A aurora pintava o céu de Asharyn em tons de dourado e carmesim, enquanto o palácio despertava para mais um dia de tramas e segredos. Atlas estava em seus aposentos simples, a mente inquieta. Mesmo após semanas no palácio, ainda não conseguia se acostumar ao luxo que o cercava, embora sua realidade fosse muito diferente dos salões opulentos da realeza.
Ele observava pela janela o movimento no jardim abaixo. Servos corriam de um lado para o outro, carregando jarros de água e cestos de flores frescas. No centro do jardim, uma fonte de mármore branco brilhava sob a luz do sol, jorrando água cristalina em cascatas suaves. O cenário era idílico, mas para Atlas, aquilo era apenas uma distração para esconder as correntes invisíveis que prendiam todos ali, cada um à sua maneira.
O som de passos rápidos no corredor interrompeu seus pensamentos. Antes que pudesse reagir, a porta se abriu abruptamente, revelando Natrix. Ela estava vestida com um traje mais prático do que de costume — calças de couro macio e uma blusa de seda leve, embora ainda carregasse o ar de realeza. Seus cabelos estavam presos em uma trança desleixada, e os olhos dourados brilhavam com determinação.
— Vista-se, temos trabalho a fazer — disse ela sem preâmbulos.
Atlas arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços. — Bom dia para você também, Alteza.
Ela revirou os olhos, impaciente. — Não temos tempo para formalidades. Há algo que preciso investigar, e você vai me acompanhar.
— Investigar? — ele repetiu, desconfiado. — Achei que minha função fosse protegê-la, não ser seu cúmplice em... seja lá o que você está planejando.
Natrix deu um passo à frente, os olhos fixos nos dele. — Você é meu guarda pessoal, Atlas. Isso significa que vai onde eu for. E hoje, vamos até a Ala Sombria.
O nome fez Atlas hesitar. Ele ouvira os rumores sobre aquele lugar. A Ala Sombria era uma parte do palácio isolada por séculos, um labirinto de corredores que, segundo diziam, guardava segredos proibidos e perigosos.
— Por que você quer ir até lá? — perguntou ele, estreitando os olhos.
— Porque há algo acontecendo neste palácio — disse ela, a voz baixa e grave. — Algo que ninguém quer que eu descubra.
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Pouco tempo depois, os dois estavam em um dos corredores menos movimentados do palácio. Natrix caminhava à frente, liderando o caminho com passos firmes. Atlas a seguia de perto, os sentidos em alerta.
O corredor parecia interminável, as paredes adornadas com tapeçarias antigas e candelabros de ferro. À medida que avançavam, a luz natural diminuía, dando lugar ao brilho fraco das tochas. O ar estava mais frio ali, carregado com o cheiro de pedra úmida e poeira.
— Então, qual é exatamente o plano? — Atlas perguntou, quebrando o silêncio.
Natrix parou diante de uma porta pesada de madeira reforçada com ferro. Ela tirou uma pequena chave do bolso e a segurou no alto, balançando-a diante dele.
— O plano é simples: descobrimos o que estão escondendo e saímos antes que alguém perceba.
Atlas bufou. — Parece um plano terrível.
— E é por isso que você está aqui. Para garantir que nada dê errado — retrucou ela, inserindo a chave na fechadura.
Quando a porta se abriu, revelou-se um longo lance de escadas em espiral que descia para as profundezas do palácio. A luz das tochas não alcançava o fim da escadaria, mergulhando o caminho em sombras densas.
— Fantástico — murmurou Atlas. — Descemos para o abismo.
— Pare de reclamar e siga-me — disse Natrix, descendo os degraus com confiança.
Atlas não teve escolha a não ser acompanhá-la.
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Conforme desciam, a sensação de claustrofobia aumentava. As paredes pareciam fechar-se ao redor deles, e o som de seus passos ecoava assustadoramente no espaço vazio. Atlas mantinha a mão no punho da espada, atento a qualquer sinal de perigo.
Quando finalmente chegaram ao fim das escadas, encontraram um grande salão. O teto era alto, sustentado por colunas esculpidas com figuras de criaturas míticas. No centro do salão, havia uma mesa de pedra, coberta por papéis e pergaminhos espalhados de forma desordenada.
— Parece que alguém esteve ocupado aqui — comentou Atlas, aproximando-se da mesa.
Natrix começou a examinar os pergaminhos, suas sobrancelhas franzidas enquanto lia os textos. — São mapas... e registros de movimentação de tropas.
— Tão profundo no palácio? Isso é estranho — disse Atlas, olhando ao redor. — Quem teria acesso a um lugar como este?
Antes que Natrix pudesse responder, o som de passos ecoou pelo corredor atrás deles.
— Estamos sendo seguidos — sussurrou Atlas, puxando a espada.
Natrix apagou a tocha que segurava, mergulhando o salão na escuridão. Atlas sentiu a tensão no ar aumentar, seu coração batendo como um tambor enquanto os passos ficavam mais próximos.
Uma silhueta surgiu na entrada do salão, iluminada por uma luz fraca. Era um homem alto, vestido com um manto negro e carregando uma adaga brilhante na mão.
— Então é aqui que a princesa curiosa se esconde — disse o homem, sua voz gélida.
Natrix não hesitou. — Quem é você? E o que está fazendo neste lugar?
O homem riu, um som frio e cortante. — Eu deveria perguntar o mesmo.
Antes que pudesse dizer mais, Atlas avançou. Ele atacou com precisão, obrigando o homem a recuar. O som de metal contra metal ecoou pelo salão enquanto eles lutavam.
Natrix assistia, seu coração acelerado. Embora confiasse nas habilidades de Atlas, não podia ignorar a sensação de que algo muito maior estava em jogo ali.
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Após uma luta intensa, Atlas conseguiu desarmar o homem. Ele pressionou a ponta da espada contra o peito do oponente, que levantou as mãos em rendição.
— Quem é você? — perguntou Atlas, a voz baixa e perigosa.
O homem sorriu, mesmo em derrota. — Apenas uma sombra entre muitas.
Antes que pudesse dizer mais, ele mordeu algo escondido em sua boca. Em segundos, estava morto.
Atlas ficou parado, ofegante, enquanto Natrix se aproximava.
— Isso não foi uma coincidência — disse ela, olhando para o corpo caído.
— Definitivamente, não — respondeu Atlas. — Acho que você estava certa. Algo está acontecendo neste palácio.
E naquele momento, ambos souberam que estavam envolvidos em algo muito maior do que esperavam.
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Atualizado até capítulo 35
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