de melancolia em seus olhos. Ele sabia que Hayashi estava distante, e que sua provocação não quebraria facilmente as barreiras que o irmão havia construído. Mesmo assim, não desistiria. Ele queria, de alguma forma, alcançar o garoto que seu irmão costumava ser.
E assim, os dois seguiram caminhando, o som dos passos ecoando pela trilha enquanto o vento balançava suavemente as folhas das árvores.
Depois de algumas horas de caminhada
Hayashi resmunga:
“Por que estamos indo tão longe? Eu quero voltar.”
Ele franze a testa, visivelmente irritado, chutando uma pedrinha no caminho com um pouco mais de força do que o necessário.
Shin sorri de lado e responde com tom brincalhão:
“Para de reclamar. Aproveite o passeio e a companhia do seu querido irmão.”
Ele estica o braço e bagunça o cabelo de Hayashi, que faz uma careta e se afasta, emburrado. Mesmo assim, continua caminhando, os passos pesados e o olhar fixo no chão.
Shin, animado, aponta à frente:
“Estamos quase chegando ao lago.”
Hayashi olha para ele com um ar desconfiado.
“Na verdade, marquei de encontrar uma pessoa aqui nesse lago, uma pessoa do nosso passado” – completa Shin, com um sorriso misterioso.
Hayashi para por um instante, franzindo o cenho, a curiosidade começando a tomar o lugar da irritação:
“Quem? Por favor, não me diga que é alguma menina com quem você teve um casinho nas férias de verão.”
Shin ri alto, balançando a cabeça enquanto leva a mão ao peito, fingindo indignação:
“Claro que não! É do seu passado, maninho. Você era muito pequeno, não deve se lembrar direito.”
Hayashi continua caminhando, mas seus olhos estreitam levemente, confusos e intrigados. Ele não consegue imaginar quem poderia ser.
Ao chegarem ao lago, os dois avistam um senhor pescando sozinho. Ele veste um chapéu desgastado e segura a vara de pescar com firmeza, mas ao notar os irmãos, levanta a mão num gesto amigável.
Shin abre um grande sorriso e caminha apressado até ele, com Hayashi seguindo logo atrás, ainda mais curioso:
“Ah, então conseguiram acertar o caminho” – comenta o senhor, com um tom caloroso na voz.
Shin ri, colocando as mãos nos bolsos e erguendo o queixo com confiança:
“Já decorei todos os caminhos. Estou quase apto a ser um socorrista também.”
O senhor se levanta, ajeitando o chapéu, e então seus olhos pousam sobre Hayashi. Ele o observa por alguns segundos, sua expressão se transformando de surpresa para uma mistura de nostalgia e orgulho:
“Hmm… Ele cresceu tanto. Nem parece aquele garotinho assustado, né?”
Shin sorri largamente e dá um leve tapa no ombro de Hayashi, que permanece imóvel, seus olhos alternando entre Shin e o senhor:
“Agora ele é um homem de coragem! “ – brinca Shin, rindo.
Hayashi solta um pequeno suspiro, seus lábios se curvando num leve sorriso, mas sua confusão ainda é evidente.
“Desculpe, mas quem é o senhor?”– pergunta, inclinando levemente a cabeça.
O senhor se apresenta, com um olhar caloroso e paciente:
“Menino Hayashi, nós já nos conhecemos há alguns anos atrás, aqui nessa floresta. Você se lembra?”
Hayashi dá um passo à frente, suas sobrancelhas franzidas enquanto tenta puxar as vagas memórias que surgem em sua mente:
“Eu me lembro do ocorrido, mas tenho lembranças muito confusas daquele dia…”
Antes que o senhor pudesse terminar de explicar, uma voz animada ecoa pela trilha:
“Vô! Aqui estão as iscas que o senhor me mandou buscar!”
Os três se viram, e Aoki surge correndo pela trilha, segurando uma pequena sacola nas mãos. Ele para ao lado do senhor, respirando rapidamente, mas com um sorriso no rosto.
“Ah, esse meu neto é muito prestativo” – diz o senhor, rindo. – “ Eu esqueci das minhas iscas favoritas, e ele foi correndo buscar.”
Aoki ergue os olhos para Hayashi, e os dois se encaram. Por um momento, o tempo parece parar. A confusão é evidente nos rostos de ambos, mas há algo mais: surpresa e curiosidade.
O senhor quebra o silêncio com um sorriso caloroso:
“Menino Hayashi, esse é meu neto querido. Ele foi quem te salvou naquele dia na floresta, lembra?”
Os olhos de Aoki se arregalam levemente, enquanto Hayashi dá um pequeno passo para trás, a incredulidade estampada em seu rosto.
“Eu…?” – começam os dois ao mesmo tempo, mas as palavras morrem antes que possam se formar.
O silêncio entre eles é preenchido por uma sensação de familiaridade. Então, como se um gatilho fosse disparado, ambos começam a ser inundados por lembranças daquele dia na floresta: o lago, o medo de Hayashi, o sorriso brilhante de Aoki, e a mão que o guiou para fora da escuridão.
Eles continuam se encarando, suas expressões passando de espanto para algo mais suave, quase nostálgico.
– Parece que vocês se lembraram – comenta o senhor, observando a cena com um sorriso satisfeito.
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Atualizado até capítulo 119
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