Atiro bem no meio da testa do desgraçado, sem hesitar. O som ecoa pelo galpão vazio, mas minha expressão não muda. Guardando a arma no coldre, viro-me calmamente. Quem ousa me trair sempre acaba conhecendo o diabo pessoalmente, e eu sou mais que um intermediário para isso.
Tiro o lenço do bolso e limpo as mãos, um gesto quase teatral, já que não há sujeira para remover. Deixo o corpo ali mesmo. Alguém dará um jeito mais tarde. Subo as escadas de metal, assobiando uma melodia qualquer, e saio para o jardim.
Quem olha para essa propriedade à distância, com seus jardins impecáveis e arquitetura clássica, jamais imaginaria que é uma fortaleza. Segurança reforçada é uma prioridade. Tenho homens armados na entrada, mas o verdadeiro trunfo são os disfarçados. Jardineiros, motoristas, até o rapaz que limpa a piscina: todos preparados para agir a qualquer sinal de perigo.
Caminho até meu carro, o reflexo da manhã brilhando na pintura impecável da Range Rover. Ainda é cedo, mas já tenho compromissos na empresa.
Enquanto destravo as portas, ouço o ronco de um motor se aproximando. Fabrizio estaciona seu carro esportivo com a precisão de quem sabe que nasceu para esse tipo de luxo. Ele sai do veículo ajustando os óculos de sol, que logo retira, revelando os olhos azuis penetrantes que são praticamente uma marca registrada da nossa família.
Olhos azuis. É a genética mais forte herdada de Donatella, nossa mãe. Graças a ela, todos nós carregamos esse traço que sempre chama atenção.
— Onde você estava o fim de semana inteiro? — pergunto, observando meu irmão enquanto ele se aproxima.
— No cassino — responde com indiferença, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— E os negócios? — continuo, enquanto ele para ao meu lado.
— Melhor do que esperávamos. Mas voltei porque preciso ir à empresa daqui a pouco.
— Eu também — digo, destravando as portas da Range Rover.
Entro no carro e ligo o motor. Fabrizio me lança um último olhar antes de seguir para dentro da mansão. Saio pelos portões, acompanhado de perto por um carro de seguranças que mantém a distância exata. É apenas mais uma manhã normal na rotina de um Salvatore.
Dirijo até a Salvatore’s ao som de uma música aleatória no rádio. Não faço ideia de quem está cantando, e sinceramente, nem me importa. A melodia preenche o silêncio e me mantém ocupado enquanto minha mente vagueia pelos compromissos do dia.
Assim que chego em frente ao imponente prédio de vinte andares, paro o carro na entrada principal. Um dos choferes está à espera e entrego as chaves sem sequer olhar para trás, já entrando no edifício.
Meu cartão VIP desliza suavemente no leitor, liberando o acesso ao elevador presidencial. As portas se fecham, e durante os poucos segundos de subida, permito-me um breve momento de silêncio. Logo as portas se abrem no andar mais alto, onde fica meu escritório.
— Bom dia, senhor Salvatore! — Louise, minha secretária, me cumprimenta com um entusiasmo quase desconcertante.
Ela está alegre, como sempre. O tipo de pessoa que consegue fazer a manhã de segunda-feira parecer um sábado ensolarado. Não consigo entender como alguém pode ter tanto bom humor tão cedo, especialmente considerando que meu dia começou com um corpo a mais na minha lista de problemas.
— Bom dia, Louise. O que temos para hoje? — pergunto, mantendo a voz neutra enquanto caminho até minha sala.
Louise segue ao meu lado, equilibrando uma prancheta e um tablet, pronta para listar cada detalhe da agenda. Ela é eficiente, prática, e apesar do otimismo quase irritante, é indispensável.
Assim que entro no escritório, a vista panorâmica da cidade me recebe.
— Ah, e a senhorita Nathalie ligou. Disse que fechou todos os contratos com os japoneses e que vai prolongar a viagem para a América do Sul, Argentina.
— Ela levou os seguranças, né?
— Com certeza. Nenhum deles ligou reclamando que foi deixado plantado no aeroporto.
— Ótimo.
Nathalie provavelmente já visitou os 193 países do mundo. Ela ama viajar. Louise saiu da sala, e no instante seguinte Leonardo entrou.
Leo é meu amigo desde os 13 anos. Sua mãe e a minha se tornaram amigas quando a família dele se mudou para o nosso antigo bairro. Ele é três anos mais novo que eu, mas isso nunca fez diferença. Crescemos como irmãos. Hoje, ele é piloto e está sempre pronto para me ajudar em qualquer coisa que eu precise.
— Ei, vamos ao cassino hoje? — perguntou ele, sem cerimônia.
— Confirmadíssimo.
— Mas é pra jogar, não pra ficar dando mole pras garotas de lá.
— Eu nem preciso — respondi ele com um sorriso convencido. — Tenho uma agenda que, com um telefonema, me garante as melhores companhias.
— Melhores companhias tipo... Camille Spencer? – ele perguntou.
Ele soltou uma risada curta, mas a provocação na sua voz foi suficiente para cortar o ar. Eu sabia que, ao mencionar Camille, a conversa mudaria de rumo.
Leonardo arqueou a sobrancelha, intrigado.
— Quem sabe...
— Afinal, parece que o número dela tá gravado na sua cabeça, hein?
Não respondi, mas o silêncio disse tudo.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Simone Silva
parabéns autora pelo seu livro ❤️ por favor colocar mais capítulos quando você puder ❤️ ❤️
2024-11-20
1
Rita do Socorro Caldas Silva
Estou gostando
2024-12-29
1