Felicity Smokey
Aproximando-me de Thea, que está nervosa com suas duas mãos sobre a comanda, digo:
— Me diz, Thea, no que você trabalha?
— Somos amigas há três anos, e você nunca quis saber sobre o meu trabalho — fala ela, triste.
— Desculpa, Thea, acho que eu sempre mantive minha mente no balé, e você nunca me disse nada sobre o seu emprego. Nossos assuntos sempre foram sobre o balé e as aulas. Me sinto uma péssima amiga agora — fico triste comigo mesma, e Thea, que senta ao meu lado na cama, me abraça.
— Felicity, o meu trabalho não é nada digno, mas é por causa dele que eu estou aqui. — Me sinto confusa, mas ela diz tudo com tristeza no olhar.
— Pra conseguir estar na academia, como estou, eu tive que fazer uma escolha da qual não me orgulho, mas eu precisava do dinheiro. Foi então que vendi meu corpo.
Me assusto, e pela expressão dela nesse momento, percebo que ela se sente envergonhada e limpa suas lágrimas.
— Felicity, não quero que pense que sou uma má pessoa, mas eu preciso vender meu corpo toda noite. É um trabalho que não atrapalha as aulas e a minha carreira. São poucas horas à noite, e eu ganho dinheiro fácil e rápido. Eu não tenho recursos da minha família, eu sempre estive por conta própria.
— Thea, eu não estou te julgando, e nem quero!
— Não trabalho no bordel porque eu quero, mas sim porque no momento é o que eu tenho de melhor. Quando eu assinar um contrato com a academia, vou sair dessa vida.
Abraço-a, que chora angustiada.
— Então, a Madame Morone é dona do lugar onde você trabalha?
— Sim, Felicity, e ela sempre contrata se gostar de alguma garota, mas Felicity, podemos pensar em outra coisa. — Me levanto, pensativa, e digo.
— Não, Thea, preciso de dinheiro rápido. A senhora Sara disse que mês que vem vai ter a mudança. Preciso agir logo, se quero ir para as competições regionais. É a minha chance. Vou me arrumar e você me leva na tal madame. Vou convencê-la a me contratar.
Sigo para a comanda e vasculho tudo procurando uma roupa adequada.
— Felicity, você que nunca nem beijou alguém na boca, não entende o que estou falando? — Ela me puxa pelo braço. — São homens desconhecidos tocando no seu corpo, e você não pode reclamar de nada! Entende isso! — Olho nos olhos dela e respiro fundo, pois eu nunca pensei em garotos. O único homem que sonhei na vida foi ele, Christopher Royal. Ele é o único homem dos meus sonhos, e o único que um dia eu sonhei em beijá-lo. Mas que agora está mudando a minha vida, não posso ser mais uma garota sonhadora. Puxo minha mão e digo firme.
— Se você não me apresentar à madame, eu irei sozinha! Meus pais morreram e tudo o que eles queriam era que eu fosse a melhor bailarina, e Thea, eu vou ser, nem que pra isso eu precise ser outra agora!
— Vou te emprestar um vestido meu. A madame sempre exige elegância e beleza à mostra. Você é linda, Thea, e especial. Ela vai gostar de você.
E assim, Thea me ajuda a me arrumar, e eu me olho no espelho e me vejo totalmente diferente. Tudo é novo, mas eu prefiro ser forte e entender que a minha vida mudou.
(...)
Estamos no caminho do trabalho da Thea de táxi. Ela me diz como devo me comportar para agradar a Madame Morone.
— Deixa que eu falo tudo. Você é pura e ela vai querer fazer o leilão. — Arregalo os meus olhos.
— Como assim, leilão, Thea?
— Meninas puras, a Madame Morone deixa os homens loucos durante um tempo e depois ela faz um leilão, leiloando a virgindade dela. Assim, ela vai querer fazer isso com você, e quem dá o maior lance vai ter uma noite com você.
— Pelo menos eu vou ter um tempo para me acostumar e não vou precisar me deitar com alguém hoje, né? — Thea sorri, mas logo acaricia o meu rosto.
— Você é tão inocente, Felicity. Espero que sua primeira vez seja com alguém bem carinhoso como foi comigo.
Ela me conta como foi vender o corpo dela pela primeira vez, e ela disse que deu sorte. Ela fala também que no bordel da Madame Morone as garotas não são maltratadas porque ela não aceita violência.
Escuto tudo atenta. Como bailarina, preciso sempre ter foco e manter os pés firmes no chão, porque se eu der um passo errado já sou excluída da coreografia. Uma bailarina precisa esquecer a dor, precisa sufocar o choro quando seus pés estão lhe matando com bolhas dolorosas. Nunca devemos reclamar.
E é assim que estou ouvindo tudo calada. A Madame Morone é bem elegante, mas fica em silêncio me olhando de cima abaixo, como se procurasse algum defeito, após a Thea me apresentar a ela.
— Então, eu passo no teste, a senhora vai me contratar?
— Ela é chamativa com esses olhos e esse lindo cabelo loiro longo, mas... — esse "mas" me deixa apreensiva e, quando fico nervosa, falo sem parar...
— Diga logo, madame. Eu vou poder ser leiloada? Me diga! Me diga logo!
Ela revira os olhos e vai até uma mesa no escritório onde estamos. Ela olha para a Thea.
— Ela fala demais. Ajude-a com isso. Tem clientes que odeiam faladeiras. — Abro meu sorriso. Thea não parece nada feliz, acho que eu não deveria estar feliz.
— Ela é de menor? — pergunta a Madame Morone à Thea.
— Sim, ela só faz 18 no final do ano. — responde a Thea.
E a Madame Morone manda eu sentar numa cadeira. Eu me sento sem questionar, ela disse que eu falo demais, então, sem perguntas. Ela tira uma foto minha de rosto e depois digita algo no computador, imprime uma folha, pega uma caneta e manda eu assinar onde ela faz um X. Eu olho para a Thea porque não sei o porquê dessa assinatura.
— Felicity, com essa assinatura, você se torna uma contratada e também assina um contrato de fidelidade. Com isso, nada que acontece no quarto exclusivo teve sair dele só pode permanecer lá. O seu cliente se torna desconhecido do lado de fora do bordel, mesmo que ele passe do seu lado na rua. Ele tem que ser um desconhecido. — Sorrio com medo agora e olho mais uma vez para a Thea antes de assinar. Olho para a Madame Morone e assino meu nome e sobrenome. Ela pega a folha e sorri.
— Ótimo, pelo jeito você é dançarina como a Thea. Então, comece hoje dançando como você sabe. Vou providenciar uma identidade falsa para você, não quero ter problemas. E sobre o pagamento, 50% meu e 50% seu. Não aceito reclamações. O seu contrato é válido por um ano. Se você resolver sair, vai ter que me pagar primeiro. Amanhã, esteja aqui cedo, pois tenho um médico ginecologista que cuida das minhas garotas, pois é preciso se prevenir. Tem clientes que não usam preservativos. Dois dias antes de encantar os clientes, faço um leilão e você deixará de ser pura. Tem dois dias para deixá-los loucos. Quanto mais louco, mais eles vão oferecer.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Silvana Schuwanz bernardo
isso tá cada vez mais interessante e super ansiosa 😓 pra ver onde vai dar isso 😏
2024-12-11
3
vilma assis
falar igual a minha ela vai perder o cabaço daqui a dois dias 😂😂😂😂
2024-12-12
4
Sandra Regina
Muito bom ❤️👏
2025-01-06
1