Felicity Smokey
Levanto desse chão frio e guardo o retrato dos meus pais, olhando através dessa janela. Daqui dos dormitórios, é possível ver toda a academia. Lembro-me da primeira vez que cheguei aqui; eu só me imaginava sendo a melhor bailarina. A emoção dessa lembrança traz um misto de alegria e tristeza, pois neste lugar, sonho e realidade se entrelaçam de maneiras inesperadas. Me intristeço só de imaginar tudo que poderia ser, e sigo até a senhorita Sara, pois a competição regional será em breve e ela estava me ensaiando com sua coreografia, a mesma que a consagrou campeã, anos atrás, quando tinha a minha idade.
Corro até o estúdio, onde ela já estava se arrumando para ir embora. Entro no estúdio e, aos prantos, começo a falar sobre o responsável, que está causando toda essa confusão em minha vida. Mas sou uma tola, pois só pelo olhar da senhorita Sara percebo que aquele "riquinho idiota", como eu o chamava, estava quase sendo beijado por ela antes de eu invadir o estúdio, porque os dois estavam muito juntinhos.
O encaro com sangue nos olhos, e mesmo assim, não consigo acreditar que ele é quem eu penso. Não, isso não pode ser verdade! Ele não pode ser o meu bailarino preferido, o bailarino dos meus sonhos: o incrível "Christopher Royal". Passei a vida sonhando com ele e, sempre que imaginava dançando com um parceiro, ele era o primeiro a surgir em minha mente. E agora, ali ele estava, e todos os meus sonhos começaram a desfilar pela mente, principalmente aqueles momentos em que ele dizia que me amava durante o prêmio que ganhamos juntos. Ele é lindo, incrível, o melhor bailarino que já vi. Mas sou despertada das minhas ilusões ao ouvir suas palavras, e o encanto se desfaz ao lembrar que ele é também a razão do meu desespero.
— Felicity, não quero que fique assim. Olha, essas mudanças nem vão acontecer agora. Quero que você foque na competição regional. Querida, sei que o Christopher quer fazer essas mudanças, mas não será a partir de amanhã. Vamos pensar em algo, eu prometo — fala a senhorita Sara, me abraçando e oferecendo conforto.
Depois de me sentir um pouco mais tranquila, volto para os dormitórios, onde Thea se prepara para ir trabalhar.
— Já está indo? — pergunto, observando-a passar lápis nos olhos. Ela sempre se arruma toda linda com belos vestidos. O emprego dela exige muito mesmo, e, para ser honesta, nem sequer sei o que ela realmente faz.
— Falta uma hora ainda, mas eu queria saber como você está? — O tom de sua voz é sempre gentil, mesmo em meio a correria.
— A Senhora Leonor disse que preciso de um responsável, e claro, eu disse que tinha um, mesmo sem ter. Sou menor de idade e não tenho ninguém.
Thea me abraça com força.
— Você tem a mim! Posso ser quem você quiser e posso assinar por você — diz, sorrindo.
— Se fosse só isso... Não sei como vou pagar os outros 50% — digo, desânimada.
— Eu sabia que isso poderia acontecer um dia, por isso sempre guardei dinheiro. Se eu pudesse te ajudar, mas o que eu guardei só dá para pagar dois meses adiantados, e eu ainda vou ter que trabalhar duro para pagar os outros meses. Não posso jogar tudo isso fora — fala Thea, arrumando sua bolsa com firmeza. Enquanto a observo, uma ideia ousada surge na minha mente.
— Thea, nesse seu emprego, eles não estão contratando? — pergunto, esperançosa, sem nem mesmo saber do que se trata esse emprego.
Thea olha para mim, seu semblante demonstrando uma tristeza profunda.
— Felicity, eles sempre contratam, mas esse emprego não é para você — diz ela, a tristeza em sua voz fazendo meu coração apertar ainda mais.
— Você também acha que eu não sei fazer nada? — deixo escapar, a frustração subindo.
— Não é isso, Felicity! Eu só não quero que você passe pelo que eu passei. Eu não tive escolhas.
— E eu tenho? — choro, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Meus pais estão mortos e eu não tenho ninguém a não ser você, Thea. Eu preciso do balé, porque sem ele eu não aguento. Tudo que sempre sonhei está aqui nesta academia de dança.
Ela segura minha mão com ternura.
— Eu posso falar com a Madame Morone e ver se consigo uma vaga para você — diz, iluminando meu rosto com um sorriso. Mas então, uma sombra passa pelo olhar dela, e seu tom se torna sério.
— Mas Felicity, você precisa saber com o que eu trabalho. Eu nunca te contei porque não queria que você pensasse que eu não era digna de ser sua amiga. Eu nunca quis que me olhasse com outros olhos...
Fico confusa, sem entender o que ela realmente quer dizer. Já vi Thea com esse olhar uma vez, e foi no segundo dia que nos conhecemos, quando ela passou a noite chorando. Na época, não perguntei o motivo, mas agora, ao vê-la naquela postura, sinto que preciso entender.
— Thea, por favor, me diz o que está acontecendo. Por que você está tão preocupada em me contar sobre isso? — imploro, a sinceridade da minha pergunta pairando no ar pesado entre nós.
Ela suspira, hesitante, e por um momento, sinto que a verdade sobre seu passado e seu trabalho é muito mais complicada do que eu poderia imaginar.
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Atualizado até capítulo 73
Comments
Silvana Schuwanz bernardo
coitada da Felicity ela tinha o Christopher o seu bailarino preferido e até sonhava com ele que decepção pra ela saber que ele é quem cortou a metade da bolsa dela 😔
2024-12-11
3
Silvana Schuwanz bernardo
ai meu Deus será que ela vai aceitar esse emprego 😏
pelo que entendi esse emprego que a amiga falou não é coisa boa 😔
2024-12-11
3
Rê Tavares
Aí meu Deus, ela num vai pro bordel não né?
Pq pelo q Thea insinua é um bordel!
2024-12-11
6