5 Tão Longe de Casa.

Voltamos para casa, e, como sempre, eu me surpreendia com a beleza daquele lugar. Era impossível não me encantar com os campos verdes que se estendiam pelo horizonte, emoldurando casas grandes e elegantes, cada uma com suas cores em tons pastéis. O ônibus escolar seguia seu trajeto, contornando o campo e parando em cada casa para deixar as crianças. As mães, com sorrisos calorosos, corriam para receber os filhos, abraçando-os e cobrindo-os de beijos.

A casa dos Mileys era, sem dúvida, a maior de todas. Havia algo acolhedor naquela bagunça organizada, no caos harmônico de uma família tão grande. Assim que entramos, a algazarra já tomava conta. As crianças mais novas corriam pelos corredores, enquanto Andreus estava na cozinha, arrumando a mesa para o jantar. Era curioso vê-lo sendo chamado de "pai" por todos os garotos, como se fosse uma espécie de líder da matilha. Quando passei por ele, tentei um "Oi" animado. Fui recompensada com um sorriso caloroso, daqueles que fazem você se sentir, ainda que brevemente, parte de algo maior.

Subi as escadas em direção ao meu quarto. As malas ainda estavam no mesmo lugar onde as deixei no dia da mudança. Vasculhei-as em busca dos meus produtos de banho. Felizmente, não foi tão difícil encontrá-los quanto imaginei. Entrei no banheiro, onde a água quente me trouxe um breve momento de paz. Após o banho, vesti uma roupa leve, mas assim que abri a porta, quase gritei. Geremias estava parado ali, me encarando com os olhos arregalados.

— Papai disse pra você descer e comer! Eu fiquei te esperando, sabia? Como você demora! — Ele cruzou os braços, claramente indignado. — Agora perdi metade do jogo por sua culpa. O Luke já deve ter pego meu lugar. Isso é um absurdo!

— Tá bom, Geremias, já entendi. Obrigada pelo aviso. — Cortei, revirando os olhos diante do falatório interminável.

Peguei minhas coisas e fui guardá-las no armário, mas o pequeno diabinho me seguiu, balbuciando algo que decidi ignorar. Até que ouvi sua voz de surpresa:

— O que é isso? — Me virei imediatamente, já sabendo que ele estava mexendo onde não devia. Em sua mão estava um dos meus absorventes.

— Geremias, coloca isso de volta agora! — Exclamei, tentando manter a calma.

Mas ele sorriu, aquele sorriso travesso que fazia qualquer um querer sumir.

— O que é? — perguntou, com um brilho sapeca nos olhos. E, antes que eu pudesse responder, ele gritou: — GREGORY! OLHA O QUE EU ACHEI!

Meu coração gelou. Ele disparou corredor afora com o absorvente em mãos, e eu não pensei duas vezes: saí correndo atrás dele.

— EI! NÃO MEXE NAS MINHAS COISAS! — gritei, enquanto ele desviava de tudo com a habilidade de quem já tinha experiência em causar caos. Eu, por outro lado, tropeçava nos móveis, batia nas paredes, e só piorava a situação.

— Olha, Gregy! — Geremias gritou, parando na sala onde Gregory estava. — A Lara usa fralda!

Fiquei incrédula. Fralda? O que ele estava dizendo? Gregory olhou para o absorvente e, em seguida, explodiu em uma gargalhada.

— Ah, seu moleque! — rosnei, avançando para pegar o objeto da mão dele. Gregory abriu um sorriso zombeteiro e Geremias, encorajado, ergueu as sobrancelhas e gritou mais alto:

— A Lara usa FRAUUUUDAAAA!

Nessa hora, considerei seriamente dar uns tapas nele. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Luke apareceu do nada e deu um tapa na cabeça do pequeno.

— Ai! — reclamou Geremias, esfregando o local.

— Se a mamãe souber disso, todos nós estamos ferrados — murmurou Luke, cruzando os braços.

— Você não pode me bater! — protestou Geremias, irritado.

— Cala a boca — Luke respondeu sem cerimônia, e o pequeno se virou para mim com um olhar travesso, como se soubesse que tinha saído impune.

Aproveitei a pausa para me abaixar e encarar Geremias. Fiz a única coisa que ele definitivamente não esperava: mostrei a língua, infantilmente. Antes que ele pudesse reagir, corri de volta para o meu quarto, deixando-o reclamando alto enquanto Luke tentava acalmá-lo.

Naquele momento, enquanto me trancava no quarto, percebi que viver com nove garotos seria muito mais desafiador do que qualquer coisa que eu imaginasse.

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