...Rebecca...
Já faz 30 minutos que estou em pé ouvindo esse monte de velhos falar. Quando não falam sobre dinheiro, é sobre a vida alheia. Estou cansada e, desde que cheguei, não consegui comer nada. As palavras do meu pai martelam na minha cabeça:
"Você precisa vir, eles estão perguntando sobre a sua ausência. Seria estranho se você não viesse nem para o Ano Novo. Pareça saudável, não quero que descubram ou desconfiem, e não faça cena."
💭 Tudo bem, só preciso aguentar mais um pouco. Depois do jantar posso inventar uma desculpa para ir embora e passar a virada no hotel com o Alex. 💭 Penso, queria que ele estivesse aqui. Provavelmente me faria sorrir e esquecer que tem um senhor de quase 70 anos dando em cima de mim — e o pior, a esposa dele está aqui. Respiro fundo quando eles começam com o interrogatório sobre quando pretendo me casar, se já tenho um pretendente, ou qual faculdade quero cursar. Quando digo que é Letras, perguntam qual a utilidade disso: "Como se aplica isso aos negócios? Ao menos ajuda na criação dos filhos?" disse um deles, claramente zombando. Outro riu e continuou: "Penso que deve ser um curso perfeito para formar uma boa esposa, do contrário seu pai nunca permitiria." Todos riem da piada sem noção.
Farta de ouvir ‘abobrinhas’, afasto-me do grupo e pego uma bebida que o garçom serve. Não demora, sinto alguém se aproximar. Preparo meu melhor sorriso forçado e me viro, encontrando alguém inesperado.
— "Ah! É você, Enzo. O que faz aqui? Você nem gosta desse tipo de festa", digo com desdém.
— "Fui obrigado. Meu pai disse que ia me deserdar se eu não viesse." Dou uma risada sarcástica e pergunto:
— "Por que sua presença seria tão desejada?"
Ele me olha com olhos semicerrados e a sobrancelha arqueada.
— "Acha que não é?"
— "Acho que não deveria ser", respondo devolvendo o olhar.
— "Por quê? As mulheres costumam amar minha presença." Diz presunçoso, fazendo um 'tchauzinho' para uma senhora que sorri de volta.
— "Com 'as mulheres', quis dizer exatamente quem?"
— "Todas, não é óbvio?" Reviro os olhos. Ele continua: — "Menos você, ao que parece."
Lanço-lhe um olhar de nojo.
— "Só percebeu agora?! Achei que fosse mais esperto. Eu te compararia a um cão, mas não quero ofender o bichinho."
— "Não entendo por que está sendo tão cruel comigo ultimamente. O que eu te fiz?" Ele me olha como se realmente não soubesse.
— "Nada, só fez uma aposta ridícula com seus amigos dizendo que me conquistaria e me levaria para cama. Fora isso, nada. Afinal, brincar com os sentimentos alheios deve ser divertido, não é?" Digo com raiva nos olhos.
— "Como descobriu?" Ele me olha perplexo.
— "Paredes têm ouvidos e pessoas têm bocas. Elas servem como um telefone sem fio, sabia? O que você joga pro vento, ele leva."
Vou em direção à saída. Para mim, já deu desse lugar. Sinto um aperto no meu braço e alguém puxa meu corpo.
— "Becca, me escuta", diz Enzo com uma falsa cara de arrependimento.
— "Não me chama assim, para você sou 'senhorita Villar'. E nunca mais me segure assim de novo." Tiro meu braço da mão dele o mais rápido possível, com a respiração falhando.
— "Pensei que fôssemos amigos", diz ele.
— "Eu também pensei isso, Enzo." Saio com o coração acelerado. No caminho, sou barrada pelo meu pai, que pergunta para onde estou indo. Digo que preciso sair, ele diz que não posso agora. Já exausta, grito:
— "SE NÃO ME DEIXAR SAIR, VOU DESMAIAR AQUI MESMO. QUER QUE ISSO ACONTEÇA?"
Ele sai da frente, e eu corro para fora. Sei que vou desmaiar em breve, meu ouvido tem um zumbido ensurdecedor e a cabeça gira. Chego na praia com dificuldade, sinto meu corpo cair, mas antes de tocar o chão, uma mão me segura. Vejo seu rosto bonito e brilhante antes de apagar.
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Acordo sentindo a cabeça pesada, olho em volta — não estou mais na praia, estou no quarto do... Fui interrompida quando alguém entrou na sala.
— "Alex?!" digo olhando para o homem à minha frente. Ele vem até mim com um copo de chocolate quente. Lembro de ter lhe dito que gostava de tomar isso quando estava triste, mas como ele sabe que estou triste?
— "Aqui", disse me entregando o copo. "Acho que você deveria tomar um banho, vai ajudar a se sentir melhor. Pode usar meu banheiro", falou depois que terminei o achocolatado, recolhendo o copo e entregando uma toalha limpa.
— "Não precisa, estou bem." Ele me levantou e me empurrou até a porta do banheiro.
— "Acredite, você precisa", disse fechando a porta.
Olho no espelho e levo um susto: meu rosto todo borrado de maquiagem, nem percebi que chorei. Meu cabelo está parecendo um ‘ninho de rato’ e meu vestido branco está sujo de areia. Entro no chuveiro, deixando a água me lavar enquanto as lágrimas escorrem involuntariamente. Depois do banho, me sinto mais leve. Pego a toalha e percebo um conjunto de moletom enrolado no meio — branco, com a frase Don’t worry, be happy em letras douradas. Acho que ele gosta desse estilo.
Após me vestir, saio do banheiro e encontro Alex com mais um copo de achocolatado e um balde de salgadinhos. Ele me olha e diz:
— "Quer assistir uma série comendo besteira?"
Concordo, devolvendo seu sorriso.
Ficamos um bom tempo assistindo juntos. Num momento, ele me fala:
— "São 23:59."
Caminhamos até a sacada do quarto e fazemos a contagem regressiva:
Ele: "10"
Eu: "9"
Ele: "8"
Eu: "7"
Ele: "6"
Eu: "5"
Ele: "4"
Eu: "3"
Ele: "2"
Eu: "1"
Nos olhamos e falamos ao mesmo tempo:
— "FELIZ ANO NOVO!"
Enquanto fogos estouram e gritos podem ser ouvidos por toda parte.
Foi uma noite maravilhosa. Quando começou a amanhecer, ele me acompanhou até o quarto. Na porta, puxou-me, deu um selinho nos meus lábios, olhou sorrindo e disse:
— "Até daqui a pouco, linda."
— "Até", respondi antes de entrar. Mas à tarde, quando o procurei, ele tinha desaparecido. Perguntei na recepção e disseram que ele fez o checkout às 6, 30 minutos após me deixar no quarto.
Eu não o vi mais depois disso.
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...Notas de tradução:...
Don't worry, be happy \= Não se preocupe, seja feliz.
Checkout \= registro de saída.
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Elaine Maria
anceosa pra saber mais sobre a história
2025-01-21
1
Fastandfurious
Intriga até o fim.
2025-01-02
1