Conhecendo os vizinhos

Sarah vai à portaria do prédio e pede para falar com o síndico. Ela está chateada e muito importunada com o barulho da reforma do apartamento vizinho. Tudo indica que é uma obra interminável e que eles estão reconstruindo o imóvel.

O Porteiro avisa ao síndico que ela o procura e enquanto aguarda a sua vez para entrar no escritório de administração do prédio, o homem, muito conversado, lhe fala:

__ É a respeito dos pedreiros no apartamento 101\, não é mesmo? Outros vizinhos já reclamaram\, mas para a senhora deve ser pior\, é bem ao lado e estão fazendo um poeirão\, quebrando paredes e reformando o quarto do famoso arquiteto que está se mudando para cá\, em poucos dias. Por isso eles\, trabalham dia e noite. __ Sarah acena com a cabeça e um sorriso tosco\, confirmando e tentando entender tudo o que ele fala\, já que fala muito rápido e tem um linguajar diferenciado.

__ O senhor não é daqui\, não é mesmo? __ Ela fala com simpatia.

__ Não\, eu vim do nordeste há uns três anos\, mas ainda não me adaptei. __ Ele fala\, abrindo a porta para ela entrar no escritório. Mas\, antes\, ela o responde:

__ Amo o nordeste\, pretendo ir em breve na região nordestina\, muito inspirador\, adoro! __ O homem sorri e fica todo feliz por ela elogiar a sua terra.

O síndico, ao vê-la, não sabe como agir e sorrindo lhe oferece um lugar para sentar-se e lhe oferece água, café e uns bolinhos. O que ela aceita tudo para não fazer desfeita e também começar um processo de amizade com a vizinhança, já que ela ainda não teve contato com muitas pessoas do condomínio, por passar tempo demais presa no seu apartamento.

__ Eu não quero incomodar\, mas preciso\, por gentileza\, pedir para fazerem menos barulho no apartamento 101. Está me enlouquecendo e eu não consigo trabalhar. O senhor sabe que eu faço pinturas e com a poeira e o barulho intenso\, eu não consigo me concentrar. __ Ela fala enquanto se delicia com alguns bolinhos oferecido pelo simpático síndico e o atencioso porteiro.

__ Darei um jeito, peço a senhora que tenha só mais um pouquinho de paciência, ligarei para o proprietário e pedirei encarecidamente que trabalhem somente no horário comercial e que façam menos barulho possível.

__ Não precisa me chamar de senhora\, por favor! Sem formalidades. Somente Sarah! __ Ela pede carinhosamente e os homens ficam eufóricos com a intimidade de podê-la chamar pelo nome.

__ Então me chame por André e o nosso porteiro é o Francisco\, qualquer coisa que precisar\, é só me chamar que estarei à sua disposição. __ Eles se tornam verdadeiros fãs da artista e ficam com cara de bobos. Ela sai sorridente e agradece a atenção.

Entrando no elevador, duas mulheres a observam e por ser alta, um corpo esbelto e vestida com um moletom simples, parecendo alguém necessitada, a deixam sem graça, o que a leva a dar um sorriso discreto. Uma das mulheres diz:

__ Você se mudou para cá a puco tempo, se precisar de alguma coisa, eu moro no 203, o meu nome é Cida.

__ Agradeço\, se precisar\, com certeza eu bato lá. __ Sarah jamais esperou esse gesto de uma pessoa desconhecida.

__ O meu apartamento é o 304\, moro sozinha\, mas pode bater lá a qualquer hora que estou sempre em casa fazendo crochê\, eu me chamo Júlia. __ Sarah agradece e percebe que a mulher é ainda muito nova para viver num apartamento\, tricotando.

Chegando em casa, ela pensa nas duas mulheres e se pergunta: __ Ficarei desse jeito? Serei como elas, trancafiadas num espaço pequeno, sozinha e fazendo artesanato? Não posso acreditar que este seja o emu fim!

Em um estalo, ela liga para Otávio e para Beth e os chamam para uma reunião. Em poucas horas, o casal se apresenta como militantes a sua causa.

__ Diva\, diga qual é o seu plano e o que podemos fazer por você? __ Otávio pergunta\, antes mesmo de passar pela porta.

__ Vamos viajar! Preciso buscar inspiração em algum lugar. Encontrem um lugar bonito, junto a natureza que tenha paz, cachoeira e muitos pássaros. Assim dará tempo para terminarem essa obra aqui do lado e posso criar alguma coisa na minha mente e quando voltar, pintarei a coleção para a bienal.