Cap 04: Próximo Passo

— Então, nunca me amou, porque não há sentimento maior do que o amor — ele diz, a voz embargada, quase um sussurro.

— Está enganado — respondo, sentindo meu coração se despedaçar com cada palavra que pronuncio. — O amor e o ódio têm a mesma intensidade. Eu amo você, Diego, mas também odeio toda essa pobreza que nos cerca. O que você pode me oferecer é amor e miséria, e eu não quero isso! Sei que você nunca vai sair desse lugar. Você ama essa porcaria de povoado, ama sentar e jogar dominó com esse povo que toma tequila assim que o dia amanhece. O esforço maior que você faz é apostar na Quiniela !

As palavras saem como lâminas afiadas, cada uma cortando tanto ele quanto a mim. Lágrimas escorrem pelo meu rosto como uma cachoeira, mas eu preciso dizer isso. Preciso ser honesta, mesmo que isso destrua tudo entre nós.

Ele me encara por um momento, seus olhos revelando um misto de sentimentos que não consigo decifrar. Então, avança, agarrando meu cabelo e tomando meus lábios de forma feroz. Não há mais a calma de antes; agora é intenso. Sua mão aperta meu seio com força, e eu gosto disso, desse lado dele que nunca havia visto antes. Ele me joga na cama e me toma com força, de um jeito que é ao mesmo tempo doloroso e prazeroso. Seus movimentos são firmes, estocadas fortes que me fazem perder o controle.

— Já que vai embora, já que esse pobretão aqui não pode te oferecer nada além de amor, quero que se lembre da primeira e única noite de amor que teve comigo — ele diz, ofegante. Suas palavras são duras, mas não consigo resistir ao prazer que ele me proporciona. E, sabendo que esta será nossa última noite juntos, me entrego completamente ao momento.

— E você vai se lembrar de mim. Promete que nunca vai amar outra como me amou? Promete? — digo, forçando-o a deitar enquanto assumo o controle e fico por cima dele. Lágrimas escorrem de seus olhos enquanto ele me encara.

— Vou esquecer você, e você vai se arrepender de tudo que disse, de ter desprezado o meu amor — ele responde, sua voz carregada de dor.

— Não vai me esquecer, porque eu não vou te esquecer. Serei para sempre sua — afirmo, rebolando devagar enquanto olho dentro de seus olhos.

Ele me dá o silêncio como resposta e permanece assim durante nossa despedida, a mais louca que já existiu.

Quando tudo termina, ele veste suas roupas e parece que vai embora.

— Está indo embora? Acabei de me entregar a você, e vai embora? — pergunto, segurando seu braço, tentando buscar nos seus olhos uma explicação.

Ele para, mas não me encara imediatamente. Solta um suspiro baixo, como se escolhesse as palavras certas, mas ainda assim, não diz nada. O silêncio pesa entre nós, carregado de significados que não consigo decifrar.

— Você não se entregou para mim. Se tivesse realmente se entregado, me escolheria, faria sua carreira de psicóloga aqui mesmo e seríamos felizes — ele me encarou por um tempo. — Adeus, Estella, e quando partir, não me procure para se despedir. Já fizemos isso hoje.

Ele diz isso e sai. O som da porta se fechando ecoava no meu pequeno quarto. Agarrei o travesseiro com força, afundando meu rosto nele e chorando como uma criança. Perdi o amor da minha vida, e isso era como uma ferida aberta que não parava de sangrar. Seu adeus ecoava em minha cabeça, carregado de raiva e decepção. Mas prometi a mim mesma que faria valer a pena. Todo o meu sacrifício não seria em vão. Deixei minha dor de lado e a substituí por uma raiva fria e resoluta.

Mal preguei o olho à noite e aproveitei para fazer minhas malas. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar. Desde quando o professor comentou sobre sua possível mudança para Toronto, me preparei para ir também. Tirei meu passaporte, fiz a solicitação de um visto de eTA. Foram meses sonhando com isso, e desistir de tudo por amor está fora de cogitação. Por isso, hoje darei mais um passo, pois não será nesse maldito povoado que passarei meus últimos dias na Argentina. Peguei meu celular e disquei o número do meu querido professor. Não demorou, ele atendeu.

— Professor… Professor, por favor, me ajude — disse, chorosa, fazendo minha melhor atuação.

— O que houve, Estella? O que aconteceu? — ele perguntou, a voz carregada de preocupação. Bobinho.

— Tenho vergonha de dizer… mas, por favor, venha ao meu encontro… por favor, não tenho a quem recorrer a não ser você — disse, com a voz embargada.

— Sim, agora mesmo! Me diga onde você está — ele pediu.

— Estou naquele ponto de ônibus onde você me deixava quando me dava carona — falei, fingindo um choro.

— Tudo bem, fique tranquila. Já estou indo aí — ele disse, e assim que desliguei, peguei a mala pequena e a bolsa com meus documentos e tudo o que precisava para ir embora.

Antes de sair, olhei bem para cada canto daquele lugar, gravando tudo em minha memória, como uma lembrança para me encorajar a seguir com meus planos e ver quão miserável era minha vida ali. Quando desci os degraus, vi Noélia, uma fofoqueira intrometida que me irritava.

— Hum… vai viajar, é? Diego, também vai? — ela perguntou, parando na minha frente com um sorrisinho sarcástico.

— Não que seja da sua conta, mas vou te deixar a par de tudo o que aconteceu — dei um passo à frente, encarando-a. — Para que você possa correr e espalhar para todo esse maldito povoado, para esses pobretões infelizes como você! Estou indo embora daqui porque sou muito melhor do que vocês para viver nesse ambiente horrível. Até nunca mais. Vai, corre e conta a novidade — falei, estalando os dedos para que ela se apressasse. Ela fez uma cara de ofendida.

— Sua metida, o povoado será bem melhor sem você. Até que, enfim, Diego abriu os olhos e viu a bruxa que é você! — ela retrucou, fazendo uma careta de raiva. A encarei de cima a baixo, fazendo cara de nojo. A touca na cabeça, o avental amarrado na cintura… que visão horrível.

— Fui eu quem terminei. Agora me dá licença, até nunca mais — esbravejei, empurrando-a e passando por ela às pressas, pois precisava estar no ponto de ônibus antes que o professor chegasse.

O ponto de ônibus ficava a poucos minutos de distância do povoado. Meu coração estava quebrado, pois reconheço a dor que causei em Diego, e que talvez nunca mais o veria de novo. Respirei fundo ao passar pelo corredor que dava na rua, virei e olhei as casas com suas pinturas descascadas, as roupas estendidas nos varais que gritavam a pobreza daquele lugar.

Assim que cheguei ao ponto de ônibus, comecei a lembrar da minha despedida dolorosa com Diego. Dessa forma, o choro seria verdadeiro quando contasse a mentira para o professor. Não demorou, seu conversível parou na minha frente. Ele retirou os óculos escuros que usava e saiu do carro. Soltei a mala no chão e corri para abraçá-lo. Chorando de maneira inconsolável, suas mãos acariciaram minhas costas, tentando me consolar.

— O que aconteceu? Não chore, por favor, me diga o que aconteceu — ele murmurou enquanto me consolava.

Professor Pedro

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Comments

S.Kalks

S.Kalks

vai tmnc Tereza /Grievance//Grievance//Grievance//Grievance/

2025-03-04

1

Lany Yue

Lany Yue

eu tô Amanda cada parte, porque faz agente ficar em cima do muro as vezes, kkkk

2024-12-26

1

Sophia

Sophia

acho que ela amou, mais não o suficiente para ficar e se conformar com a realidade que ele a oferecia e é isso, na vida são feitas escolha e ela fez a dela assim como ele escolhe permanecer onde está

2025-04-01

0

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