Como nos conhecemos PARTE 1

Observo as ondas revoltas do mar, estão agitadas, assim como o meu coração, que bate descontroladamente contra o meu peito, passei tempo demais em pé, deito na areia fofa e respiro profundamente tentando-me acalmar, encaro o céu sem estrelas, as mesmas foram escondidas pelas nuvens, a lua também se encontra desaparecida entre elas, a noite excessivamente escura reflete o que à dentro mim, como um espelho.

Fecho os olhos, as palavras do médico se repetem na minha mente como num ‘looping’: "A perda auditiva neurossensorial é quase sempre irreversível e progressiva, mas com o aparelho auditivo e os medicamentos podemos evitar a perda total da audição e diminuir os sintomas" eu estava apavorada e perguntei o que mais temia na minha mente,

"Eu posso ficar completamente surda doutor?" ele olhou-me com compreensão e disse "É possível, mas se seguir o tratamento pode ser que não chegue a esse ponto, o apoio da família é fundamental no tratamento ele depende de você se manter positiva e bem mentalmente".

A minha família se eles pudessem, já me teriam anulado da vida deles, ainda me lembro quando o meu pai descobriu o diagnóstico do médico "Surda? Você vai ficar surda? Como eu posso ter uma filha tão fraca e inútil?" ele disse como se eu fosse o ser mais desprezível do mundo, eu não era tão inútil, era uma das melhores aulas da escola sempre em primeiro lugar nas disciplinas, sempre fui boa em tudo que fazia seja cantar, desenhar ou tocar algum instrumento, sei falar dois idiomas além do português. Ele continuou sem se importar se estava me ferindo ou não, "Além de ficar desmaiando por aí também vai ficar surda? Não quero que ninguém saiba sobre isso? Se entupa de remédios, faça o que for preciso, mas não deixe ninguém saber, o que os meus amigos e sócios vão pensar? Eu planejava casar você com o filho dos Hernandez, e agora?" eu olhei para ele perplexa, ele queria casar-me com aquele garoto mimado? Ele nem sabe respeitar uma mulher, como pode ser um bom marido? "Bom, agora não importa, tudo que precisa fazer é não deixar que ninguém descubra sobre as suas doenças, me ouviu? Não seja mais um incómodo e atrapalhe os meus negócios" Ele disse e saiu batendo a porta.

Abro os meus olhos e estou de volta à praia, um raio corta o céu anunciando a tempestade que virá, não tinha previsão para tempestade nessa época, mas de repente uma onda de frio mudou de rota.

Enxugo as lágrimas que banham o meu rosto e caminho de volta para o hotel, a minha família tem uma casa de praia aqui perto, mas eu não sou digna para estar entre eles, todos os anos eles fazem uma festa feliz e convidam amigos e sócios mais próximos, todas as pessoas importantes, pessoas que não podem descobrir como eu sou. Cresci com a minha avó materna, mas há dois anos descobrimos que ela tinha Alzheimer e tivemos que interná-la numa casa de repouso, eu ainda vou visitar ela sempre, mas tive que ir morar com o meu pai, nos duas passamos os finais de ano juntas, cantávamos músicas de natal e fazíamos a contagem regressiva para o próximo ano, agora eu passo os finais de ano, sozinha num quarto de hotel, porque segundo o meu pai se eu ficar com eles as pessoas podem descobrir que eu sou 'doente e fraca', mas preciso aparecer de vez em quando para não ficar estranho.

Caminho para dentro, o hall está vazio, já passam das 24 horas. Coloco as minhas mãos no bolso do moletom preto e vou em direção ao elevador, no caminho alguém esbarra em mim, é um garoto, deve ser um pouco mais velho que eu, tem o cabelo loiro quase ruivo caído em volta do rosto, olhos castanho-claro-esverdeados como uma fruta que está começando a amadurecer, ele tem pintinhas salpicadas pelo rosto, são claras, então de longe não dá pra ver, exceto as que ficam no canto do olho esquerdo e do lado direito do nariz elas são maiores e escuras, ele usa um conjunto de moletom branco escrito 'Good boy' em letras douradas, a roupa só destaca sua beleza, em contraste com o cabelo e os olhos, ele parece brilhar. Ainda encantada pela sua aparência, escuto sua voz suave e gentil dizer:

"Desculpe-me, se machucou?" ele oferece-me a mão, a pego e levanto-me rápido demais sinto o meu coração acelerar, uma tontura me invade e eu encosto nele com a intenção de apoiar-me, escuto a sua voz bonita outra vez,

"Você está bem?" ele parece preocupado, sei que vou desmaiar então digo:

"Vou desmaiar, coloque-me deitada, não precisa chamar a ambu… " antes de eu terminar de falar sou abraçada pela escuridão.

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Comments

Vera Lúcia Vieira

Vera Lúcia Vieira

estou gostando parabéns pelo trabalho emocionante

2025-04-04

1

Elaine Maria

Elaine Maria

Está história é incrível, 😃

2025-01-21

1

Yukishiro Enishi

Yukishiro Enishi

Esta história é incrível, só falta atualização! 😌

2025-01-01

1

Ver todos

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