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Capítulo 6 - Entre as Sombras e a Tempestade

Era uma tarde nublada quando Damian sugeriu que fôssemos ao bairro onde o projeto que estávamos desenvolvendo ganhava vida. Eu sabia que ele tinha seus próprios motivos para me levar até lá, algo que envolvia mais do que apenas as ideias arquitetônicas. O bairro, com sua mistura de ruínas e charme antigo, parecia refletir as partes mais obscuras de sua alma. Algo nele sempre me dizia que ele se sentia mais à vontade ali, cercado pela pobreza e pela decadência, talvez por se esconder da própria história.

— Não vai ser seguro lá, Damian — avisei, enquanto caminhávamos pela rua que nos levava até o beco mais estreito do bairro. Eu podia sentir a tensão crescente no ar, como se algo estivesse prestes a acontecer. O cheiro de fumaça, misturado com o abafado do concreto quebrado, me fazia questionar minha decisão de seguir com ele.

Damian não parecia se importar com os riscos, seu passo firme e seguro indicava que ele sabia o que estava fazendo, ou ao menos, acreditava que sabia.

— Preciso que você veja o lugar com os meus olhos, Ana. Não é só um bairro qualquer. Tem história aqui, mesmo que muitos prefiram ignorá-la.

Eu olhei ao redor, observando as paredes grafitadas, as lojas fechadas e os rostos sombrios das pessoas que passavam apressadas. Um calafrio percorreu minha espinha, mas eu sabia que não havia como voltar atrás.

Ao entrarmos em um beco estreito, as coisas começaram a se intensificar. Não havia mais turistas nem curiosos. O silêncio pesava, interrompido apenas pelo som de passos lentos e desconfortáveis. A energia do lugar era densa, carregada de algo sombrio que se enredava com a história de Damian. Eu sentia que algo estava errado, mas não sabia exatamente o que.

— Olha, isso é uma perda de tempo, Damian — disse, parando de andar, a frustração tomando conta de mim. — O que você espera que eu veja aqui? Não está claro? Esse lugar é abandonado, e você está se afundando nele!

Ele parou, virando-se lentamente para me encarar. Havia uma intensidade em seus olhos, algo que eu não tinha visto antes. Ele parecia estar perdido, desconectado da realidade à sua volta, como se aquela fosse a única maneira de lidar com as sombras do passado.

— Você não entende, Ana — respondeu, com a voz baixa, mas carregada de raiva. — Você não sabe o que é crescer aqui. Você não sabe o que é carregar esse peso, ser constantemente lembrado do que a vida te tirou.

Minha raiva e minha compreensão se misturaram, criando uma tensão palpável no ar. Mas antes que eu pudesse responder, algo mais aconteceu. Do nada, um grupo de homens apareceu na esquina do beco, suas figuras altas e ameaçadoras se aproximando rapidamente. As ameaças se tornaram palavras vazias, mas os gestos eram claros. Aqueles homens não estavam ali para uma conversa amigável.

Damian deu um passo à frente, colocando-se entre mim e os outros, e pude ver o familiar brilho de sua frustração se transformar em algo mais perigoso. Ele parecia não querer envolver ninguém mais naquela situação, mas seu olhar fixo nos homens era implacável, como se dissesse: não mexam comigo.

Eu tentei intervir, tentando afastar a situação antes que se agravasse, mas ele estava determinado a não deixar que nada acontecesse comigo. Ele não queria me expor à violência, mesmo que soubesse que a tensão estava aumentando.

— Vamos embora, Damian — falei, tentando manter a calma, mas ele não se moveu.

— Eu posso lidar com isso — ele respondeu, a voz dura, mas ainda controlada. Ele estava tentando manter a situação sob controle, sem que fosse necessário recorrer à violência, algo que ele sabia que eu não toleraria.

Os homens começaram a se aproximar mais, ainda com palavras e gestos ameaçadores, mas antes que a situação escalasse, Damian deu um passo atrás, tentando afastá-los com palavras firmes, sem levantar os punhos. Sua postura estava firme, mas havia algo na forma como ele se controlava que me fazia ver que ele estava se segurando, talvez por mim, talvez por algum outro motivo.

Finalmente, depois de alguns segundos tensos, os homens desistiram e se afastaram, murmurando algo sobre não valer a pena mexer com ele. Eu respirei fundo, aliviada, mas ainda com o coração acelerado.

Damian me olhou, seu rosto sério, mas a raiva havia diminuído. Eu podia ver o peso da frustração em seus olhos, mas ele estava aliviado por ter conseguido evitar um confronto mais violento.

— Não precisava disso, Damian — disse, ainda com raiva, mas reconhecendo que ele não queria que eu me machucasse.

Ele respirou fundo, tentando se acalmar.

— Eu sei. Não queria que isso acontecesse. Eu... Eu só... não suporto ver você em perigo.

Havia algo vulnerável em suas palavras, algo que eu não esperava. Ele sempre foi tão imponente, tão distante, mas ali, no meio daquele beco sujo, ele parecia mais humano do que nunca.

Eu olhei para ele, sem saber o que dizer. Algo em mim queria gritar com ele, dizer-lhe o quanto ele estava sendo impulsivo, mas ao mesmo tempo, eu entendia o que ele queria dizer. Ele estava tentando me proteger de uma maneira que, para ele, era natural.

— Eu... acho que você precisa começar a pensar nas consequências, Damian — disse, a raiva diminuindo, substituída por uma certa compreensão. — Não podemos nos envolver com isso toda vez. Não é o jeito certo.

Ele assentiu lentamente, mas seu olhar ainda estava distante, como se estivesse absorvendo tudo o que aconteceu de uma maneira mais profunda do que eu podia imaginar.

— Eu sei, Ana. Eu sei. E lamento. Não queria que você visse isso.

Fiquei em silêncio, sem saber o que dizer. Mas, enquanto nos afastávamos do beco e começávamos a caminhar de volta, eu sabia que as coisas entre nós não seriam mais as mesmas. Algo havia mudado, algo que nem eu nem Damian sabíamos como lidar. Mas, de alguma forma, isso só nos uniria ainda mais, mesmo que o caminho à frente fosse cheio de incertezas.

Ele não queria que eu visse o que havia por trás daquela fachada implacável. Mas, por mais que ele tentasse me afastar, eu não conseguiria deixar de desbravar os segredos que ele tentava esconder.

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