Capítulo 01

Ela era linda.

Victória tinha apenas uma semana de vida. Era loirinha, com olhos incrivelmente azuis. Desde que soube que teria uma irmã, fiquei animada. Sempre quis uma amiga. Fabrízio, meu irmão, era meu melhor amigo, mas nunca gostava de brincar comigo, e Julian,  meu pai, jamais me deixava ter bonecas Barbie. Ele sempre dava livros ou jogos de aprendizado de presente para mim e para os outros irmãos.

Até então, eu só tinha uma boneca de pano, que Dominic fez para mim. Eu a escondia de Julian com cuidado, com medo de que ele a encontrasse e a tirasse de mim.

Sentada no chão da sala, com as pernas dobradas, eu brincava com Victória. Ela estava no bebê conforto, fazendo caretas engraçadas enquanto me olhava com seus olhos azuis — os mesmos que eu e meus irmãos herdamos.

A campainha tocou, e a empregada atravessou a sala para atender. Não dei importância. Continuei brincando com a bebê loirinha, até que minha mãe desceu as escadas e foi até a porta. Ouvi sua voz conversando com alguém.

Dominic e Michel estavam na escola, então, além de mim, estavam em casa apenas Fabrízio, mamãe, Victória e um monte de empregados.

— Ai, Doni, ela é tão linda! — comentou uma mulher alta, se aproximando de mim e de Victória.

— Ela realmente é uma gracinha. Trouxemos presentes para ela — acrescentou um homem que acompanhava a mulher.

— Ah, vocês sabem que não precisava, né? — respondeu mamãe, sorrindo.

Olhei para eles com curiosidade. Já tinha visto esses adultos antes, mas não conseguia lembrar onde. Me levantei, posicionando as mãos na cintura, desconfiada.

— Oi, Nathalie — disse a mulher, abaixando-se para ficar na minha altura. — Também trouxemos presentes para você.

— Eu não sou uma criança — retruquei, batendo o pé no chão e afastando a franja dos olhos.

— Este é o nosso filho, Leo — continuou a mulher, colocando a mão no ombro de um garoto que eu só então percebi estar ali. — Leo, essa é a Nathalie. Ela tem seis anos, é filha da Doni.

Fitei o menino com o olhar mais superior que consegui, mesmo sabendo que ele era mais alto e provavelmente mais velho que eu. Ele era loiro, magro e usava uma camisa com um avião estampado na frente.

Eu estava de pijama, com um short velho e uma camiseta cheia de florzinhas, mas não me importei. Desde o primeiro momento, não gostei dele.

— Cumprimente o Léo, filha — mamãe pediu com um sorriso encorajador.

Para não parecer mal-educada, dei um passo à frente e estendi a mão para o garoto. Ele segurou minha mão com firmeza, cobrindo-a completamente com a dele. No mesmo instante, senti um friozinho estranho na barriga, como se fossem cócegas. Retirei minha mão depressa e revirei os olhos, fingindo indiferença.

Vi papai fazer isso uma vez e imitei, embora mamãe dissesse que era falta de educação. Tenho certeza de que ela só dizia isso porque era algo que papai fazia.

De repente, Fabrízio desceu as escadas segurando o controle remoto do seu carrinho. Ele estava tão entretido que nem percebeu os visitantes.

— Ah, esse deve ser o Fabrízio! — exclamou a mulher, notando a semelhança entre nós. — Ele é o irmão gêmeo da Nathalie, Leo — explicou ao filho.

— Sim, ele é meu irmão gêmeo — acrescentei rapidamente, levantando o queixo com orgulho. — Mas eu sou mais velha.

— Apenas três minutos! — Fabrízio rebateu, sem nem me olhar, já concentrado em seu carrinho.

Antes que eu pudesse retrucar, a porta de casa se abriu, e Dominic e Michel entraram com suas mochilas e uniformes escolares. O barulho da entrada deles preencheu a sala, e a dinâmica familiar ganhou um novo tom com a chegada dos meus irmãos mais velhos.

— Então, crianças, esta é a Emma e o Jacob Gallanis, e este é o filho deles, Leonardo. Eles são nossos novos vizinhos, e a Emma é minha amiga de longa data — disse mamãe com um sorriso caloroso.

Dominic e Michel cumprimentaram o casal educadamente, e até Fabrízio, ainda com o controle do carrinho nas mãos, acenou com a cabeça, murmurando um tímido "olá".

Eu, por outro lado, aproveitei a oportunidade para lançar um olhar desafiador para o tal Leonardo. Quando ele cruzou os braços, sem dizer nada, não resisti: coloquei a língua para fora, numa provocação infantil.

Mamãe percebeu imediatamente e me lançou um olhar de reprovação tão intenso que senti meu rosto esquentar. Cruzei os braços, emburrada, mas decidi me comportar — pelo menos por enquanto.

Mais tarde, enquanto todos estavam no jardim conversando depois do almoço, aproveitei para tentar pegar a caixa de cereal no armário mais alto. Mamãe sempre a colocava lá, dizendo que eu não podia comer  por causa da minha alergia e que era dos meus irmãos, mas eu queria mesmo assim. Subi em uma cadeira e me estiquei o máximo que pude, determinada a alcançar.

— Te peguei! — disse o garoto de repente, aparecendo do nada e me assustando.

Perdi o equilíbrio e caí da cadeira, batendo no chão com um baque.

— Seu indiota! Olha o que você fez! — gritei, olhando para ele com raiva enquanto esfregava o cotovelo machucado.

— Blá-blá-blá — ele respondeu com desdém. — Você não devia estar se pendurando, sabia? Podia ter se machucado bem mais feio.

— Essa é a minha casa. E o meu cereal! — retruquei, apontando para o armário aberto. — Agora sai daqui, eu não gosto de você!

Ele ficou parado, me olhando com uma expressão estranha, como se estivesse me analisando.

— O que foi? O que você quer? — perguntei irritada, mas ele apenas continuou calado, com um sorriso de lado no rosto.

Finalmente, ele limpou a garganta e disse:

— Você fala pra caramba para uma coisinha tão pequena.

Bufei, levantei e pisei com força no pé dele.

— Ai! — ele gritou, recuando. — Por que você fez isso?

— Porque você me chamou de... de talagera! E eu tô na minha casa! Isso é falta de educação!

Ele levou a mão ao rosto, claramente segurando o riso.

— Então... — ele falou tentando disfarçar. — É tagarela, não talagera. E é idiota, não indiota.

— Não tô nem aí! Eu não gosto de você! — Cruzei os braços, revirando os olhos em desafio.

Ele deu de ombros, ainda sorrindo de forma convencida.

— Vai gostar. Te dou uma semana para aprender a gostar de mim.

Avancei um passo, levantando o rosto para encará-lo.

— Nunca vou gostar de você. Nunca! — declarei com firmeza antes de sair batendo os pés, como se quisesse esmagar a terra inteira com cada passo.

...👑...

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Comments

Michele De Araujo

Michele De Araujo

Ela já amou ele dês de criança 😻😻😻

2024-12-27

2

Dulce Gama

Dulce Gama

KKK já estou amando muito 🎁🎁🎁🎁❤️❤️❤️❤️❤️

2024-12-16

2

Sandra Camilo

Sandra Camilo

amo amores de infância, eles são lindos os per6!! parabéns autora!!👏👏❤️🌹

2024-12-16

2

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