O Caminho da Escolha

Aurora mal conseguia processar as palavras de Miguel. Ele havia dito, com uma frieza calma, que ela não tinha escolha. Mas, no fundo, sabia que ele estava falando a verdade. Ela sentia a pressão de algo desconhecido e inevitável, como se estivesse à beira de um precipício, incapaz de voltar atrás.

A noite estava escura quando Miguel se afastou, mas ela ainda sentia sua presença, como uma sombra que a seguia onde quer que fosse. Ele tinha algo que ela queria entender, algo que a atraía de uma maneira inexplicável, como se estivesse amarrada a ele por um fio invisível. Aurora não conseguia mais negar a conexão entre eles. Algo estava acontecendo, algo que ela não podia controlar, mas que ao mesmo tempo sentia em seu coração.

Ela havia se afastado um pouco da porta onde ele estava, dando-lhe espaço para respirar. Mas ainda podia vê-lo através da janela da biblioteca. Seus olhos brilhavam sob a luz da lua, intensos, misteriosos. Ele a estava observando, esperando.

Aurora, por sua vez, sabia que não poderia mais adiar o inevitável. A noite parecia se arrastar, cada minuto pesado, e o livro ainda estava ali, em seu baú, esperando para ser lido. Ela sabia que tinha que enfrentar as palavras que Miguel havia dito: “Você tem um papel maior nisso do que imagina”. Mas o que isso significava?

Ela se levantou, tomando uma decisão que sabia que mudaria tudo. Com passos firmes, ela saiu da biblioteca, atravessou o corredor e chegou até a escada que levava aos andares superiores. A mansão estava em silêncio, como se todas as suas paredes estivessem guardando um segredo profundo e obscuro. Cada passo de Aurora ressoava, como um eco que parecia alertar sobre o que estava prestes a acontecer.

Ela não sabia exatamente o que procurava, mas algo dentro dela dizia que a chave para tudo estava ali, naquele livro. Quando finalmente entrou no quarto, o baú estava em seu canto, aguardando por ela, silencioso e ameaçador. Aurora se aproximou com uma sensação crescente de urgência. Ela precisava entender. Não podia mais fugir. Com mãos trêmulas, ela abriu o baú e retirou o livro, agora tão familiar, e o colocou sobre a mesa.

Aurora virou as páginas com cuidado, seu olhar fixo nas palavras, buscando alguma pista que a orientasse. As anotações estavam cada vez mais confusas, mas uma palavra se destacou para ela. “Sangue”. A palavra parecia ecoar em sua mente, ligada a algo que ela já soubera, mas não conseguia recordar. Ela leu o trecho em voz baixa.

“Quando o sangue de sua linhagem se misturar ao passado, o ciclo estará completo. A verdade será revelada, mas ao preço de sua alma. O destino será traçado por suas próprias mãos.”

Aurora engoliu em seco. A palavra “sangue” fazia seu coração acelerar, e a sensação de que ela estava sendo envolvida por algo que não podia controlar aumentava a cada segundo. O que isso significava? E, mais importante, o que ela deveria fazer com essa informação?

Ela fechou o livro e o empurrou para o lado, seus pensamentos mais confusos do que nunca. Um grito de agonia subiu em sua garganta, mas ela conseguiu se controlar. As respostas estavam ali, mas ela não sabia por onde começar. Em um impulso, ela se levantou e saiu do quarto, decidida a confrontar Miguel. Ele tinha que saber mais. Ele tinha que explicar.

Quando Aurora desceu novamente para o andar inferior, encontrou Miguel na sala de estar, com um olhar sombrio. Ele parecia esperar por ela, como se soubesse que ela viria. E, de alguma forma, ele estava certo.

“Aurora,” disse Miguel, sua voz carregada de tensão. “Você leu o livro.”

Ela o encarou diretamente, sem hesitar. “Eu não entendo. O que é isso? O que significa tudo o que está escrito ali?”

Miguel a observou com um olhar intenso. Ele parecia pesar suas palavras antes de falar, como se estivesse decidindo o quanto deveria revelar. Ele deu um passo em direção a ela, e a proximidade de seu corpo fez Aurora prender a respiração.

“A verdade é difícil de engolir, Aurora,” ele disse finalmente, “mas não há mais como fugir dela. Você é parte de algo muito maior do que imagina, algo que remonta a gerações.”

Ela sentiu um nó na garganta. “Eu quero saber a verdade, Miguel. Quero entender o que está acontecendo. O que você sabe?”

Miguel respirou fundo, como se estivesse se preparando para contar algo que sabia que mudaria tudo. Ele olhou para Aurora, seus olhos agora mais suaves, como se estivesse se esforçando para encontrar as palavras certas.

“Eu sei que você não acredita em tudo isso, e eu entendo. Mas você precisa entender que a sua família, Aurora, não é o que você pensa que é. Seu pai fez escolhas, escolhas difíceis, para proteger você e a linhagem de sua família. Mas essas escolhas têm um preço. E agora, o passado está voltando para cobrar esse preço. E você, como filha, tem um papel a desempenhar.”

Aurora deu um passo para trás, seu coração disparando. “O que você está dizendo? O que meu pai fez?”

Miguel deu um suspiro pesado. “Ele fez o que precisava ser feito para proteger a família de algo maior, algo que vocês não podiam controlar. O livro, o sangue... Tudo isso é parte de um ciclo que se repete a cada geração. Agora, é você quem precisa decidir o que fazer com essa herança.”

Aurora estava atônita. “Mas por que você? Qual é o seu papel nisso?”

Miguel hesitou por um momento, como se estivesse em conflito com a resposta que precisava dar. Então, finalmente, ele falou.

“Eu sou parte da sua história, Aurora. Parte do que está em jogo agora. O que seu pai fez não foi apenas uma escolha para proteger vocês, mas também uma escolha para garantir que você, algum dia, tomasse a decisão certa. Eu fui enviado para ajudar a guiar você. Ajudá-la a entender.”

Ela o olhou com uma mistura de raiva e confusão. “Você está me dizendo que eu sou parte disso? Que minha vida, minha família, está presa a esse ciclo?”

Miguel a encarou, seus olhos brilhando com uma intensidade que a fez questionar tudo o que sabia sobre ele. “Sim. Você está presa a isso, mas não de uma maneira que você tenha que temer. Você tem a escolha, Aurora. Você pode decidir se vai quebrar esse ciclo ou deixá-lo continuar.”

Ela sentiu a pressão aumentar, como se o ar estivesse se tornando mais denso. O que ele estava pedindo dela? Uma escolha? Como ela poderia fazer algo tão grande e difícil? Ela se sentia perdida, como se estivesse em uma encruzilhada sem sinalização, sem saber qual caminho seguir.

“E se eu não quiser fazer parte disso?” ela perguntou, sua voz falhando. “E se eu decidir que não quero me envolver? O que acontece?”

Miguel a observou com um olhar melancólico. “O ciclo continua, Aurora. E a verdade, a verdadeira verdade, ficará fora do seu alcance. Você viverá com as consequências disso, e sua família também.”

Aurora sentiu um peso cair sobre seus ombros. Ela sabia que não poderia fugir de sua linhagem, de seu destino. A verdade que Miguel lhe oferecia era tentadora, mas ao mesmo tempo assustadora. Ela não sabia se estava pronta para enfrentá-la.

Mas, no fundo, ela sabia que não tinha escolha. O destino a estava chamando.

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Chirley Cristiane Oliveira

Chirley Cristiane Oliveira

Começando a ler dia 18/12/24

2024-12-19

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