Ecos das Sombras

O corpo do homem caído aos pés de Atlas e Natrix era um lembrete sombrio de que a busca por respostas não seria fácil. O silêncio no salão subterrâneo era absoluto, exceto pelo som irregular da respiração de Atlas. Ele recuou alguns passos, ainda segurando a espada, enquanto Natrix se abaixava para observar o rosto do estranho.

— Ele estava esperando por nós — murmurou ela, os olhos dourados fixos no cadáver. — Isso não foi coincidência.

Atlas limpou a lâmina em um pedaço de pano preso ao cinto e lançou um olhar de preocupação para a princesa. — Não apenas sabia que estávamos aqui, como parecia saber exatamente quem você era. Isso significa que alguém dentro do palácio está falando demais.

Natrix levantou-se, o olhar firme, mas seus punhos cerrados traíam a tensão. — Não é só isso. Ele morreu antes que pudéssemos obter respostas. Isso sugere que quem quer que esteja por trás disso está disposto a sacrificar peões para proteger os segredos.

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Enquanto ambos processavam o ocorrido, o ambiente ao redor parecia mais pesado. O salão subterrâneo, que antes apenas parecia frio e desolado, agora parecia vivo, como se as sombras nas paredes os observassem. Atlas, sempre atento, moveu-se até a entrada e inspecionou o corredor.

A iluminação era mínima, fornecida apenas por tochas intermitentes presas às paredes de pedra bruta. Umidade pingava do teto, formando pequenas poças no chão. O ar carregava o cheiro de ferro e mofo, tornando cada respiração mais densa.

— Precisamos sair daqui antes que mais sombras apareçam — disse Atlas, a voz grave.

Natrix, porém, hesitou. — Ainda há coisas aqui que podem nos levar a respostas.

Atlas suspirou, mas cedeu. — Rápido. Quanto mais tempo ficarmos, mais arriscado será.

Ela voltou à mesa de pedra no centro da sala, onde os pergaminhos e mapas estavam espalhados. Com mãos ágeis, começou a analisar os documentos, enquanto Atlas se mantinha em guarda, os olhos varrendo cada canto.

Um dos mapas chamou a atenção de Natrix. Era uma representação detalhada do Império, mas com marcas em locais específicos. Círculos vermelhos indicavam áreas estratégicas: fortes, pontos de comércio e portos. Ao lado de cada local, havia anotações em uma caligrafia apressada, mencionando números e datas.

— Isso não é apenas sobre o palácio — disse ela, segurando o mapa para Atlas ver. — É uma conspiração que atinge todo o Império.

Atlas aproximou-se, examinando o mapa com atenção. — Se eles estão marcando áreas estratégicas, isso parece... uma preparação para um ataque.

— Ou uma invasão — completou Natrix, seu rosto se tornando mais sombrio.

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Depois de vasculharem o salão, os dois decidiram que era hora de sair. Com o mapa em mãos, subiram as escadas em espiral, os sentidos mais alertas do que nunca. Quando chegaram ao corredor superior, encontraram-no vazio, mas o silêncio parecia mais ameaçador do que acolhedor.

— Vamos para a biblioteca — disse Natrix, quebrando o silêncio.

— A biblioteca? — Atlas repetiu, franzindo o cenho. — Este não é o momento para leitura, Alteza.

— Não é apenas leitura — retrucou ela. — A biblioteca contém registros antigos e informações que podem nos ajudar a decifrar essas anotações.

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A biblioteca do palácio ficava em uma ala separada, longe dos aposentos reais. Quando chegaram, Atlas ficou momentaneamente impressionado pelo tamanho do lugar. Fileiras intermináveis de estantes de madeira escura se estendiam até o teto abobadado, preenchidas com livros de todas as cores e tamanhos. Lustres pendiam do teto, lançando uma luz suave e dourada que contrastava com o frio da pedra ao redor.

Natrix moveu-se com familiaridade pelo espaço, indo diretamente para uma mesa no centro. Ela espalhou os mapas e pergaminhos ali, enquanto Atlas permaneceu de pé, observando as entradas.

— Não sei por onde você pretende começar — disse ele, olhando para a quantidade esmagadora de livros. — Isso parece procurar uma agulha em um palheiro.

— Eu sei exatamente onde procurar — respondeu ela, com um toque de determinação.

Ela se dirigiu a uma das estantes mais altas, pegando um livro volumoso com uma capa de couro desgastada. Era um compêndio de história militar do Império, um livro que ela havia lido muitas vezes quando mais jovem.

Enquanto folheava as páginas, Natrix sentiu uma onda de nostalgia. Lembrou-se de quando costumava vir à biblioteca para fugir das pressões da corte. Sentada em uma dessas mesas, ela sonhava em explorar o mundo além dos muros do palácio, sem imaginar que acabaria enfrentando os segredos mais sombrios de seu lar.

— Aqui está — disse ela, apontando para uma passagem no livro.

Atlas aproximou-se, lendo por cima do ombro dela. O texto mencionava uma antiga rebelião que quase destruíra o Império séculos atrás. A conspiração tinha começado dentro do próprio palácio, liderada por nobres descontentes que buscavam tomar o poder.

— A história pode estar se repetindo — disse Natrix, fechando o livro.

— Ou nunca parou — murmurou Atlas, pensativo.

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Enquanto os dois discutiam, passos ecoaram na entrada da biblioteca. Atlas sacou a espada imediatamente, puxando Natrix para trás dele. Uma figura entrou no campo de visão, e por um momento, Atlas pensou que seria outro inimigo. Mas quando a luz do lustre iluminou o rosto da pessoa, ambos congelaram.

Era Seraphine, a dama de companhia de Natrix. Seus cabelos dourados estavam desalinhados, e havia um brilho de preocupação em seus olhos.

— Alteza! — exclamou ela, aproximando-se rapidamente. — Estive procurando por você em todos os lugares.

— Seraphine? — Natrix perguntou, surpresa. — Como você nos encontrou?

— Um dos guardas mencionou que viu você e seu guarda pessoal indo em direção à Ala Sombria — explicou ela, a voz tensa. — Isso é perigoso demais, mesmo para você.

Atlas trocou um olhar com Natrix, ambos cientes de que não podiam revelar tudo o que haviam descoberto.

— Eu precisava investigar algo importante — disse Natrix, com firmeza. — Não posso explicar agora, mas você precisa confiar em mim.

Seraphine hesitou, mas finalmente assentiu. — Apenas tome cuidado. Há rumores no palácio... pessoas dizendo que há espiões entre nós.

— Não apenas rumores — disse Atlas, sombrio.

Natrix segurou o braço de Seraphine, olhando nos olhos dela. — Fique perto de mim, Seraphine. Não confie em ninguém.

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Enquanto a noite caía sobre o palácio, os três permaneceram na biblioteca, tentando montar as peças do quebra-cabeça. Atlas manteve-se alerta, seus olhos constantemente voltando-se para as entradas. Seraphine ajudava Natrix a organizar os documentos, enquanto ambas trocavam ideias sobre as conexões possíveis.

Apesar de todo o trabalho, uma sensação de impotência pairava no ar. Os segredos que haviam descoberto eram apenas a ponta do iceberg, e o que estava por vir parecia maior e mais perigoso do que qualquer um deles poderia imaginar.

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