Capítulo 04

Saquei minha arma da cintura assim que vi o desgraçado correndo. Eu o reconheceria até no inferno — olhos puxados, cabelo branco. Kenichi Yǔchén. Por mais que muitos dissessem que todos os chineses pareciam iguais, esse era impossível de confundir. Ele carregava um ar de arrogância que me fazia querer atirar só pela lembrança do que ele tinha feito.

Ele estava no telhado, observando como o rato sorrateiro que sempre foi. Assim que me viu, pulou e correu na direção da floresta. Não pensei duas vezes antes de deixá-lo Fabrizio para trás e ir atrás dele, ignorando os gritos do meu irmão me chamando.

Levantei a arma e disparei na direção dele, mas o desgraçado era rápido, desviando como se tivesse ensaiado aquilo mil vezes.

— Filho da puta! — rosnei entre dentes, parando para recuperar o fôlego quando percebi que não ia alcançá-lo.

— Nathalie? Que merda foi essa? — Fabrizio apareceu logo atrás, visivelmente irritado e confuso.

— Aquele... — apontei na direção da floresta, ofegante. — Aquele desgraçado era Kenichi Yǔchén.

Fabrizio ergueu uma sobrancelha, claramente surpreso ao ouvir aquele nome. Ele sabia quem era Kenichi — não só pelo que ele tinha feito, mas porque eu passei um mês inteiro xingando o cara. Disse que era um filho da puta, broxante, e até que fodia mal. Bem... talvez essa última parte fosse uma meia verdade.

Conheci Kenichi em um congresso de gestão na China. Ele parecia simpático, engraçado e, claro, era bonito. Algumas taças de vinho depois, acabamos na cama. O problema veio no dia seguinte, quando descobri que o cretino tinha roubado as fotos do nosso balanço patrimonial.

Fabrizio soltou uma risada seca, cruzando os braços.

— Então, além de roubar nossos dados, o cara ainda conseguiu te enganar no seu próprio território?

— Não começa, Fabrizio. — rosnei.

— Só estou dizendo... devia ter dado um tiro antes de ir pra cama.

Revirei os olhos, ignorando o sarcasmo dele. Ainda podia sentir o gosto amargo daquele erro. E agora, Kenichi estava aqui, claramente envolvido com quem quer que estivesse tentando sabotar nossa operação.

...👑...

Saí do escritório da empresa já perto das sete da noite. Apesar de amar meu trabalho, manter essa fachada às vezes me exaure. É por isso que passei anos viajando o mundo, tentando encontrar um pouco de paz e liberdade. Mas agora, percebo que preciso me aquietar.

Verifiquei meu celular enquanto esperava o elevador. Uma mensagem de Dominic, enviada há mais de uma hora, informava sobre uma reunião urgente. Bufei. Não queria estar ali, mas se tinha algo envolvendo as nossas cargas desviadas, eu precisava saber.

Dirigi até a mansão da família, acompanhada pelo comboio dos meus seguranças. Cheguei às 19h52, com a cabeça já latejando só de pensar no tom dramático que Dominic provavelmente adotaria. Assim que entrei pela porta principal, Michel me encarou, os braços cruzados e um olhar de reprovação estampado no rosto.

— Até que enfim. — ele disse, direto como sempre.

— Por que demorou? — Dominic perguntou, erguendo as sobrancelhas enquanto seu tom carregava mais julgamento do que curiosidade.

— Estava ocupada na empresa. — respondi secamente, sentando na poltrona mais próxima. Meu olhar pousou em Leonardo, que estava relaxado no sofá como se o mundo não estivesse caindo ao nosso redor. Revirei os olhos, mas me contive.

Dominic começou, direto ao ponto:

— É o seguinte: a máfia chinesa está nos atacando. Estão nos ameaçando e se movendo contra os nossos interesses. — Sua voz carregava uma gravidade que não precisava de reforços. — Quero que todos tomem muito cuidado.

— Mas por que estão nos ameaçando? — Fabrizio perguntou, a testa franzida.

Dominic apertou os lábios antes de responder:

— Porque eles acham que somos fracos. Esse desvio foi só um teste para medir nossa resposta.

Leonardo riu, um som seco e carregado de sarcasmo.

— Eles realmente acham que vão se safar? Já estão mexendo com a gente há tempo demais.

Eu me inclinei na poltrona, sentindo meu sangue ferver. A máfia chinesa não era qualquer adversário, mas eles claramente tinham subestimado o quanto os Salvatore estavam dispostos a lutar.

— O que faremos? — perguntei, minha voz firme.

Dominic me encarou, o olhar frio.

— Primeiro, vamos descobrir quem está trabalhando para eles no nosso território. E depois? Vamos dar a eles uma lição que não vão esquecer.

O ar no cômodo ficou mais pesado, todos absorvendo o que estava por vir. Se tinha uma coisa que os Salvatore sabiam fazer, era proteger o que era nosso — custasse o que custasse.

— Kenichi Yǔchén. — falei de repente, deixando o nome escapar como uma lâmina cortando o silêncio.

Michel arqueou uma sobrancelha, atento.

— O que tem ele?

Me endireitei na cadeira, cruzando os braços.

— Ele estava no local onde as cargas foram vistas pela última vez. Eu o vi. Corri atrás dele e atirei, mas o desgraçado escapou. — Mordi a parte interna da bochecha, frustrada, antes de continuar. — Kenichi faz parte do grupo de gerência de uma empresa renomada na China.

— Um ponto pra você, Nathizinha. — Leonardo murmurou do sofá, um sorrisinho irritante no rosto.

Lancei um olhar de puro desprezo na direção dele, mas me contive.

— Só abre a boca pra falar algo útil, Leonardo. — rosnei.

Dominic, ignorando a troca de farpas, inclinou-se na cadeira e fixou os olhos em mim, a expressão séria e calculista.

— Quero tudo sobre ele, Nathi. Qualquer detalhe que possa nos levar mais perto dele ou da operação deles.

Assenti sem hesitar.

— Já estou cuidando disso. Kenichi não vai escapar dessa vez.

O silêncio que se seguiu foi denso, cheio de uma tensão que todos na sala sentiam. Não era apenas sobre as armas desviadas ou as ameaças da máfia chinesa. Era uma questão de orgulho e de poder, e os Salvatore não perdoavam afrontas.

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