Capítulo 17

Gerard caminhava com passos lentos, seu olhar fixo em Helena, que o aguardava com a intensidade de quem sabia que estava prestes a se perder. Ele sentia seu coração apertar, embora já estivesse morto. A pulsação acelerada de Helena, a respiração ofegante e a suavidade de sua pele quente eram como um eco distante de algo que ele perdera há muito tempo.

Mas, ao se aproximar dela, uma memória atravessou sua mente, rasgando a fachada de controle que ele mantinha há séculos. Foi como uma lâmina afiada cortando sua alma imortal. A imagem de outra mulher se sobrepôs à de Helena: uma jovem de cabelos escuros e olhos brilhantes, tão vivos, tão humanos. Seu nome era Simone.

Gerard se lembrava da época em que era um simples jovem de família nobre, mas sem os privilégios dos mais ricos. Simone era filha de uma empregada da família, uma jovem com uma beleza inusitada que irradiava de dentro para fora. Eles se conheciam desde crianças, suas almas entrelaçadas de uma forma simples, mas profunda.

Mas, naquela época, a sociedade e as convenções sociais eram implacáveis. Ele não podia sair com ela, pois o amor que sentia por Simone era algo proibido, condenado pelas barreiras de classe que a separavam.

O peso daquilo pesava em sua memória, mas o que o destruía, o que o dilacerava por dentro, era a lembrança de como, quando se tornou vampiro, algo dentro dele se soltou. Algo de animal, algo imortal, que ele não soubera controlar.

A noite em que Simone morrera era vívida em sua mente, como se tivesse acontecido ontem. Ele a encontrou em uma festa de casamento assim que voltou de New Orleans, onde ela estava trabalhando, ela vestida em um simples uniforme, com seus olhos brilhando, como sempre, com uma alegria que ele não podia mais dar. Ele a puxou para um canto, desesperado por sentir algo humano novamente.

Quando ela o olhou com aqueles olhos cheios de confiança e carinho, ele, inconscientemente, a abraçou com força demais.

Mas ele não soubera a força de seu novo corpo. O pescoço de Simone estalou sob a pressão de seus braços, e antes que ele pudesse perceber, ela estava morta.

Agora, de volta ao presente, com Helena diante dele, ele podia sentir a mesma sensação de desespero, mas não podia evitar pensar naquilo que se tornara ao longo dos anos. Um monstro que destruíra o que mais amava sem querer.

Gerard:

"Helena..."

Gerard continuou, em sussurros:

Gerard:

"Você não sabe o que está pedindo. Quando me tornei isso, eu perdi tudo. Eu perdi a minha humanidade, e com ela, tudo o que poderia ter sido. Até o meu amor, o único que realmente importava. Eu não posso... Eu não posso fazer isso com você."

Helena, de olhos fixos nele, não entendia. Ela via apenas o que queria ver: a chance de uma nova vida,a chance de se vingar, e de ser acima de tudo jovem e imortal.

Mas Gerard estava ali, diante dela, lutando contra os fantasmas do passado, contra o peso da culpa que não o deixava respirar.

Ele recuou um passo, o ar se tornando denso entre eles.

Helena o observava, e naquele momento, viu mais do que a força de um vampiro. Viu a fragilidade de um homem que havia perdido sua própria humanidade há muito tempo.

Helena, ainda tomada por sua vontade, deu um passo à frente.

Helena:

"Eu sei o que sou. Sei o que estou pedindo. E eu aceito."

Mas, no fundo, Gerard sabia que, mesmo que Helena o desejasse, ele estava prestes a fazer a coisa mais sombria e irrevogável. Ele estava prestes a condená-la ao mesmo destino que havia destruído sua própria alma.

Com um suspiro pesado, ele tocou o rosto de Helena.

Gerard:

“Eu vou te transformar, Helena. Mas saiba... que parte de mim se perderá com isso. Eu nunca poderei ser quem você pensa que eu sou. Nunca poderei te dar a paz que você busca."

Ela não hesitou. Ela queria ser dele, não importava o que ele dissesse. Mas Gerard sabia que, ao fazê-la vampira, ele estaria apenas repetindo seu erro. E isso, no fim, o devastaria mais uma vez.

Gerard pensou por um instante, antes de cravar os dentes em Helena.

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