4 Tão Longe de Casa.

A aula parecia não acabar nunca. O relógio na parede avançava num ritmo cruel, e a voz do professor parecia uma canção de ninar que lutava para me fazer dormir. À minha esquerda, Jonathan — ou Jonan, como todo mundo o chamava — se virava para mim de vez em quando, tentando puxar assunto. Ele era do tipo que sabia fazer qualquer situação parecer mais leve. Entre piadas e comentários sussurrados, ele conseguia me arrancar algumas risadas.

Na frente, Megan também participava das conversas, virando-se para trás de tempos em tempos. Ela tinha aquele jeito animado que fazia parecer que nem mesmo uma aula interminável conseguia tirar sua energia. Mas, mesmo com os dois, a aula continuava entediante.

Quando finalmente o sinal para o intervalo tocou, deixei que meus colegas se levantassem primeiro e os segui, ainda espreguiçando os braços. Assim que passei pela porta, senti um braço envolver meus ombros.

— E aí, o que está achando? — perguntou Luke, um sorriso fácil nos lábios.

Espremi um sorriso, tentando parecer mais animada do que realmente estava.

— Entediante! — confessei.

Ele soltou uma risada curta.

— Não é tão chato assim, né, Megan? — Ele se virou para ela.

Megan apenas sorriu, balançando a cabeça em negação. Seus cabelos longos e brilhantes dançaram com o movimento.

— Na verdade, até que chega a ser divertido — disse ela.

— E você está fazendo sucesso — acrescentou Jonan, com um sorriso travesso.

Ri pelo comentário. “Fazendo sucesso” não era bem o que eu chamaria de sobreviver ao meu primeiro dia em uma escola nova.

Enquanto caminhávamos pelo corredor, conversando, logo chegamos ao refeitório. O espaço era grande, barulhento, cheio de vozes e risadas. Cada grupo parecia ter sua mesa marcada — uma espécie de território não declarado. Os garotos do nosso grupo acenaram para Luke, indicando onde estavam.

— Senta comigo? — pediu ele, seus olhos escuros fixos nos meus.

Olhei na direção da mesa. Não era exatamente o tipo de lugar onde eu me sentia à vontade, mas o brilho nos olhos dele, algo entre divertido e suplicante, me lembrou o Gato de Botas no filme do Shrek.

— Por favor — sussurrou ele, quase teatral.

Suspirei, cedendo.

— Tá bom.

Peguei minha bandeja e me despedi de Megan e Jonan antes de seguir Luke até a mesa cheia de garotos e garotas. Não parecia haver muitas regras por ali. Na ponta, uma menina brincava com os cabelos de um rapaz moreno, enquanto outros garotos riam e comiam salgadinhos que claramente não eram da cantina.

Sentei ao lado de Luke, sentindo o peso dos olhares que se voltaram para mim. Meu estômago deu um nó, e naquele momento me arrependi de ter pegado comida.

— Olha só, temos companhia de primeira — disse Noah, com um sorriso simpático.

Sorri de volta, numa tentativa de parecer educada, mas sem dizer nada.

— Por que não conta por que veio pra cá? — perguntou Mike, com um sorriso que parecia inocente, mas tinha algo de afiado. — Sei que essa escola é famosa, e que mora com uns cara bonitões, mas deve ter um motivo maior.

A pergunta caiu como uma pedra. Meu coração acelerou, e senti meu rosto esquentar. Abri a boca para responder, mas nada saiu além de um "é..." prolongado.

— Que tipo de pergunta é essa? — Luke interrompeu, rindo, me salvando do desconforto.

Mike deu de ombros, e os outros riram, como se aquilo fosse normal. Mas a tensão ainda ficou pairando no ar para mim. Eu baixei os olhos para a comida e brinquei com o garfo, desejando que o intervalo acabasse logo.

Depois do intervalo, a escola parecia mais barulhenta. Os corredores vibravam com conversas animadas, risadas e passos apressados. Quando o sinal tocou novamente, retornei à sala com Megan e Jonan, que continuavam com suas piadas e brincadeiras.

A primeira aula pós-recreio era história, ministrada por uma professora baixinha com óculos que insistiam em escorregar pelo nariz. Apesar de parecer tranquila, havia algo na voz dela que capturava a atenção da sala.

— Hoje vamos falar sobre revoluções. Mas antes disso, quero saber: o que vocês fariam para mudar algo no mundo que os incomoda? — perguntou, deixando a pergunta no ar como quem lança um desafio.

Alguns alunos se mexeram desconfortáveis. Outros pareciam realmente pensar no assunto.

— Eu aumentaria as férias escolares — disse um garoto da fileira do fundo, arrancando risadas da turma.

A professora ergueu uma sobrancelha.

— Não é exatamente o tipo de revolução que eu tinha em mente, mas aprecio o entusiasmo.

Levantei a mão, hesitante, sentindo os olhos dos outros se voltarem para mim.

— Eu acho que daria mais oportunidades para as pessoas estudarem e se prepararem para o futuro.

Ela me olhou por um momento, como se analisasse minha resposta, e depois sorriu.

— Ótima ideia, Lara. As melhores revoluções começam com educação.

Apesar de sentir o rosto esquentar, foi bom receber o reconhecimento. Durante o restante da aula, falamos sobre movimentos históricos que mudaram o mundo. Jonan fez alguns comentários engraçados sobre como ele seria "um revolucionário desajeitado", e Megan parecia genuinamente interessada em cada detalhe. A aula passou mais rápido do que eu esperava.

A segunda aula foi de ciências, e o professor tinha uma energia completamente oposta. Alto e de cabelos bagunçados, ele parecia estar sempre a um passo de explodir em alguma ideia.

— O que mantém o universo unido? — perguntou ele logo de cara, sem sequer se apresentar direito.

A sala ficou em silêncio, os alunos trocando olhares confusos.

— Gravidade? — arriscou Megan.

Ele apontou para ela como se estivesse avaliando sua resposta.

— Não está errado, mas também não está totalmente certo. É a curiosidade que mantém tudo unido.

A afirmação dele deixou todos confusos, mas ninguém ousou questioná-lo. A aula foi uma mistura de experimentos com magnetismo, vídeos sobre nebulosas e piadas inesperadas. Em um momento, ele até puxou um ímã enorme de dentro da mesa e começou a testar objetos da sala para ver quais eram atraídos.

— Vocês sabiam que, em teoria, até o seu corpo é levemente magnético? — perguntou ele, olhando diretamente para mim.

— Sério? — perguntei, tentando esconder a surpresa.

— Absolutamente! Mas, para sentir alguma diferença, precisaria de um ímã do tamanho de um planeta.

O comentário arrancou risadas da sala. Mesmo sem entender completamente algumas coisas que ele falava, o entusiasmo do professor era contagiante. Quando o sinal finalmente tocou, fiquei surpresa por perceber que as duas aulas haviam passado tão rápido.

Saí da sala com Jonan e Megan, rindo de uma piada que o professor tinha contado no final. Por um momento, me permiti esquecer dos problemas que me trouxeram para cá. Talvez, só talvez, essa escola não fosse tão ruim quanto eu pensava.

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